Coletividade na gestação: grupo terapêutico de mães como criação de vínculos e rede de apoio multiprofissional

  • Author
  • Ester Naiá Ferreira Melo
  • Co-authors
  • Fátima Alice de Aguiar Quadros , Maria Yzabella Souza T. Franco , Leticia Laras Arguelho , Hellen Karolyne Oliveira Souza Carvalho , Evelyn Serafim Dutras , Themis Elise de Oliveira Moraes , Eloir Marques da Silva , Alyne Gomez Flores
  • Abstract
  • Apresentação 

    Este trabalho visa discutir acerca da experiência das residentes multiprofissionais e sua atuação com um grupo de mães realizado em uma unidade básica de saúde em Campo Grande - MS. Este grupo terapêutico foi organizado e iniciado pela equipe multidisciplinar de residentes em saúde da família, com ênfase em saúde da população indígena, da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS. 

    A partir da inserção da residência na unidade de saúde, foram formados grupos terapêuticos, ação que nunca tinha sido realizada antes no local. Nesse caso, o primeiro grupo iniciado foi o de mães, contemplando as mulheres em um geral, gestantes, puérperas, mães jovens, mais velhas e afins. Nesse sentido, o objetivo da construção desse espaço de trocas foi de assegurar um espaço coletivo e de apoio a essas mulheres. Por tal razão que pensar nessa vinculação entre as mulheres que fazem parte do território e da unidade poderia criar um espaço seguro de trocas entre essas mulheres para com elas e com as profissionais da unidade. 

    Vale ressaltar que a área em que a unidade está inserida possui vulnerabilidades complexas e variadas. O que contribui também com uma série de problemáticas relacionadas ao desenvolvimento de uma gravidez, cuidado com as crianças e muito mais. Por isso que, para além de um espaço que oferta serviços de saúde, é importante demonstrar como a unidade de saúde também é um espaço seguro de garantia de direitos, de construção de relações, trocas e vinculações. Nesse sentido, tivemos como enfoque o desenvolvimento de atividades que fortalecesse o envolvimento entre as participantes, as profissionais de saúde e os mecanismos de garantia de direitos. 

    Além disso, o grupo ser operado por diferentes profissionais de saúde também contribui para uma possibilidade de resolutividade de problemas mais adequados e técnicos. O que incentiva também um trabalho de letramento com base na educação popular em saúde, um melhor encaminhamento para outras especialidades e trocas de saberes. 

      

      

    Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência 

    O grupo terapêutico conta com a participação de uma equipe multidisciplinar composta por sete (7) profissionais, sendo duas (2) psicólogas, duas (2) enfermeiras, duas (2) odontólogas e uma (1) profissional de educação física que rotacionam a participação ao longo dos encontros. A periodicidade do grupo é de dois encontros por mês, sendo organizados de 15 em 15 dias. Além disso, é preciso destacar que para possibilitar a participação de tantos profissionais foi organizado e coordenado rodízios. Assim, ter essa rotatividade no grupo também é uma possibilidade de demonstrar para as participantes que há uma proximidade com várias áreas e um melhor contato entre profissionais. De modo a também sensibilizar que o trabalho de cuidado da saúde da mulher, principalmente as que são mães, é um trabalho holístico e que deve ser conjunto. 

    Para além de um grupo terapêutico, vincular as participantes (mães e profissionais da saúde) também contempla uma abertura de multiplicação de informações, ligada até a uma concepção de educação permanente. O que demonstra que a saúde para além daquele conceito ultrapassado de saúde e doença, é pensar o ser humano como um todo e utilizar do serviço de saúde também como uma possibilidade de ensino sobre técnicas e manejos possíveis de serem utilizados pelas próprias pessoas. 

    Como exemplo, tivemos um grande interesse das participantes por exercícios físicos para a gravidez ou para ser utilizado com os bebês. Nesse sentido, a oferta de oficinas dentro do grupo também é um modo de possibilitar que a saúde se perpetue para além dos muros da unidade. 

    Ter uma dinâmica aberta às demandas das mães é também um princípio para que o grupo seja operativo. Principalmente dado ao sentido de que com o passar dos encontros há uma evolução das participantes quanto às atividades propostas e a percepção de pensar em resoluções baseadas em trocas realizadas e que foram manifestadas no próprio grupo. 

    Tal dinamicidade dentro do grupo terapêutico também gera demandas que para além de uma resolutividade baseada em contexto de saúde médica, as mães tragam suas experiências empíricas também como possibilidade de resolução de problemas. Nesse sentido, quando acontecem tais trocas é importante relacionar tais experiências também com os conhecimentos técnicos das profissionais, pois isso estimulava as mulheres a compreenderem melhor sobre as práticas já conhecidas e realizadas por elas. Também foi comum repensarmos outros modos de realizar tais práticas, quando existiam riscos específicos relacionados a elas. Vale ressaltar que tais trocas também eram um modo de vincular essas mães a outros mecanismos de saúde ofertados pela unidade. Como por exemplo preventivos, exames, coleta de sangue e outros. 

     

    Resultados 

    Por ser um grupo novo na unidade, seu início não teve uma adesão numérica tão relevante inicialmente. Entretanto, as poucas participantes se abriram e participaram de todas as dinâmicas e atividades propostas. E o que deveria ser algo desmotivador se tornou estimulante, pois as poucas participantes se sentiram seguras nesse espaço para chorar, desabafar angústias, receios, momentos da gestação e cuidados dos filhos difíceis e dolorosos.  

    Tal encontro gerou também multiplicadoras de saúde, pois, as mães que participaram foram chamando outras para estarem presentes nos encontros seguintes. E assim a construção desse espaço terapêutico foi construído de fato pelas próprias mães, que nos encontros disseminaram os conhecimentos, trocas e vínculos que aconteceram no grupo. De modo a ser um crescimento conjunto das profissionais com as participantes. 

      

    Considerações finais 

    Para finalizar é preciso lembrar que a saúde só possui desenvolvimento se existir o envolvimento. Indicadores são marcos importantes da atenção básica, mas eles só podem e devem ser alcançados a partir da vinculação com os usuários. E, no caso principalmente das gestantes, os marcadores são de suma importância para a área da enfermagem.  

    Porém, para além de um acompanhamento em saúde dessas mulheres e mães, o grupo terapêutico partiu do princípio, de ser constituído enquanto um espaço seguro, de apoio e suporte para essas mulheres. Pois, a saúde precisa garantir um atendimento biopsicossocial, que vá além de um viés hierárquico entre profissional e paciente. Assim, o grupo foi feito também com a intenção de integrar a rede de apoio dessas mães que fazem parte da comunidade. 

  • Keywords
  • grupo terapêutico; mães; gestantes; equipe multiprofissional; rede de apoio.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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