Apresentação: Nos últimos anos, as transformações socioeconômicas têm impactado significativamente o perfil epidemiológico da morbimortalidade no mundo. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes têm ganhado destaque em relação aos agravos infecciosos. As DCNTs são as principais causa de morte global, levando a óbitos prematuros e impactos econômicos e sociais adversos. Elas representam cerca de 70% de todas as mortes, totalizando mais de 38 milhões de óbitos por ano. Cerca de 45% de todas as mortes por DCNTs no mundo, o que equivale a mais de 17 milhões de óbitos, são atribuídas às doenças do aparelho circulatório. No Brasil, o cenário epidemiológico das causas de morte é semelhante, representando 72% dos óbitos, dos quais as doenças arteriais coronariana correspondem a 30%. De acordo com o Global Burden of Diase (GBD) um estudo epidemiológico de âmbito mundial no ano de 2019, as doenças cardiovasculares foram estimadas em 6,1% da população mundial, tendo uma crescente desde 1990. No Espírito Santo as principais causas de morte são doenças cardiovasculares e também são a principal causa de hospitalizações. O estudo BRACE (Brazilian Registry on Acute Coronary Syndromes) verificou que 45,7% das internações hospitalares são em decorrência de síndrome coronariana aguda e que esta doença é um dos tipos mais frequentes de atendimento nos serviços médicos de emergência. Uma das formas de acesso da população com doenças cardiovasculares à atenção hospitalar é a assistência pré-hospitalar móvel. No Brasil, o Sistema Único de Saúde garante o acesso ao serviço médico de Urgência por meio da Rede de Atenção à Urgência e Emergência que é regulamentada pela Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU). Suas diretrizes visam à implementação do componente pré-hospitalar móvel da Política Nacional de Atenção às Urgências, que estabelece os Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192), suas Centrais de Regulação e Núcleos de Educação em Urgência em todo o Brasil. No Espírito Santo, a regulação da Rede de Urgência e Emergência é feita pela Central de Regulação Médica do SAMU 192/ES, composta por uma equipe multidisciplinar. A central de regulação médica recebe uma variedade de chamadas de emergência que podem resultar em sofrimento, sequelas ou morte. O telefonista auxiliar de regulação médica coleta informações sobre a emergência e sua localização. Em seguida, as chamadas são encaminhadas ao médico regulador, que classifica a urgência e prioridade, além de coordenar as equipes de intervenção para o atendimento imediato. Em conjunto com o médico regulador, é definido o melhor local dentro da rede assistencial. O Hospital Santa Casa Misericórdia de Vitória é um dos principais pontos de referência para vítimas de doença cardiovascular da região metropolitana de saúde de Vitória. O HSCMV é um reflexo da evolução da sociedade e da saúde do Espírito Santo com mais de 203 anos de atividade, localizada na cidade de Vitória, sendo um hospital geral, de caráter filantrópico e privado, que agrega atividades de ensino, pesquisa e assistência, na qual mais 90% dos atendimentos são voltados para pacientes do sistema único de saúde. Diante do exposto o objetivo desta pesquisa é verificar os fatores de risco para desenvolvimento de óbito dos atendimentos realizados pelos serviços do SAMU 192 em pacientes com síndrome coronariana aguda referenciados para o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória (HSCMV). Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de estudo prospectivo de 84 pacientes admitidos no serviço médico de emergência, no ano de 2021, com síndrome coronariana aguda oriundos do SAMU 192/ES. Coletaram-se informações da Central de Regulação Médica do SAMU 192/ES e dos prontuários eletrônicos do Hospital Santa Casa Misericórdia de Vitória. Na Central de Regulação do SAMU 192/ES coletaram-se as variáveis: ciclo de vida; sexo; período da solicitação; gravidade presumida; tipo de recurso enviado; e origem do chamado que resultou no óbito. Durante a internação foram coletadas as características clínicas da admissão: presença e tipo de dor torácica, presença de fator de risco de doença cardiovascular e por fim o diagnóstico clínico caracterizado por dor torácica, angina instável, infarto agudo do miocárdio com supra e sem supra, além do pós parada cardiorrespiratória. As variáveis coletadas quanto a conduta hospitalar foram: escala de avaliação de consciência alerta, voz, dor e inconsciência (AVDI), suplementação de oxigênio, tipo de intervenção, realização de ecocardiograma. Para efeito de análise considerou-se como desfecho a mortalidade. Realizou-se análise descritiva e o teste qui-quadrado ou Exato de Fisher (em tabela 2x2 quando a frequência esperada foi menor do que 5), sendo que no caso de associação significativa foi realizado análise de resíduo para verificar as categorias que contribuíram na associação do desenvolvimento de óbito. Resultados: Verificou-se a incidência de óbito em 8,4%. A maioria das vítimas era do sexo masculino (66,7%), idosos (60,7), atendidos no período vespertino (38,1%), com gravidade presumida crítica (92,9%), enviou-se unidade de saúde avançada (94%) e a origem do chamado que resultou no óbito era extra domicílio (78,6%). Quanto as características clínicas da admissão hospitalar a maioria apresentava: dor torácica típica (86,9%), fator de risco para doença cardiovascular presentes (85,7%), o incidente clínico mais comum foi infarto com supra do segmento ST (60,7%) estavam alerta (83,3%). Quanto ao atendimento hospitalar a maioria obteve suplementação de oxigênio (84,5%), realizou intervenção coronariana percutânea (67,9%) e ecocardiografia (79,8%). Comportaram-se como fator de risco para óbito (p<0,05): dor torácica atípica, ocorrência de incidente clínico pós-parada cardiorrespiratória, presença de dor ou inconsciência na avaliação pela escala AVDI, administração de suplementação de oxigênio, tipo de intervenção realizada com enfoque em tratamento clínico e a ausência de realização de ecocardiografia durante a internação. Esses resultados enfatizam a importância da seleção cuidadosa da abordagem terapêutica em pacientes com síndrome coronariana aguda, considerando fatores individuais e características clínicas, com o objetivo de otimizar os desfechos clínicos e reduzir a mortalidade. Considerações finais: Na presente pesquisa a incidência de óbito em pacientes com síndrome coronariana aguda oriundos da assistência pré-hospitalar foi de 8,4% e verificou-se fatores de risco clínicos e do atendimento intrahospitalar com a sua ocorrência, o que enfatiza a importância dos fatores relacionados ao óbito em pacientes com síndrome coronariana aguda para otimizar os desfechos clínicos e reduzir a mortalidade. Portanto deve-se fazer o diagnóstico precoce através de métodos complementares disponíveis e baseados em evidências que permita à redução da letalidade tanto na fase intra-hospitalar quanto em médio e longo prazos. Neste sentido a organização da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde, mais do que uma prioridade, é uma necessidade premente, de modo a intervir de forma organizada e efetiva nas doenças cardiovasculares.
Apoio financeiro: EDITAL FAPES nº 04/2022- PROGRAMA DE APOIO AOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO CAPIXABAS EMERGENTES – PROAPEM