O Brasil conta com o maior sistema público de saúde do mundo – o Sistema Único de Saúde (SUS). Este sistema demanda, diariamente, nas mais variadas localidades do Brasil, um número importante de profissionais da saúde, de diferentes núcleos e serviços para atuarem em contextos de necessidades em saúde cada vez maiores e complexas. Tal conjuntura faz com que seus trabalhadores convivam com desafios na sua rotina de trabalho. Há, também, o contexto da formação na graduação destes profissionais, onde o processo educativo não parece estar direcionado ao trabalho colaborativo em equipe centrado na necessidade das pessoas-famílias e comunidade como eixos ordenadores do processo educativo, apesar dos avanços observados nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Considerando que a educação permanente em saúde (EPS) promove a formação dos profissionais do SUS baseada nas demandas e realidades dos seus locais de trabalho, esta se torna uma ferramenta estratégica de qualificação profissional e consequente melhoria da atenção à saúde. Buscando a lógica da formação a partir da EPS no SUS, os programas de pós-graduação na modalidade stricto sensu de Mestrado Profissional (MP) se destacam no país. O MP deve ter uma estrutura curricular que articule conhecimentos atualizados, domínio de metodologia pertinente e aplicação orientada para o campo de atuação profissional de cada educando. O MP traz, também, a exigência do desenvolvimento de produtos técnicos a partir de problemas de pesquisa formulados nas vivências de trabalho dos profissionais mestrandos. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o MP em Ensino na Saúde (PPG EnSau), com programa multiprofissional vinculado à Faculdade de Medicina, é desenvolvido em uma base curricular fundamentada na atuação profissional para o SUS, estimulando a produção de inovação tecnológica na área da educação na saúde, com a incorporação de produtos técnicos aos serviços do SUS em que os mestrandos atuam. Este relato de experiência trata de uma reflexão de profissionais egressas do PPG EnSau, de 2021-2023, período pandêmico, associado ao ensino remoto emergencial. Tanto pelas experiências educacionais vivenciadas, como pelos novos aprendizados conquistados, foi possível verificar que o currículo e docentes deste MP estimularam o pensamento coletivo, por meio da teorização associada à problematização de situações do trabalho, se mostrando um espaço de estímulo ao pensamento freiriano, além de evidenciar a relevância do trabalho interprofissional. O profissional da saúde, enquanto educando-educador em permanente aprendizagem, percebe-se contribuindo com a formação de colegas, também profissionais e usuários do SUS. Este processo educativo envolve, no adulto, vivências individuais e coletivas que contribuem para a problematização-reflexão sobre situações problemas, afastando-se do modelo de educação bancária, caracterizado pelo simples depósito de conhecimentos. A vivência do aprendizado compartilhado que busca a autonomia por meio de metodologias ativas em um processo horizontal, se reflete não só na produção de um produto acadêmico, mas na prática profissional, ampliando o olhar em relação aos processos de educação na/em saúde e na mudança de realidades loco-regionais. O MP se mostrou, nesta experiência, como uma potente possibilidade de formação profissional, tendo impacto na melhoria dos serviços de saúde aos quais seus discentes estão vinculados.