EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AS OFICINAS DE FORMAÇÃO DOS AGENTES DE COMBATE ÀS ENDEMIAS PARA CONTROLE DA MALÁRIA EM MANICORÉ (AMAZONAS)

  • Author
  • Alexsandro Felix de Oliveira
  • Co-authors
  • Mariles da Silva Bentes , Liliane da Silva Soares , Maria da Glória Viana dos Santos , Erivan Souza da Costa , Maria Adriana Moreira , William Pereira Santos
  • Abstract
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    Introdução: A malária é uma doença infecciosa febril aguda, grave, causada pelo parasita do gênero Plasmodium, que é transmitido aos seres humanos pela picada de fêmeas infectadas dos mosquitos Anopheles, conhecidos como “mosquito-prego” e carapanã. Esses mosquitos são comuns em áreas tropicais e têm hábitos crepusculares, sendo mais abundantes ao entardecer e ao amanhecer, mas também podem ter hábitos noturnos e picar o homem durante a noite. A transmissão da malária também pode ocorrer da mãe para o feto, durante o período de gestação, por transfusão sanguínea e pelo compartilhamento de seringas. As pessoas doentes ou assintomáticas são consideradas fontes de infecção para os mosquitos, visto que as formas sexuadas do parasita se alojam no organismo. A malária é uma doença que tem cura e o tratamento é eficaz, simples e garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas é recomendado que ocorra em até 24 horas após o início da febre, caso contrário a doença pode evoluir para formas mais graves quando não diagnosticada e tratada adequadamente. A prevenção também deve incluir o controle e a eliminação do mosquito transmissor, como medidas individuais, com uso de repelentes, roupas que protejam braços e pernas, e uso de telas nas janelas e portas para bloquear o acesso dos mosquitos às casas. As medidas também podem ser coletivas, com eliminação de focos de proliferação dos mosquitos. Devido à sua difusão e letalidade, a malária é uma doença infecto-parasitária considerada um problema de relevância pública no Brasil. Na saúde, os agentes de combate às endemias (ACE) atuam no sentido de colaborar com a prevenção de doenças e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das pessoas em seus territórios.

    Objetivo: Refletir sobre a estratégia de educação em saúde para apoiar o treinamento de ACE nas ações de controle da malária no distrito de Santo Antônio do Matupi, Manicoré (Amazonas).

    Relato do caso: Trata-se de um relato de experiência com base na capacitação dos Agentes de Combate às Endemias (ACE), realizada entre março e agosto de 2022, no distrito de Santo Antônio do Matupi (Manicoré, AM). A capacitação ocorreu no formato de oficinas e contou com a participação de uma equipe multidisciplinar, incluindo a gerência de endemias, enfermeira, microscopista, técnico em Vigilância em Saúde com ênfase em combate às endemias e apoiador técnico (Fiotec). A formação foi dividida em duas partes, sendo uma teórica, para apresentar uma visão geral sobre transmissão, sintomas, diagnóstico, prevenção, tratamento e a importância da atuação dos profissionais de saúde no enfrentamento à doença. É importante que os ACE mantenham atenção às questões apresentadas e estejam atentos aos sinais e sintomas da doença, visto que o diagnóstico tardio é uma das principais causas de morte. A parte prática consistiu numa prática pedagógica contribuindo para o desenvolvimento e compreensão das atividades que são desenvolvidas em campo. Dessa forma, os profissionais de saúde tiveram um treinamento sobre a coleta de material biológico, preparação da lâmina e microscopia para diagnóstico do agente causador da doença. Outra atividade abordada na oficina foi o preenchimento adequado da ficha de notificação da malária, ressaltando a importância desse instrumento para a vigilância, que se ocupa com o processamento das informações e articulação de medidas para controle da doença. A capacitação foi realizada, com o intuito de melhorar as condições de diagnóstico da malária no distrito supracitado, pois desde 2013 o município não atingia 70% do diagnóstico e, por conseguinte, comprometia o tratamento oportuno da doença, como é preconizado pelo Programa de Qualidade da Vigilância em Saúde (PQAVS). Conforme dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária (Sivep-Malária, abril/2024), Santo Antônio do Matupi (AM) representa 80% dos casos de malária do município de Manicoré, apresentando no ano de 2020: 770 casos, em 2021: 490 casos, em 2022: 204 casos, em 2023: 89 casos e no período de janeiro a março de 2024: 18 casos, sendo assim, considerado uma região endêmica. O elevado registro de malária na região pode ter relação com a dinâmica vetor/homem/ambiente, pois a maioria da população afetada reside em área rural e a transmissão ocorre, na maioria das vezes, nas proximidades de campos fechados. Territórios com essas características normalmente têm maiores taxas de ocorrência da malária, pois, esses fatores favorecem a proliferação do vetor e, por sua vez, a exposição das pessoas às áreas com registro do mosquito Anopheles. Além disso, os fatores socioeconômicos e ambientais são relevantes para a o surgimento e manutenção da endemia, pois potencializa o risco de adoecimento da população residente e transitória.

