Desmistificando a ansiedade com adolescentes da rede pública de ensino: um relato de experiência

  • Author
  • David Andrey da Silva
  • Co-authors
  • Elisandra das Neves Buaez , Luísa Vitória Gehrke , Isabel Cardoso de Carvalho , Heloísa Marques de Andrade , Fabíola Michele Gessner , Rafaela Spengler , Maysa Alves de Sousa Almeida , Marcela Lopes Barp
  • Abstract
  • APRESENTAÇÃO

     

    As Residências Multiprofissionais em Saúde da Família consistem em programas de pós-graduação lato sensu que visam capacitar profissionais de saúde para atuarem efetivamente no Sistema Único de Saúde (SUS), com foco na Atenção Primária à Saúde (APS), através de um curso de especialização baseado em ensino em serviço, une atividades práticas, teóricas e teórico-práticas. Esses programas, alinhados com as diretrizes da Política de Educação Permanente em Saúde do Ministério da Saúde, buscam desenvolver competências técnico-científicas, políticas e éticas necessárias para a Estratégia de Saúde da Família, fazendo deste modo com que esta abordagem contribua para a consolidação das políticas de saúde e fortalecimento do SUS. 

    O Programa Saúde na Escola (PSE) é uma iniciativa intersetorial, entre as esferas da saúde e da educação, que busca articular e ampliar entre as mesmas ações de prevenção, promoção e atenção à saúde para estudantes da rede pública. 

    Este trabalho consiste em estudo descritivo, de um relato de experiência que apresenta a vivência de residentes atuantes em um centro de saúde do município de Florianópolis, Santa Catarina, integrantes de dois Programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, sendo o primeiro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o segundo da Escola de Saúde Pública de Florianópolis (ESP). Essa vivência, diz respeito a realização de uma roda de conversa sobre o tema “ansiedade”, tendo como população alvo da ação alunos da rede pública de educação. Esse trabalho teve como objetivo introduzir o tema ansiedade com clareza aos estudantes, oportunizando uma reflexão crítica sobre o conceito de ansiedade, desmistificando ideias referentes a pré-julgamentos, e socialmente impostas.

     

    DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

     

    A atividade foi realizada no mês de junho de 2023 e teve como público-alvo alunos do ensino fundamental do 6º ao 9º ano e do 1º ao 3º ano do ensino médio de uma escola pública estadual de Florianópolis. Levando em consideração a diferença de idade entre os alunos, foram realizados dois grupos por turno, entre matutino e vespertino, formando-se em cada período do dia um grupo antes do período de intervalo e outro após o mesmo, para aprimorar a experiência dos alunos. Cada encontro durou em torno de uma hora e trinta minutos.

    Durante a ação os profissionais residentes trouxeram, através de narrativas, pontos chave para discussão, visou-se informar sobre a diferenciação entre ansiedade normal e patológica, apresentando atividades que podem contribuir para a redução da ansiedade, como a mudança de hábitos de vida, atividade física, fortalecimento de vínculos para apoio e; técnicas, como a respiração diafragmática para alívio momentâneo. Também houveram orientações sobre os serviços disponíveis na rede de saúde, como o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), o Centro de Valorização da Vida (CVV), bem como o próprio centro de saúde, para casos que necessitam de apoio profissional. Ao final, foi realizada uma prática de relaxamento, trabalhando com os sentidos da audição e do tato, além da respiração, com duração aproximada de 10 minutos.

    No decorrer da exposição da temática, foi oportunizado espaço aos estudantes para que os mesmos pudessem trazer suas dúvidas e conceitos sobre a ansiedade com a finalidade de uma construção de conhecimentos de forma dialógica para tanto para os estudantes quanto para os profissionais residentes. Os questionamentos e comentários mais levantados envolveram as perspectivas relacionadas ao manejo da ansiedade, bem como a possibilidade de menores de idade, no caso os próprios estudantes, terem acesso a consultas e as terapêuticas disponíveis na rede sem a presença dos seus responsáveis.

    Como forma de encerramento da ação, os profissionais residentes, juntamente dos estudantes, tiveram a oportunidade de refletir sobre o que foi vivenciado. Durante esse momento, discutimos pontos positivos, negativos e aspectos relevantes para melhorar futuros encontros.

     

    RESULTADOS

     

    Muitos alunos destacaram a importância da iniciativa realizada na escola, pois através da mesma tiveram uma compreensão mais aprofundada sobre a temática apresentada, aspecto pensado previamente como algo positivo e capaz de favorecer a aproximação entre os eixos de saúde e educação por parte dos profissionais residentes. Além disso, alguns ressaltaram como essa ação ajudou a desmistificar a visão de pessoas que consideram o tema como algo insignificante ou até mesmo loucura. A relevância de conhecer e reconhecer os pontos da rede de atenção à saúde, principalmente voltados a saúde mental, também foi destacada como essencial durante a realização da ação.

    No entanto, também compartilhamos aspectos que poderiam ter sido melhores. Houve relatos sobre a falta de colaboração, barulho e distração por parte de alguns colegas, o que prejudicou um pouco a experiência com a atividade. Foi mencionada, também, a dificuldade em expressar seus sentimentos durante a atividade, seja por vergonha ou pelo receio do julgamento dos outros e que talvez isso tenha sido influenciado pelo grande número de participantes na ação.

    Quanto às sugestões para futuros encontros, tanto os profissionais residentes quanto os estudantes, concordaram que seria mais proveitoso realizar a ação em grupos menores, para que todos se sentissem mais à vontade para compartilhar seus anseios e dúvidas. Além disso, expressamos o desejo de abordar outros temas sensíveis a esse público e que foram levantados ao longo da ação, como depressão e automutilação, tendo uma boa receptividade por parte dos estudantes. Nos foi sugerido ajustes no modelo de apresentação, como torná-lo mais dinâmico e utilizar slides para facilitar a visualização e o entendimento de certos conceitos.

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     

    Apesar dos desafios inerentes ao processo e das áreas que identificamos como passíveis de melhoria, consideramos que alcançamos de forma satisfatória o objetivo primordial da ação, que consistia na introdução do tema da ansiedade e na estimulação de uma reflexão crítica a seu respeito. Nossa análise indica que os participantes que já demonstravam interesse prévio pelo tema se engajaram de maneira mais ativa e profunda, demonstrando uma predisposição maior para o diálogo e a interação. Entretanto, é importante ressaltar que temáticas sensíveis como esta tendem a suscitar discussões mais significativas e desinibidas em contextos de grupos reduzidos, o que sugere uma abordagem alternativa a ser considerada em futuras iniciativas. 

     

    É evidente a relevância da educação em saúde, pois a promoção do conhecimento sobre saúde mental pode contribuir não apenas para uma melhor compreensão individual, mas também para a redução do estigma e para a melhoria da qualidade de vida da comunidade em geral. Em síntese, avaliamos esta experiência como enriquecedora no que tange ao aprendizado sobre saúde mental, e estamos confiantes de que os conhecimentos adquiridos contribuirão significativamente para o aprimoramento de nossas próximas atividades e intervenções nesse âmbito.

     

  • Keywords
  • Saúde Mental, Educação em saúde, Adolescência
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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