RELATO DE EXPERIÊNCIA EM IMUNIZAÇÃO NOS INDÍGENAS ISOLADOS EM SITUAÇÃO DE CONTATO DA ETNIA KORUBOS DO RIO COARI, EM ATALAIA DO NORTE – AMAZONAS.

  • Author
  • Luziane da Silva López
  • Co-authors
  • Amanda Rodrigues Albertoni , Vanessa Barroso Quaresma , Cristiane Ferreira da Silva , Janayla Bruna Oliveira de Aguiar
  • Abstract
  • Apresentação: O Distrito Sanitário Especial Indígena do Vale do Javari está sediado no município de Atalaia do Norte – AM, situado no extremo sudoeste do Amazonas, fazendo fronteira com a Colômbia e Peru, é responsável pelo atendimento de atenção básica de aproximadamente 6.3836 indígenas, de 07 etnias, sendo a etnia predominante a Mayuruna/Matsés, seguida da etnia Marubo, Kanamary, Matis, Korubo (recente contato), Kulina e Tsohom-Djapa (recente contato), residentes em 67 aldeias e 01 acampamento. A terra indígena do Javari é a segunda maior terra Indígena demarcada do Brasil, abrange os municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença e Jutaí, com 8.544.480 hectares. As aldeias assistidas pelo DSEI encontram-se em regiões de difícil acesso, concentrando o maior número de povos indígenas isolados do mundo, conhecida nacionalmente e internacionalmente por ser uma região de difícil acesso, complexidade logística, dispersão geográfica e período sazonal de estiagem, numa região em que o acesso às aldeias é por meio fluvial (no período de cheia das calhas dos rios) e aéreo (em qualquer período do ano). A assistência à saúde está organizado em: 01 (uma) sede do DSEI/VAJ, 01 CASAI, 01 Casa de Apoio em Tabatinga, 08 Polos-base, e 24 UBSI. Apresenta uma diversidade étnica, cultural, dinâmica e extensão geográfica remota, sendo o distrito sanitário especial indígena – DSEI Vale do Javari que desenvolve ações de todos os programas do ministério da saúde, dentre eles o programa nacional de imunização que tem como meta manter o controle de todas as doenças que podem ser erradicadas ou controladas através da vacinação. Os indígenas da etnia korubo que foram contatados em 2019 somavam 34 pessoas que estão distribuídos no Coarinho dentro do Rio Coari à margem esquerda, situado próximo à base Ituí (frente de proteção Etnoambiental Vale do Javari) e fazem parte da abrangência do Polo Base Médio Ituí do DSEI. Os povos indígenas isolados, segundo definição da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), “se referem especificamente a grupos indígenas com ausência de relações permanentes com as sociedades nacionais ou com pouca frequência de interação, seja com não-índios, seja com outros povos indígenas”. Os grupos de povos indígenas em situação de isolamento quando entra em contato com povos não indígenas ou indígenas de contato permanente, historicamente é responsável por deflagrar epidemias de doenças infectocontagiosas, e consequentemente situações de agravos que podem levar o grupo a tratamentos prolongados e até internações fora do contexto do território, levando esse grupo a um choque de realidade quando translada o “paciente” para ambiente hospitalar da rede SUS, outro impacto do grupo após um contato seria levar a redução drástica dessa população com taxas elevadas de mortalidade em pouco tempo, devido à ausência de memória imunológica com agentes infecciosos com o qual essa população não possui nenhuma interação biológica. Diversos são os fatores que os grupos de indígenas em isolamento voluntário buscam contato com a população não indígena. A invasão do território desses grupos por madeireiros, garimpeiros e pescadores podem deflagrar doenças contagiosas nesse grupo se ocorrer conflito entre ambos, a possibilidade de contato é latente principalmente em épocas de estiagem que esses grupos costumam se deslocar no território. O Programa Nacional de Imunização-PNI que faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS), tem o objetivo de reduzir internações, óbito, controlar, eliminar ou erradicar as doenças preveníeis por vacina. Para que esta estratégia seja eficaz, precisa de educação permanente, profissionais qualificados e estrutura da rede de frio. Desenvolvimento: Após várias articulações para realizar o contato de 2019 no vale do Javari na etnia Korubo e garantir a diminuição do impacto deste contato em relação às doenças evitáveis principalmente por vacina, houve grande mobilização para enviar os imunobiológicos ao território localizado no Rio Coari. Durante os primeiros momentos do contato houve várias estratégias para construir um vínculo de confiança entre os 34 indígenas (homens, mulheres e crianças) da etnia Korubo. Antes de iniciar a ação de vacinação, foram mostrados instrumentos de tecnologia para aquele grupo, tais como, celular, máquina fotográfica, notebook, etc. Toda essa conversa se inicia com tradutores indígenas da mesma etnia já com contato estabelecido desde 1996. Nesses aparelhos foram mostrados o que era a vacinação, como eram administras as vacinas, foram explicadas pelos membros da DSEI e SESAI juntamente com a FUNAI para que serviam as vacinas e que poderia acontecer na hora da administração, nesse momento utilizam-se gestos, desenhos no chão, conversas em roda com a liderança mais forte (cacique). São utilizadas estratégias na rede de frio para manter a qualidade e eficácia do imunobiológico durante o deslocamento até chegar ao destino final, no braço do indígena em situação de contato. A nota informativa nº 279/2018-CGPNI/DEVIT/SVS/MS orienta as vacinas para esse contexto, porém, depende do perfil epidemiológico do entrono do território do grupo para eleger as vacinas para as primeiras administrações. A equipe de saúde decide quais as vacinas prioritárias para serem administradas, sempre realizando discussões sobre situação epidemiológica do entorno dessa população que seriam os Polos-base do Rio Ituí, em consequência se realiza as articulações com o Distrito Sanitário Especial Indígena Vale do Javari para enviarem os imunobiológicos para realizar a primeira ação de imunização na etnia. As vacinas chegam no local do contato em 24/03/2019 com deslocamento de voo, pousando em campo aberto para deixar os insumos de imunização. O helicóptero foi preparado para essa ação e o piloto instruindo para não ter contato com a equipe que estava realizando o contato, essa equipe estava em um período de quarentena há mais de 30 dias, pois foi realizado todo um protocolo em saúde para todos os profissionais que participaram do contato. Considerações finais:  Em 18 de março de 2019 houve os primeiros contatos com o grupo de indígenas em isolamento voluntário da etnia Korubo e 25/03/2019 as primeiras doses de vacinas administradas nesse grupo. A introdução do calendário vacinal para os povos indígenas isolado e de recente contato, como estratégia para conter surtos e epidemias no grupo de indígenas após o contato, serve para conter a incidência de doenças e reduzir adoecimento e óbito nessa população. Os desafios para deslocamento dos imunobiológicos até o território in loco superam as dificuldades e barreiras encontradas para o deslocamento das vacinas. Consequentemente, o monitoramento das doenças imunopreveníveis nesse grupo, deve acontecer sistematicamente, pois o grupo tem facilidade em aderir às ações de imunização depois que entendem os benefícios e para que protegem as vacinas.

  • Keywords
  • Indígena, Isolados, Imunização
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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