    Desenvolvimento: No município de Manicoré (AM), houve redução dos casos de malária nos últimos anos, sendo registrados 1.848 em 2020; 1.337 em 2021; 726 em 2022; 528 em 2023 e 141 de janeiro a março de 2024 (Sivep-Malária, abril/2024). A redução de casos demonstra um compromisso com a saúde pública no município. Visando diminuir a recorrência da malária e seus impactos no município, a Secretaria de Saúde viabilizou a capacitação dos ACE para atuação no distrito de Santo Antônio do Matupi, que concentra o maior número de casos. Esse distrito se localiza na Transamazônica (BR 230), estendendo-se por ambas as margens da rodovia, sendo conhecido, na região, como 180, pois está a 180 km do município de Humaitá (Amazonas). Trata-se de uma região com características importantes para a proliferação do mosquito transmissor, como arborização, temperatura elevada e alto índice de chuva, que colabora com a formação de criadouros. Além dessas condições, deve ser considerado o desmatamento, que contribui com o avanço dos mosquitos para outras regiões e a aproximação e ocupação dos seres humanos em regiões em que há registros da doença. Considerando a complexidade da doença devido a relação que ela estabelece com questões sociais e ambientais, a formação em saúde é considerada central no processo de práticas profissionais devido à capacidade de intervir e aproximar-se das necessidades das pessoas, dos territórios e da realidade sanitária na qual as pessoas estão inseridas. A oficina realizada contou com a participação relevante dos próprios ACE, que puderam contribuir com a experiência profissional que possuem sobre a organização dos serviços de saúde e atuação nos territórios. Além disso, foi baseada na realidade territorial, priorizando e compartilhando os problemas e demandas locais, com vista a diminuir o descompasso entre saúde e território. Dessa forma, a elaboração de estratégias de controle da malária e orientação às pessoas durante as vistorias de casas e postos de trabalho, por exemplo, podem ser importantes para a obtenção de resultados positivos.

    Conclusão: A oficina realizada em Santo Antônio do Matupi fortaleceu a integração entre as equipes de vigilância em saúde, atenção básica e a própria comunidade. Foi possível, portanto, ressignificar o olhar dos profissionais para a doença, que exige compreensão para além da dimensão puramente biológica, que já é relevante, mas insuficiente para responder todas as questões quando se trata da malária. Espera-se, com a implantação da oficina, que os casos de malária diminuam na região, garantindo mais qualidade de vida às pessoas. Dessa forma, a capacitação teve abordagem direta com a saúde pública, mantendo uma interface entre a saúde e a educação, garantindo a qualificação na formação da força de trabalho para o SUS.

  • Keywords
  • Agente de Combate às Endemias (ACE); Educação em Saúde; Formação Profissional em Saúde; Malária
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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