No estado do Pará, como em todo o Brasil, os povos indígenas necessitam de atendimento em seus próprios territórios com médicos e outros profissionais da saúde habilitados ou instruídos para atender suas peculiaridades dentro dessas comunidades; por outro viés, é imprescindível a qualquer médico o olhar atento às necessidades e particularidades de cada paciente, ainda mais sendo que a saúde indígena possui demandas sociais, culturais e econômicas com caráter plural e muito diverso. Além disso, como povos originários e primeiros habitantes do país, eles deveriam ter atendimento prioritário, mas não é o que ocorre, contribuindo para o extermínio (já em avanço) dos mesmos. Isso tornou-se mais evidente no período da pandemia de COVID -19 e diante da distribuição territorial em que se encontra a população indígena do estado do Pará, o qual apresenta uma das maiores diversidades étnicas do país, distribuídas tanto nos 65 territórios indígenas, como na capital, Belém. Observa-se também uma carência de estudos sobre a infecção causada pelo SARS-CoV-2 em pacientes indígenas, tornando necessário delimitar estudos sobre essa nova patologia e para esse tipo específico de população. Perante esse cenário, a presente pesquisa apresenta um estudo epidemiológico da COVID-19 entre os indígenas do estado do Pará nas semanas epidemiológicas da primeira à décima primeira do ano de 2021, identificando sua incidência, mortalidade, distribuição dos óbitos por sexo e quantificando o desfecho através de um estudo quantitativo, cujos dados foram obtidos na SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) disponibilizados pelo Ministério da Saúde e APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). Na análise dos resultados, percebeu-se que há discrepância entre o número de óbitos registrados e o esperado, de acordo com o aumento do número de casos e da incidência, sem aumento proporcional de óbitos e mortalidade. Considerando estes dados, a letalidade da doença nos indígenas estaria muito abaixo da letalidade da doença na população em geral, e, sabendo-se da vulnerabilidade do povo nativo, estes são resultados altamente improváveis. Abordou-se também o provável adoecimento psíquico gerado no indígena devido ao impacto social e cultural que o isolamento pela pandemia gerou sobre um povo cujo modo de vida é fundamentalmente comunitário. Em acréscimo, evidenciou-se a vulnerabilidade dos indígenas frente a epidemias por condições de vida que favorecem à proliferação rápida de doenças infecciosas nas aldeias, como compartilhamento de utensílios domésticos, habitações coletivas com grande número de pessoas, dificuldade no acesso ao sistema de saúde, seja pela distância geográfica, seja pela insuficiência no atendimento específico por parte dos órgãos competentes e até falhas no sistema de notificação. Somando-se aos resultados, espera-se que essa pesquisa contribua em estudos futuros, aprofundando os conhecimentos sobre a referida doença nestes povos e pela necessidade de olhar diferenciado para essa parcela da sociedade, auxiliando os órgãos de saúde na tomada de decisões quanto à prevenção, tratamentos e às formas de vacinação, visando a erradicação do SARS-CoV-2 - e outras epidemias futuras - em comunidades indígenas.