Apresentação:
No Brasil, o Programa Saúde na Escola (PSE) foi instituído em 5 de dezembro de 2007 através do Decreto n° 6.286 e consiste em uma iniciativa intersetorial do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação, por meio da articulação entre Profissionais da Saúde da Atenção Primária, Profissionais da Educação e Estudantes da Rede Pública. Esse programa contribui para o desenvolvimento e ensino desses estudantes por meio da educação em saúde.
A educação em saúde é um processo educativo de construção de conhecimentos que visa à apropriação temática da saúde individual e coletiva pela população. Nesse sentido, essa ação objetivou desenvolver o senso crítico e a responsabilidade nas pessoas, como indivíduo, membro de uma família e de uma comunidade. Ademais, algumas finalidades do projeto são promover a autonomia das pessoas por meio do autocuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades, já possuindo um conhecimento prévio.
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de uma ação de educação em saúde sexual e reprodutiva destinada a estudantes na faixa de idade de 10 à 14 anos, e tem como objetivo relatar a experiência das discentes da graduação de enfermagem durante essa atividade do componente curricular Unidade do Cuidado de Enfermagem II, uma disciplina obrigatória do currículo.
Desenvolvimento do trabalho:
Trabalho descritivo, de abordagem crítico-reflexiva, que relata a experiência de discentes de enfermagem, durante uma atividade de Educação em Saúde, através do Programa Saúde na Escola. Essa experiência foi realizada na prática supervisionada do segundo semestre em uma Escola da Rede Pública de Ensino do Rio Grande do Sul. Em um primeiro momento, as discentes realizaram uma visita à escola para definir com a coordenação qual seria a temática a ser abordada de acordo com as necessidades. Assim, foi definido o tema: Saúde Sexual e Reprodutiva e Prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s). Em um segundo momento, foi elaborado um plano de trabalho que foi repassado e aprovado pela coordenação da escola e, assim, foi marcado um dia para a realização da atividade.
O plano de trabalho utilizado para a realização desta atividade foi composto por duas partes: uma expositiva, a qual foi realizada por meio de uma apresentação de slides em que foram apresentados os conceitos de relação sexual, sexualidade, anatomia dos órgãos genitais, autoconhecimento, autocuidado, infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), prevenção da gravidez na adolescência, métodos contraceptivos, e a segunda parte interativa, sendo abordada por uma caixa de perguntas anônimas que foi deixada previamente na escola e um “quiz” de verdadeiro ou falso em que a turma foi dividida em dois grupos. Ao fim do quiz, o grupo que mais fizesse acertos, ganharia balas de iogurte como premiação.
Resultado:
O presente trabalho foi apresentado pelas acadêmicas de enfermagem em uma tarde numa sala de aula de uma escola da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul. Inicialmente, os estudantes apresentaram-se surpresos, com receio e com desconhecimento em relação à temática exposta. Contudo, com o passar do tempo, eles foram demonstrando mais segurança, tranquilidade para participar, esclarecer dúvidas e, assim, todos participaram da dinâmica.
O principal motivo dessas atividades foi possibilitar o acesso à informação de qualidade e ao aprendizado sobre saúde sexual e reprodutiva para que os estudantes tivessem condições de reconhecer as situações que poderiam colocar sua saúde em risco. Além disso, buscou-se proporcionar autonomia, autocuidado e autoconhecimento a fim de evitar futuros agravos, bem como foi incentivado a busca de vínculo com a Unidade Básica de Saúde (UBS) e todas as possibilidades de prevenção acessíveis no serviço de saúde, em relação aos assuntos discutidos, sendo esses, anticoncepcionais, testes rápidos de IST’s, exames ginecológicos e preservativos feminino e masculino.
Nesse sentido, durante a exposição, as discentes procuraram utilizar uma linguagem coloquial e clara, buscando se aproximar da linguagem utilizada pelos jovens, bem como promover conforto para que eles se sentissem à vontade para participar das atividades propostas e tirarem dúvidas. Ao final da atividade, o “quiz” realizado teve todas as respostas respondidas corretamente, ocasionando um empate em que ambos os grupos foram premiados com balas de iogurte.
Ao término da atividade, o sentimento das discentes foi de gratidão e satisfação frente à dinâmica, uma vez que houve troca mútua de conhecimento e adesão ao que foi proposto. Outrossim, foi evidenciado nas discentes um alcance das expectativas da ação, no qual percebeu-se a criação de um espaço seguro para ambas as partes. Além disso, promoveu-se a aproximação entre o ambiente escolar com a unidade básica de saúde do território, o qual encontrava-se distante, principalmente considerando o afastamento resultante da pandemia.
Ademais, obteve-se os seguintes resultados com a ação: esclarecimento de conceitos relacionados à sexualidade e a relação sexual; desconstrução de tabus; incentivo e instrução para realização do autoconhecimento e do autocuidado; esclarecimento acerca dos métodos de prevenção de gravidez; disseminação de informações acerca das IST's, testes rápidos e métodos de prevenção; foi despertado o surgimento de dúvidas relacionadas ao tema exposto; e incentivo a participação dos alunos. Assim, foi evidenciado um aprendizado multifatorial nos quesitos de comunicação, pesquisa, receptividade, informação e trabalho em grupo.
Considerações finais:
Essa dinâmica possibilitou uma aproximação do ambiente escolar com a equipe de saúde da atenção primária através de uma ação enriquecedora para as duas partes envolvidas, visto que os resultados foram promissores e, assim, atingiram todos os objetivos do trabalho. Nesse contexto, as discentes sentiram-se encorajadas a realizar essas atividades mais vezes, durante e após a formação, a fim de proporcionar experiências positivas e criação de vínculos com a comunidade.
Além disso, essas atividades promovem impactos significativos no aprendizado dos discentes da saúde e estudantes do ensino fundamental. Nesse contexto, especialmente em tópicos como a comunicação e informação, foi buscado uma transparência durante a parte expositiva e interativa que possibilitou entendimento e aprendizado entre as partes e resultou numa segurança e tranquilidade por parte dos estudantes, visto que os mesmos demonstraram sentirem-se acolhidos para elucidar suas dúvidas e também para acrescentarem nas atividades realizadas.
Do ponto de vista das discentes de enfermagem, ações como essa possibilitam uma diversificada faixa de experiências e aprendizados como futuras profissionais da saúde na medida em que promovem uma aproximação com a comunidade do território adscrito. Desse modo, vale ressaltar o incentivo a estudos e mais execuções de ações de educação em saúde com dinâmicas semelhantes a fim de continuar atingindo os objetivos apresentados nesse trabalho.