APRESENTAÇÃO
A adolescência é entendida como o período entre 10 a 19 anos de idade, sendo vista como um momento do desenvolvimento humano, cercado de diversos aspectos e significados, configurando-se como o resultado de uma construção histórica, política, cultural e política. Diante disso, a escola é tida como um cenário estratégico para formação de cidadãos socialmente conscientes, bem como de valores, crenças e autoconhecimento, sendo portanto um grande dispositivo para ações de promoção da saúde.
Criado pelo decreto nº 6.286/2007, o Programa Saúde na Escola (PSE) é voltado para crianças e adolescentes da rede de educação básica e pública, sendo responsável pelo fortalecimento entre educação e saúde. Dentro do escopo de ações previstas pelo PSE, são levadas em consideração as práticas de promoção, prevenção e assistência à saúde que devem ser articuladas com a rede de educação pública, fundamentadas nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Diversos aspectos podem ser trabalhados com o público adolescente nas escolas, entre eles: sexualidade, bullying, ansiedade, depressão, cuidados com o meio ambiente, autocuidado e auto aceitação, entre outros. Para isso, a abordagem em grupos terapêuticos é muito eficaz, pois leva em conta uma característica da própria adolescência, de se construir através da coletividade, dentro da escola, local em que passam grande parte do tempo.
Diante desse contexto, a Atenção Primária em Saúde (APS), deve trabalhar com as escolas de maneira estratégica, visando ampliar a procura do adolesente pelo serviço de saúde. Nesse contexto, a oferta de grupos de encontros com adolescentes, oportuniza seu protagonismo, dispondo de conhecimento que lhe permitirá tomar suas decisões com segurança, dispondo do apoio de profissionais de saúde e da escola.
O presente trabalho se configura como um estudo descritivo, de um relato de experiência, onde é apresentada a vivência de residentes atuantes em um centro de saúde do município de Florianópolis, Santa Catarina, integrantes de dois Programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, sendo o primeiro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o segundo da Escola de Saúde Pública de Florianópolis (ESP). Essa vivência, diz respeito à implementação e manutenção de um grupo de adolescentes dentro de uma escola de ensino médio, inserida dentro do território do Centro de Saúde designado como cenário de prática dos profissionais residentes.
Tendo como população alvo os alunos do 8º e 9º ano da escola, turmas do turno da manhã e do turno da tarde, o grupo tem como objetivo geral promover ações de saúde tendo em vista a saúde integral dos adolescentes. Além disso, foram elegidos como objetivos específicos, primeiramente, promover a discussão sobre temas que impactam nas questões de saúde dos adolescentes envolvendo seus contextos socioculturais, e conhecer as limitações e as potencialidades dos adolescentes que residem no território ampliado de abrangência do Centro de Saúde.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO:
O projeto teve início em maio de 2023 e foi até dezembro do mesmo ano, final do ano letivo, com pretensão de ser retomado no início de 2024. Sendo assim, os grupos eram abertos, mantendo encontros quinzenais ao longo do ano de 2023, no auditório da escola, inicialmente durante o contraturno dos estudantes, mas por falta de adesão, passou a ser realizado no mesmo turno de aula dos alunos, de maneira pactuada com a escola para não haver prejuízo das atividades.
Além disso, os encontros, bem como materiais e dinâmicas utilizadas, eram organizados previamente pelos residentes envolvidos, com divulgação do tema para a escola, estimulando a participação dos alunos. Nesses encontros, participaram adolescentes, entre 12 e 15 anos, os temas dos encontros foram escolhidos em conjunto com público-alvo, bem como a construção das regras do mesmo, entre elas o respeito às diferentes opiniões e reconhecimento de que o grupo seria um local livre de preconceitos.
RESULTADOS:
O grupo possibilitou trabalhar diversos temas com o público-alvo, entre eles: sexualidade, saúde planetária, saúde mental, bullying, racismo, violência contra a mulher, ansiedade e corporalidade, sendo escrita uma ata com os pontos discutidos com maior importância durante os encontros. Com isso, os adolescentes eram em sua maioria participativos e interessados, observou-se que havia uma carência de informações sobre os temas trabalhados, e que o projeto possibilitaria justamente chegar onde a escola e as famílias não conseguem sozinhas.
Durante os encontros, o público alvo teve liberdade e segurança para compartilhar dúvidas ou fatos de suas vidas, contribuindo para que a busca pelo serviço de saúde fosse algo natural e livre de julgamentos. Com isso, foi possível realizar a troca de saberes, tirando o profissional de saúde deste local de detentor de todo o conhecimento em saúde.
Além disso, destacou-se a criação e fortalecimento do vínculo do público alvo com os profissionais de saúde e serviço, já que muitos adolescentes buscaram o serviço após os encontros para aprofundarem questões debatidas no grupo. Sendo assim, os objetivos do grupo foram alcançados, oferecendo um ambiente seguro para sanar dúvidas e trocar conhecimentos, fortalecendo a convivência e apoio mútuo entre os adolescentes, e discutindo temas relevantes que os profissionais da educação tinham dificuldades em abordar.
Portanto, a implementação do grupo de adolescentes, pelos profissionais residentes, promoveu o aperfeiçoamento na promoção do cuidado em território, tendo em vista que a sobrecarga de trabalho contribui para que os profissionais efetivos do serviço tenham disponibilidade para essas práticas. Com isso, espera-se que a nova turma de profissionais residentes que chegará ao serviço possa estar se envolvendo com o grupo e garantindo a sua continuidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O projeto demonstrou êxito ao promover um espaço seguro e acolhedor para os adolescentes discutirem questões relevantes para sua saúde integral. A participação ativa dos jovens evidenciou a necessidade de informação e apoio, complementando as lacunas deixadas pela escola e família. O fortalecimento do vínculo entre os adolescentes e os profissionais de saúde contribuiu para uma maior procura aos serviços de saúde, evidenciando a importância da abordagem integrada entre saúde e educação.
Como potencialidade, destacam-se os benefícios que o grupo proporciona na formação de jovens mais conscientes, com mais autonomia e conhecimento, aumentando a proximidade e o vínculo com o serviço de saúde, potencializando a educação em saúde e fortalecendo a APS.
Como desafios, apontam-se a necessidade do envolvimento dos demais profissionais da rede de saúde, além dos residentes, pois embora haja todo um contexto da demanda de atendimentos em consultório, as atividades no território trabalham a promoção da saúde e prevenção de agravos que são importantes para a população e são os pilares da atenção primária à saúde.