Apresentação: De acordo com o Censo Demográfico (IBGE) de 2022, o Brasil atingiu um total de 32.113.490 pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Sabe-se que o crescimento populacional nesse grupo etário traz consigo desafios emergentes para a saúde pública, acarretando mudançassignificativas no perfil epidemiológico, com a alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), perda cognitiva, declínio sensorial, acidentes e isolamento social. Esses fatores podem contribuir para a redução da capacidade funcional na pessoa idosa, resultando em dependência no autocuidado e na realização de atividades de vida diárias(AVDs). Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações(CBO) de 2001, o cuidador pode ser definido como oresponsável por cuidar, a partir de objetivos determinados por instituições especializadas ou responsáveis diretos, visando proporcionar a melhora e/ou manutenção da qualidade de vida da pessoa assistida. Neste contexto de prestação do cuidado àpessoa idosa, há uma maior prevalência de cuidadoresfamiliares/informais, os quais assumem a responsabilidade de cuidar motivados, em sua maioria, por sentimentos de obrigação familiar, retribuição afetiva, ou devido à falta de recursos financeiros para se contratar um cuidador profissional/formal. Diante disso, a falta de compreensão por parte do cuidador em relação ao verdadeiro nível de assistência necessário para auxiliar nas demandas do cuidado, a ausência de capacitação e de rede de apoio e a dependência da pessoa idosa, podem impactar na qualidade da prestação docuidado e suscitar a precária atenção do cuidador para a sua própria saúde, resultando em sobrecarga, no aparecimento de condições de saúde adversas e na redução da participação social. O cuidador vivencia alterações biopsicossociais, decorrentes da diminuição de tempo destinado à realização de consultas e exames de rotina, a pressão emocional relacionada ao enfrentamento das deficiências adquiridas pela pessoa cuidada e a restrição da participação social. Diante do exposto, compreende-se que o envelhecimento populacional culmina na necessidade de cuidadores que precisam ser assistidos de forma eficaz. Posto isto, esta pesquisa objetiva identificar o perfil e as condições de saúde dos cuidadores da pessoa idosa assistida por uma Unidade de Saúde da Família em Vitória-ES. Desenvolvimento: O presente estudo utilizou umaabordagem observacional transversal com dados quantitativosde origem primária acerca do perfil clínico de saúde de 23cuidadores de pessoas idosas cadastradas a uma Unidade de Saúde da Família (USF) de Vitória – ES no ano de 2023. Como critério de inclusão foram selecionados os cuidadores cuja pessoa idosa estivesse cadastrada na Rede Bem-Estar e fosse assistida pela Estratégia de Saúde da Família. Além disso, foram entrevistados os cuidadores que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).Foram excluídos os cuidadores que não foram localizados, aqueles cujo a pessoa idosa apresentou caso de óbito e os cuidadores que não apresentavam condições cognitivas ou possuíam outra condição que o impediram de responder ao questionário. Foram coletados dados referentes ao perfil dos cuidadores quanto ao: sexo (feminino, masculino), idade (60 a 79 anos e ? 80 anos), filhos (sim ou não), se possuíacompanheiros (sim ou não), escolaridade (analfabeto, primário, fundamental, médio, técnico e superior), ocupação (aposentado, pensionista, trabalha, sem ocupação eautônomo), renda em salário mínimo (até 1, entre 1.1 e 3, entre 3.1 e 5, e mais que 5), tipo de cuidador (familiar ou profissional), capacitação profissional (sim ou não), tempo atuando como cuidador (< 1 ano, entre 1.1 e 3 anos, entre 3.1 e 5 anos, > 5, 1 anos) e grau de parentesco (filhos, marido, esposa, nora, outros). Em relação às condições de saúde dos cuidadores verificou-se a presença ou ausência de doenças(diabetes mellitus, hipertensão arterial, obesidade, colesterol, asma, depressão, ansiedade). Ademais, foram coletados os nomes dos medicamentos utilizados diariamente pelo cuidador, informações sobre a prática de atividades físicas (sim ou não) e de atividades de lazer (sim ou não). Os dados foram analisados descritivamente e expostos através de porcentagens. Resultados: Verificou-se que dentre os cuidadores entrevistados a maioria são mulheres (65%), com idade a partir de 60 anos (56%), que possuem filhos (78%) e companheiros (52%), com ensino médio completo (43%), aposentadas (47%), com renda de até um (1) salário-mínimo(52%). Além disso, nesta amostra se observa a totalidade decuidadores familiares (100%), que não apresentamcapacitação profissional (96%) e que exercem o cuidado há mais de cinco anos (60%). Entre os graus de parentesco analisados, os filhos são os que mais se responsabilizarampelo ato de cuidar (34%). Quanto a condição de saúde, 91% dos cuidadores apresentam algum tipo de doença, utilizam medicamento de uso contínuo (83%), sendo losartana e sinvastatina os mais consumidos, não praticam atividade física (69%) e não exercem atividades de lazer (60%). Considerações finais: O presente estudo verificou que na amostra analisada o perfil de cuidadores abrange majoritariamente mulheres acima de 60 anos pertencentes ao grupo familiar da pessoa idosa dependente, que prestam cuidado há mais de cinco anos, não apresentam capacitação adequada, possuem condições de saúde adversas e não apresentam participação social efetiva. Esses achados expõem que há lacunas na atenção à saúde ofertada aos cuidadores, permanecendo enraizado na sociedade a associação do papel de cuidar exclusivamente a família, principalmente as mulheres. O artigo 3º do Estatuto da Pessoa Idosa cita que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.” Nesta conjuntura, a falta de assistência e a precariedade de políticas públicas que amparem e garantem os direitos dos cuidadores, dificultam a qualidade de vida destes indivíduos, sendo imprescindível que o poder público oferte capacitação efetiva e direcionada aos cuidadores e aos profissionais da Atenção Básica para auxiliarem na prestação do cuidado e destine orçamentofinanceiro para a realização de pesquisas sobre a temática.
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