INTRODUÇÃO
A pobreza menstrual é uma realidade vivenciada por diversas pessoas que menstruam. Isso pode ocorrer diretamente devido à dificuldade de acesso a recursos para higiene e contenção menstrual, como também à precariedade na infraestrutura e lacunas no conhecimento sobre menstruação (UNICEF e UNFPA, 2021). Além de garantir acesso à educação menstrual suficiente, para que possam ter autonomia nas decisões sobre sua própria saúde, é imperativo que pessoas que menstruam tenham acesso facilitado a produtos de higiene e contenção menstrual adequados. Segundo dados de uma pesquisa, realizada pelo Fundo das Nações Unidas, 67% das pessoas afirmaram que deixaram de ir à escola ou algum outro lugar por causa da menstruação, e 73% relataram sentir algum constrangimento neste período (UNICEF, 2024). Ainda, segundo pesquisa da UNICEF e UNFPA (2021), no Brasil existem 713 mil meninas que vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em suas casas, mais de 900 mil não têm acesso a água encanada e 6,5 milhões vivem em casas sem saneamento básico. Isso demonstra a necessidade de ações mais ativas e que foquem diretamente no público relacionado. Dessa forma, mesmo que o Programa Dignidade Menstrual tenha iniciado no Brasil em 2023, ainda são necessárias políticas públicas mais eficientes e que garantam não apenas o acesso às informações sobre o programa, como também esclarecimentos sobre requisitos para sua participação e acesso àquelas pessoas que não se enquadram no programa, mas que enfrentam vulnerabilidade. Não descartando a necessidade da implementação da educação menstrual em escolas e instituições de ensino superior. Desta maneira, destaca-se a importância de projetos como o Tranquilidade Para Menstruar (TPM) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que abordam a temática e realizam ações diretamente com a população de suas comunidades. Projeto como esse tornaram-se a maneira mais direta de contato com as populações-alvo, não apenas com informações que proporcionem a autonomia de pessoas que menstruam, mas também facilitando o acesso a itens de higiene e auxiliando a programas governamentais.
OBJETIVO
Relatar a experiência de voluntárias no desenvolvimento e execução de um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria sobre educação menstrual e distribuição de itens de higiene e contenção menstrual para comunidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
DESENVOLVIMENTO
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência, que tem como objetivo descrever a vivência de voluntárias no desenvolvimento e execução do projeto de extensão ‘’TPM: Tranquilidade para Menstruar’’, da Universidade Federal de Santa Maria. O projeto proporcionou conhecimento e aprofundamento da temática “pobreza menstrual”, demonstrando como pode afetar inúmeras pessoas, tornando o acesso desigual e barrando direitos básicos. Além disso, a existência de um grande tabu em diálogos sobre menstruação demonstra o preconceito enraizado, bem como a perpetuação de mitos que podem se tornar prejudiciais à saúde dessas pessoas. Além de promover o conhecimento sobre o tema, realizam-se aulas abertas com o intuito de divulgação das atividades internas do projeto, bem como arrecadação de itens de higiene e contenção menstrual. Dessa forma, é possível capacitar a comunidade acadêmica para promoção de debates sobre educação menstrual fora da universidade atingindo diretamente o público-alvo do projeto. Durante as ações educacionais, diversos temas são abordados, possibilitando reflexões mais humanizadas acerca do tema e o esclarecimento de dúvidas Somado a isso, é possível contato com novas populações-alvo onde poderão ser realizadas futuras ações. O projeto também realiza campanhas de arrecadação de itens de higiene e de absorventes externos descartáveis. Seja em parceria com associações atléticas da própria UFSM, ou de instituições de ensino da cidade, como a Universidade Franciscana (UFN), parcerias na realização das atividades são encorajadas, mantendo-se aberto a diversas instituições públicas ou privadas. Os materiais arrecadados são contabilizados e separados em “kits” para realização da distribuição em comunidades previamente contatadas e que seja possível identificar a população em vulnerabilidade. Além disso, durante a ação de distribuição, ocorrem rodas de conversa, palestras, reuniões ou outra atividade de educação em saúde, onde são sanadas dúvidas de pessoas que menstruam, dispondo de informações sobre o programa Dignidade Menstrual e esclarecendo os requisitos para sua participação. As ações de educação menstrual são realizadas com públicos diversos - faixas etárias, identidades de gênero, etnia -, pois o objetivo do projeto é que estas pessoas possam ser multiplicadoras dentro de suas comunidades. A importância das ações pode ser percebida através do envolvimento dos participantes, pois estes sentem-se acolhidos e seguros para trazer relatos de suas vivências pessoais, e solicitarem ajuda quando necessário. As redes sociais são a principal forma de comunicação e divulgação do Projeto TPM, possibilitando que as atividades realizadas, assim como os objetivos do projeto, cheguem a um número maior de pessoas. Além disso, a rede social do projeto conta com publicações sobre dignidade menstrual, pobreza menstrual, mitos e verdades, higiene menstrual, levando a educação menstrual a muitos lugares do Brasil e do mundo.
RESULTADOS
O projeto propiciou às voluntárias uma significativa ampliação de conhecimento acerca dos temas de educação, dignidade e pobreza menstrual, demonstrando que esta problemática transcende os limites da saúde pública e alcança a esfera da dignidade humana. O reconhecimento da importância destes temas é essencial para o enfrentamento eficaz dos desafios associados à menstruação em contextos de vulnerabilidade social. Durante as campanhas de arrecadação de absorventes e materiais de higiene, observou-se uma adesão positiva por parte dos participantes. Este resultado pode ser atribuído à expansão do projeto e à eficácia das estratégias de divulgação adotadas, bem como à crescente conscientização da sociedade sobre a relevância do tema da pobreza menstrual. Esses achados sugerem não apenas uma resposta favorável da comunidade às iniciativas do projeto, mas também um aumento do engajamento público em torno da questão da pobreza menstrual. Este contexto favorece o fortalecimento das ações de combate à pobreza menstrual e promove uma maior conscientização sobre os direitos e saúde das pessoas que menstruam em situação de vulnerabilidade social. Assim, o projeto não apenas contribui para suprir uma necessidade imediata de acesso a produtos de higiene menstrual, mas também desencadeia reflexões mais profundas sobre questões de justiça social, igualdade de gênero e dignidade humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pobreza menstrual emerge como uma realidade premente para pessoas que menstruam, evidenciando a relevância do Projeto TPM como um instrumento efetivo na provisão de materiais de higiene e absorventes, bem como na promoção da educação menstrual e na orientação sobre os recursos governamentais disponíveis. O impacto abrangente deste projeto transcende a mera assistência material, desempenhando um papel importante na capacitação e no empoderamento das comunidades afetadas. Ademais, a divulgação e a discussão aberta deste tema na comunidade acadêmica, especialmente nos cursos da área da saúde, revestem-se de significativa importância. Apenas por meio da capacitação e conscientização dos profissionais de saúde e estudantes, será possível galgar o caminho rumo a uma dignidade menstrual universalmente acessível. Este processo não apenas enriquece o conhecimento acadêmico, mas também promove uma mudança cultural essencial para a conquista dos direitos em saúde menstrual das pessoas que menstruam. Assim, destaca-se não apenas a urgência da abordagem da pobreza menstrual, mas também a necessidade premente de uma resposta eficaz e capacitadora que transcenda as fronteiras da assistência imediata, promovendo uma abordagem integrada que vislumbre a realização da dignidade menstrual para todas as pessoas.