Uma mãe segura a outra: proteção e promoção da saúde mental e do bem-viver maternos amazônidas

  • Author
  • Valéria da Silva de Sousa
  • Co-authors
  • Marceli Amorim Pereira , Márcio Mariath Belloc
  • Abstract
  • O presente resumo discorre sobre a reflexão integrativa da pesquisa-ação participativa conduzida no âmbito da pesquisa de promoção e prevenção da saúde mental e do bem viver das mulheres amazônidas, residentes no território adscrito à Unidade Básica de Saúde Portal da Amazônia,região próxima ao centro da cidade de Belém do Pará. O foco principal dessa investigação é sobre a saúde mental materna, delineando a necessidade de intervenção nesse contexto específico. A pesquisa de campo, realizada em colaboração com os profissionais do citado serviço de atenção primária em saúde, revelou a carência de suporte adequado para as mães, especialmente em face da sobrecarga física e mental decorrente das responsabilidades maternas. A saúde mental materna abrange o bem-estar psicológico e emocional das mulheres durante a gestação, o parto, o pós-parto e os primeiros anos de maternidade. Essa dimensão engloba a habilidade das mães em lidar com o estresse, administrar suas emoções, cultivar relacionamentos saudáveis e enfrentar os desafios inerentes à parentalidade. A importância desse aspecto transcende o indivíduo, afetando diretamente o bem-estar do bebê e da família como um todo. Uma mãe com saúde mental equilibrada é capaz de desempenhar um papel ativo no cuidado infantil, estabelecer vínculos afetivos saudáveis e proporcionar um ambiente propício adequado ao desenvolvimento infantil. Em primeiro momento, foram conduzidas reuniões com a equipe da unidade de saúde, visando a um alinhamento teórico e a identificação das potencialidades e demandas da unidade. Entre essas demandas, surgiu a necessidade de estabelecer um grupo de ajuda e suporte mútuo em saúde mental destinado a mulheres mães, com o propósito de proporcionar cuidado às cuidadoras. Diante dessa realidade, o referido projeto, construído conjuntamente com a gestão da Unidade e a equipe multiprofissional (eMulti) de referência e nomeado como “Uma Mãe Segura a Outra”, destaca a importância de atenção específica à saúde mental materna durante o período gestacional e nos primeiros anos da infância, uma fase frequentemente negligenciada tanto pelas políticas públicas de saúde quanto pela sociedade em geral. Embasado em diretrizes da Organização Mundial da Saúde e em pesquisas recentes, o projeto propõe a criação de um ambiente seguro e acolhedor para compartilhamento de experiências e apoio emocional entre mães, com ênfase em mulheres até 30 anos de idade, faixa etária frequentemente associada a problemas de ansiedade e depressão pós-parto. O projeto foi aprovado e deu-se início à sua implementação no território, contando com a contribuição de membros da equipe da unidade de saúde. Embora o projeto tenha sido concebido com o objetivo de atingir mães com até 30 anos, verificou-se a participação de mulheres com a faixa etária acima da sugerida, durante a primeira roda de conversa, realizada no auditório da unidade de saúde, com a presença de quatro mulheres. Este encontro inicial evidenciou o potencial do grupo e a necessidade de sua efetivação. Durante as discussões grupais, as participantes expressaram experiências marcantes de sobrecarga e culpa, enfrentadas diante das dificuldades maternas. Ao término do encontro, observou-se um momento de acolhimento mútuo, evidenciado pela troca de elogios e apoio entre as participantes. Após esta reunião, a unidade de saúde entrou em recesso devido às festas de fim de ano, tendo a próxima reunião agendada para o dia 10 de janeiro, na qual, infelizmente, nenhuma usuária unidade de saúde compareceu. Diante deste cenário, o grupo de pesquisa promoveu uma reunião para discutir estratégias de captação do público-alvo do grupo de apoio e suporte mútuo. Durante a retomada das ações no início do ano de 2024, foi realizado em conjunto com os agentes comunitários de saúde (AC’s) recém-contratados e a equipe multiprofissional. O serviço que havia passada longos meses sem estes profissionais, agora estava em plena atividade em território. Em nosso planejamento estratégico decidimos acompanhar as visitas domiciliares em residências ao redor do território escolhido como referência para as primeiras atividades voltadas ao programa bem-viver. Foram visitadas residências com ações de educação em saúde no escopo do projeto do grupo de mães, escutando as demandas e conhecendo a população que costuma frequentar de forma constante a unidade de referência. Em primeiro contato, foi bem aceito pela comunidade a ideia de presenciar e participar de algumas reuniões, aindaque sejam apenas para conhecer. Foi enfatizado o fator de ter profissionais multidisciplinares para as rodas de conversas, onde algumas pessoas sentiram-se mais confortáveis para estarem presentes. De nossa escuta do território observamosalguns pontos que são muito debatidos durante a criação do programa na comunidade: o fator de que, só pessoas com algum adoecimento mental mereçam certo tipo de acompanhamento, apoio e tratamento, segundo alguns residentes visitados.Apesar de certa relutância ainda dos moradores, a divulgação teve seu fim com números positivos para o engajamento do programa na unidade, onde se mostraram dispostos a participar e dar continuidade ao atendimento e colaborar nas rodas de conversa. Assim, em contraste com a visita inicial realizada, podemos observar que a  saúde mental materna pouco é discutida nas consultas pré-natais dospostos de saúde da região. Em pesquisa sobre tal cuidado (ENSP/ FIO CRUZ, 2023) cerca de 82% das mulheres que apresentam processos de padecimento que se aproximam ao possível diagnóstico de depressão perinatal vivem essa situação sem acesso ao cuidado. Fato que pode causar inúmeros problemas a essas mulheres, suas famílias e até mesmo seus filhos, sem o devido acompanhamento, ficando cada vez mais vulneráveis ao padecimento mental e físico. Cabe ainda salientar a constatação de que as mais atingidas e menos cuidadas formalmente são as mulheres negras e em vulnerabilidade socioeconômica, desvelando um de tantos fatores estruturais, que multiplicam as violências racistas. A questão social tem uma grande importância sobre a saúde mental materna em mães com vulnerabilidade socioeconômica. Segundo dados e estudos recentes (IHME, 2023) mães e mulheres que enfrentam desafios socioeconômicos, como pobreza, falta de acesso a serviços de saúde e moradia precária, estão mais suscetíveis a problemas de saúde mental devido ao estresse, ansiedade e falta de apoio, gerando impacto diretamente a saúde mental. Destarte, torna-se fundamental a abordagem sobre a questão social, dentre a um diálogo aberto e acolhedor, tratando da saúde mental materna de forma integrada, garantindo o acesso a serviços de saúde, apoio psicossocial, programas de assistência social e políticas públicas. O apoio holístico e a abordagem integral são essenciais para promover o bem-viver das mães em situação de vulnerabilidade. Dessa forma, o programa vem com o objetivo de contribuir para a redução do estigma em relação aos problemas psicológicos, encorajando mães a buscar ajuda e apoio sem medo de julgamentos ou discriminação.

     

  • Keywords
  • Saúde Mental Materna, Promoção, Bem-Viver, Proteção
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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