Apresentação: A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde em 2001, busca promover uma assistência centrada na integralidade do indivíduo, considerando suas incapacidades e potencialidades através de uma perspectiva biopsicossocial. A partir disso, essa ferramenta pode ser utilizada por uma equipe multiprofissional que se encontra apta a percorrer caminhos transdisciplinares para desenvolver uma avaliação ampliada de saúde com os pacientes. No contexto da saúde do trabalhador, a CIF pode ser usada para avaliar e descrever o impacto da saúde nas habilidades e capacidades de uma pessoa para realizar seu trabalho. Ela pode ser aplicada para avaliar não apenas as condições físicas de trabalho, mas também os aspectos psicológicos e sociais que afetam a saúde e a capacidade de trabalhar. Ademais, essa ferramenta também contribui para a identificação de fatores que podem levar à incapacidade laboral, bem como, para o desenvolvimento de intervenções nessa temática a partir de melhores condições de saúde e de trabalho dos empregados e empregadores. Além disso, a CIF também é considerada uma tecnologia em saúde, em decorrência do seu uso na avaliação biopsicossocial, na eficácia das intervenções propostas e nas políticas/programas em saúde, especialmente no ambiente laboral. Dessa forma, as tecnologias em saúde surgem como ferramentas para promover a qualidade da assistência ao paciente, através de soluções ou atenuação de problemas enfrentados pela população. Assim, as tecnologias em saúde não podem ser reduzidas a inventos robóticos, softwares de ponta (tecnologias duras), mas também associadas ao vínculo com o paciente (tecnologias leves), juntamente com os conhecimentos científicos dos profissionais durante a assistência (tecnologias leve-duras). Objetiva-se, assim, sistematizar as produções científicas relacionadas às tecnologias na assistência em saúde do trabalhador, utilizando a CIF. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo originado a partir do levantamento e sistematização de publicações científicas sobre a temática em plataformas de busca na internet, compreendendo artigos científicos originais e revisões de escopo/literatura, de acesso livre e gratuito. A busca compreendeu produções científicas entre primeiro de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2023. Para o desenvolvimento desse estudo, empregou-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) em português: “Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde”, “Saúde Ocupacional” e “Tecnologia”, combinados entre si pelo operador booleano “and” e seus equivalentes em inglês: “International Classification of Functioning, Disability and Health”, “Occupational Health” e “Technology”. As bases de dados utilizadas foram Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Pubmed, Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico (GA). Considerando-se a busca com os DeCS em língua portuguesa, encontrou-se um total de dois artigos, sendo um na plataforma LILACS e um no GA. Já, considerando-se os DeCS em inglês, a busca resultou em 24 artigos, dos quais 22 foram encontrados no Pubmed, um no LILACS e um no GA, assim, totalizando 26 estudos. Após leituras dos textos encontrados, foram selecionados quatro artigos que responderam ao objetivo do estudo. A análise de dados constituiu-se por enfoque qualitativo e descritivo. Resultados: Dentre os tipos de estudos encontrados, dois eram revisão de escopo e dois eram artigos originais, sendo que um foi desenvolvido no Brasil e o outro na China. Quanto ao ano de publicação dos artigos, 2020 prevaleceu com dois artigos, seguido dos anos de 2016 e 2019, com um artigo cada. Há predominância de publicações em periódicos suíços (dois estudos), seguido de publicações em uma revista da Alemanha e outra em periódico do Brasil. Referente ao percurso metodológico, dois estudos utilizaram o método qualitativo e dois a metodologia quantitativa. Acerca de um dos estudos originais, este foi desenvolvido em um Serviço de Medicina do Trabalho de uma universidade localizada na capital paranaense. Foi desenvolvido a partir da amostra de 196 prontuários de trabalhadores do setor de higienização do serviço durante quatro anos e objetivou conhecer o estado de funcionalidade desses trabalhadores, contribuindo para o bem-estar biopsicossocial. Percebeu-se neste estudo que a CIF e a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde décima edição (CID-10) são instrumentos complementares entre si e que as queixas dos trabalhadores estão diretamente associadas às incapacidades propostas pela CIF, como tendinites, dermatites e mialgias. Já outro estudo original, de cunho quantitativo, consiste no desenvolvimento de um novo instrumento para avaliação da deficiência com base na CIF em uma cidade chinesa. O objetivo dessa avaliação é verificar a possibilidade de pessoas com deficiência auditiva em idade laboral adquirirem benefícios de saúde/ sociais por incapacidade para o trabalho. Participaram deste estudo 18.573 pessoas desempregadas e empregadas. Neste estudo, foram utilizadas outras ferramentas originadas da CIF, como a Escala de Determinação de Elegibilidade de Deficiência desenvolvida em 2012 (DES-2012) que visa proporcionar a emissão de atestados de deficiência às pessoas com deficiência (PcD) e facilitar a aquisição de benefícios de saúde e sociais em Taiwan, onde o estudo foi desenvolvido. Para além da DES-2012, o estudo utiliza, ainda, a versão tradicional chinesa da Avaliação de Saúde e Deficiência (WHODAS 2.0). Percebeu-se ainda que a CIF é utilizada concomitantemente a outras classificações, como: CID-10 e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quinta edição. Outros dois estudos tratam-se de revisão de escopo, sendo que um deles abordou questões sobre a operacionalização da CIF para a reabilitação profissional. Os autores identificaram que 36% dos estudos revisados mencionaram o uso dessa classificação para estruturar informações, 24% para analisar resultados e 24% para desenvolver modelos de assistência. Assim, a CIF foi considerada uma ferramenta útil para avaliar a funcionalidade dos pacientes para a reabilitação profissional, tornando-se um instrumento unificador de termos. Já no outro estudo, os autores buscam identificar e analisar o conhecimento existente sobre o componente Fatores Ambientais da CIF que influenciam a participação no emprego de pessoas com idade entre 18 e 35 anos. As facilidades encontradas referem-se a acessibilidade física, disponibilidade de tecnologia assistiva e o apoio social. Contudo, as atitudes dos empregadores geralmente são tidas como barreiras na participação laboral pela PcD. Considerações finais: No escopo deste estudo, os resultados revelam que as doenças ocupacionais estão diretamente relacionadas aos conceitos de deficiência da CIF. Assim, as informações do paciente acerca da sua doença ocupacional precisam ser detalhadas para aplicabilidade da CIF. Já, quando não há esse detalhamento, torna-se mais complicado determinar a gravidade da lesão/deficiência, pois a CIF é um instrumento unificador de termos e essencial para aprimorar esse processo. A CIF influenciou no desenvolvimento de tecnologias como a DES-2012 e ajudou a promover adaptações no ambiente de trabalho para melhorar a ergonomia e autonomia das PcDs, assim como, para sua reabilitação profissional e empregabilidade. Por fim, os resultados obtidos ressaltam a relevância da CIF como uma ferramenta abrangente, com potencial para impactar positivamente diversas áreas, incluindo a saúde do trabalhador. A continuidade de pesquisas nesse domínio pode fornecer subsídios valiosos para aprimorar a aplicação prática da CIF e fortalecer sua integração em diferentes contextos profissionais, utilizando-a como um exemplo de tecnologia em saúde.
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