O PROCESSO DE RECONHECIMENTO DE CAMPO NA RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Apresentação: A Residência Multiprofissional em Saúde é um Programa de pós-graduação que exige 5.760 horas de educação em serviço. Esta, é desenvolvida ao longo de dois anos sob um regime de 60 horas semanais. Onde, o itinerário formativo se distribui em 80% da carga horária total em atividades práticas ou teórico-práticas e 20% da carga horária total em atividades teóricas ou de orientação à pesquisa. O Programa de Residência Multiprofissional na área de concentração da Atenção Básica da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Passo Fundo, existe desde 2013, sendo uma iniciativa do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) em parceria com a Prefeitura Municipal de Marau-RS. E, que passou a ser desenvolvida pela UFFS a partir de 2016 até os tempos atuais, mantendo este mesmo município como campo de prática da Residência. A Atenção Primária à Saúde é um dos pontos da Rede de Atenção à Saúde (RAS) na qual se estrutura o Sistema Único de Saúde (SUS). Considerada a porta preferencial de entrada ao serviço, a ela são atribuídos o primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade, a coordenação, a orientação familiar e comunitária e a competência cultural. Por meio da Atenção Básica (AB) são planejadas e executadas ações de promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde individuais, familiares e coletivas. Estas, são dirigidas à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária, conforme preconiza a Política Nacional da Atenção Básica (PNAB). Portanto, o território é o ponto de partida para se pensar e desenvolver ações de saúde. Sendo indispensável reconhecer e compreender a população nele adscrita para então propor-se a atuar dentro dele de forma efetiva. Vale ressaltar que o município em questão possui 100% de cobertura de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Objetivo: Nesta perspectiva, este trabalho visa relatar a experiências dos Residentes no processo de reconhecimento e apresentação do território de atuação das Estratégias de Saúde da Família do Programa de Residência da UFFS/PF. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, baseado nas vivências dos Residentes do primeiro ano do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família em uma cidade no norte gaúcho. O Programa de Residência em questão, disponibiliza anualmente, duas vagas de ingresso para três núcleos profissionais, sendo eles, Enfermagem, Farmácia e Psicologia. As quais são distribuídas igualmente entre as duas ESF do município que compõem o Programa de Residência. Assim, todos os anos cada ESF possui um Residente do primeiro e segundo ano de cada núcleo profissional, sob tutoria e preceptoria de profissionais atuantes na Instituição de Ensino Superior (IES) e nas unidades de saúde, respectivamente. A primeira semana dos residentes é desenvolvida a partir de uma série de atividades pensadas e elaboradas pelos docentes e preceptores do Programa. Oportunizado entre os dias 1 a 8 de março de 2024, este caracteriza-se como um espaço para conhecer a complexidade do município. Ainda, assumindo a indispensabilidade de reconhecer e compreender a população nele adscrita, para então propor-se a atuar dentro dele de forma efetiva. A residência multiprofissional inserida nas ESF de Marau (São José Operário e Santa Rita) predispõem ao residente que ingressa no programa um período de imersão social ao território por meio de visitas guiadas pelas enfermeiras, residentes do segundo ano e agentes comunitárias de saúde (ACS) de cada equipe. Resultados: Esse reconhecimento do campo de prática foi abordado de duas maneiras de ensino complementares: por meio das “visitas guiadas” e das “visitas livres". A primeira, objetivou o reconhecimento de pontos focais, enquanto a segunda eram turnos onde os residentes podiam escolher qual local do território gostariam de conhecer. Assim, as visitas guiadas compreenderam sete turnos de prática, voltados ao reconhecimento de localidades e serviços necessários para a intersecção e diálogos dentro do território. Compreendendo desde a Universidade até serviços do município, abordando-se sua história, formação, geografia, estrutura e serviços. Onde após a apresentação dos docentes/tutores, preceptores e do programa de residência, de forma expositiva foi apresentado informações relevantes acerca do município e seus serviços de saúde. Ao longo da semana, as visitas guiadas foram distribuídas em turnos alternados contemplando diversos serviços, como as ESF Central I e I, a Sala de Vacinas, o Centro da Criança e Idoso, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro Social Urbano (CSU), Secretaria de Saúde, Hospital Cristo Redentor (HCR), Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), a Prefeitura da cidade e por fim, os territórios e unidades de saúde das ESF Santa Rita e São José Operário. Ademais, foram disponibilizados aos residentes, sete turnos de visita livre à cidade de Marau.Onde instiga-se ao indivíduo ingressante a descoberta do novo através dos seus próprios desejos, sem guias ou roteiros prontos que envolvam seu olhar. Nestas, os residentes visitaram locais públicos como praças, o Museu e Biblioteca Municipais da cidade, a Casa da Cultura, eventos, igrejas e o comércio local, dentre outros. Permitindo aos residentes, submergir na historicidade do município e compreender como se constituiu o comportamento social-comunitário dos cidadãos.As visitas foram percebidas das mais diversas formas. Uma vez que permite conhecer o território de forma a não corresponder apenas ao trajeto percorrido, estruturas e relações. É sobre permitir ao estudante, a percepção das singularidades do território. Os períodos, alternados entre as diferentes formas de visitas, oportunizam ao aluno uma formação didática, onde assumimos o papel de protagonistas da própria formação e de pertencimento da trajetória na residência. Ao final da semana, os residentes apresentaram ao corpo docente/tutoria e preceptoria, as memórias e reflexões de cada um a partir das visitas realizadas na cidade e reconhecimento daquele que será o campo prático destes pelos próximos dois anos. As apresentações foram desenvolvidas por meios audiovisuais diversos e permeados pela criatividade e “marca” de cada indivíduo. Utilizando-se de vídeos, capítulos de livro, manual, fotos e álbum de recortes, cada residente apresentou uma mesma cidade a partir de seu ponto de vista. Percebe-se que os achados resultaram em observações e reflexões multifacetadas e singulares a partir da percepção e experiências individuais e coletivas vivenciadas pelo grupo. Considerações finais: Deste modo, salienta-se a importância de um espaço formativo que possibilite aos profissionais em especialização aprenderem a cuidar cuidando das pessoas nos seus territórios e comunidades. Imergindo no espectro que envolve o paciente e suas complexidades sócio-culturais. Assim, enfatiza-se a necessidade de possibilitar o reconhecimento do território na formação multiprofissional, para o melhor entendimento, acompanhamento e intervenção nas ESF e comunidades às quais os residentes da AB são inseridos.