Apresentação: Trata-se de relato experiência que ocorreu em 2018 no Município de Ribeirão das Neves/Minas Gerais, referente às ações de mobilização social para o enfrentamento à febre amarela. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde/MG a febre amarela é uma doença viral aguda, imunoprevenível, transmitida ao homem e a primatas não humanos (macacos), por meio da picada de mosquitos infectados. A série histórica da doença no Brasil demonstra que os casos ocorrem com maior frequência nos meses entre dezembro e maio, caracterizando a doença com perfil sazonal. Esse fato ocorre principalmente no verão, quando a temperatura média aumenta na estação das chuvas, favorecendo a reprodução e proliferação de mosquitos (vetores) e, por consequência o potencial de circulação do vírus. Nesse período, houve o fortalecimento das ações por Agentes de Combate a Endemias (ACE) nos atendimentos domiciliares, nos atendimentos mais específicos nas unidades de saúde por toda a equipe e por outros profissionais da saúde de outros setores pertencentes à (SMS) do município. Para haver maior adesão à vacinação, foi identificado a necessidade de ações que reconhecesse as especificidades de cada território. O objetivo foi realizar ações de mobilização social referentes à vacinação de febre amarela no município, principalmente nas áreas descobertas. A mobilização está presente em quase todas as ações de promoção à saúde, em todos os níveis do cuidado, de regulação e de controle social, tem o propósito de atuar para o bem comum. Referindo-se à mobilização em saúde as lutas são variadas e essas manifestações trazem consigo a essência da democracia, em especial, se tratando do SUS.
Desenvolvimento: Esse trabalho se constitui como uma reflexão sobre a experiência vivida, tendo como fundamentação um conceito teórico, reflexivo e a prática. O percurso metodológico foi da fundamentação teórica, pesquisa sobre as normas técnicas e documentos do município. Assim como os demais municípios da região metropolitana, Ribeirão das Neves teve a necessidade de traçar estratégias de mobilização para que a população não sofresse com uma epidemia de febre amarela. A SMS realizou uma força tarefa para elaborar e executar um plano de ações de prevenção da doença. Foram realizadas reuniões intersetoriais, e a partir desses encontros, foi possível traçar estratégias de mobilização, de vigilância e prevenção da doença. A maior atividade foi a vacinação da população seguindo as orientações do Ministério da Saúde. O trabalho foi organizado com vários setores da SMS, equipe de imunização, de zoonoses e APS, com o objetivo de identificar em todo o município quem não estava vacinado e potencializar em um período curto de tempo, a vacinação em todo o território. O município possui um duplo modelo de assistência à saúde, onde 60% da população possui cadastro na ESF e os demais 40% são atendidos por demanda espontânea, em unidades básicas tradicionais – Unidades Básicas de Referências, que são somente cinco em todo o território. Além disso, existem bairros que não possuem nenhum dispositivo de saúde. Por isso, a iniciativa visou alcançar o público adulto, que não tem condições de irem às UBS durante o horário do seu funcionamento, para isso, foi realizada a busca ativa de pessoas adultas que ficam fora dos seus domicílios nos horários de funcionamento das UBSs. E também realizar ação educativa sobre a importância do imunizante, dialogando com os cidadãos sobre a prevenção da doença, controle e eliminação de focos do mosquito transmissor. A equipe atuou em horário especial, 18h00 às 21h00, de 2ª às 6ª feiras e aos sábados 08h00 às 16h00, nas três administrativas do município ou nas cinco regiões sanitárias do município. Foram envolvidos nessa ação os 30 enfermeiros, 50 técnicos de enfermagem, 100 ACEs, auxiliares administrativos, profissionais do setor de comunicação da prefeitura e motoristas da SMS. As ações ocorreram em escolas, igrejas e praças, fornecendo aos munícipes o imunizante e educação em saúde com mensagem educativa sobre o combate às arboviroses. Nos locais sem dispositivos de saúde e com difícil acesso, a cada período noturno, um carro com a equipe de vacinadores, estacionava em um local central no bairro. Os ACEs percorriam a área, orientando de casa em casa, avaliando os cartões e avisando onde estava o carro com a vacina. Dessa forma, os moradores que ou não podiam ir a uma unidade de saúde podiam receber a vacina mais próximo de residência. Houve a vacinação itinerante, onde os profissionais foram nos campos de futebol, quadras de esportes, parque ecológico e até em bares e restaurantes ofertando a vacina para quem ainda não havia se vacinado. Para que o trabalho fosse bem-sucedido, houve estratégias permanentes de diálogo com a população e divulgação das ações em redes sociais, site da prefeitura, rádios locais, panfletos impressos e informações com orientações em e grupos de WhatsApp diveresos. Resultados: Essa ação mostrou a importância do diálogo com a informação direta à população, já que nem todas as pessoas têm acesso às redes sociais, mostrou ainda que no município o famoso “boca-a-boca” ainda tem sido a forma mais eficaz de produção de sentido ao que diz respeito aos serviços de saúde. Destaca-se que a importância da integração das equipes no processo de mobilização foi fundamental para que essa estratégia de trabalho resultasse em mais pessoas vacinadas. Juntamente com dados da epidemiologia municipal, foi possível detectar nos territórios a população não vacinada e, essa ação de busca ativa das pessoas que não estavam com os cartões em dia, foi eficaz e bem direcionada. De acordo com setor de Imunização do Município de Ribeirão das Neves, em 2017 a cobertura vacinal contra Febre Amarela para crianças menores de 1 ano era de 59%. Em 2018 após as ações de vacinação e divulgação da importância dessa, o município alcançou 76%. O resultado ainda estava abaixo da meta (95%), mas houve melhora significativa. A população adolescente e adulta, naquela época não havia a “obrigatoriedade” de registro das doses de vacinação no sistema, o que dificulta a avaliação, uma vez que os dados que estão digitados e não condizem com a realidade. Ainda assim, constam 33.061 doses aplicadas em população maior de 1 ano de idade em 2017 e 43.909 doses aplicadas em 2018 o que sugere um aumento de 30% de um ano para o outro. Essa foi uma ação conjunta que culminou com a vacinação de centenas de moradores nos próprios locais visitados, além de promover o incentivo para que os pais levassem as crianças até as salas de vacinação para colocarem os cartões em dia, completando os esquemas vacinais para prevenção de outras doenças. É importante ressaltar que nenhum caso de Febre Amarela foi confirmado no município desde então. Considerações finais: Por meio dessa ação, foi possível abordar a importância da prevenção acerca dos cuidados para evitar a proliferação do mosquito transmissor. Outro destaque é o trabalho da gestão em saúde, que articulou os serviços de entre a vigilância em saúde e a atenção primaria, demonstrando que por meio do trabalho em conjunto é possível potencializar as ações por meio de responsabilidades e saberes das diferentes das equipes e serviços indo ao encontro às das diretrizes estabelecidas pela Política Nacional e Atenção Básica e de Vigilância em Saúde. Esse trabalho também deu origem ao TCC do Curso de Especialização em Vigilância em saúde da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais – ESP-MG.