Apresentação: Com a feminilização do HIV, as políticas públicas desenvolvidas com um olhar mais sensível às especificidades desse grupo passaram a ser implementadas. As principais estratégias estão centradas na testagem nos períodos do parto e pré-natal, bem como nos encaminhamentos para tratar aqueles casos reagentes para o HIV. Para que haja garantia do exercício dos direitos à saúde sexual e reprodutiva das pessoas vivendo com HIV (PVHIV), é fundamental que sejam asseguradas condições livres de violência, coerção, discriminação ou qualquer outra forma de restrição. É essencial assegurar a autonomia dos sujeitos em relação às suas práticas sexuais e decisões reprodutivas, validando a necessidade de garantir que mulheres que vivem com HIV/Aids possam ter filhos e sejam assistidas pelo sistema de saúde. O objetivo deste trabalho é analisar as percepções de mulheres vivendo com HIV/Aids acerca dos serviços de atenção à saúde das mulheres a partir de suas experiências enquanto mães após receberem o diagnóstico reagente para o HIV. Desenvolvimento do trabalho: Foi desenvolvida uma pesquisa com abordagem cartográfica, sendo realizadas entrevistas com 10 mulheres que tiveram o diagnóstico de HIV durante a gestação ou antes de se tornarem gestante. Neste trabalho, fazemos um recorte de análise destacando uma das oito cenas produzidas na pesquisa. Resultados: Todas as dez mulheres entrevistadas tiveram mais de uma gestação, dentre elas, apenas três tiveram gestações planejadas. Há marcadores sociais importantes que impactaram o acesso e a experiência dessas mães às políticas de saúde. Como por exemplo, algumas foram mães e se infectaram com HIV na adolescência, não tendo a oportunidade de planejarem suas gestações. Determinadas participantes evidenciaram, em suas narrativas, posturas de profissionais com discursos pretensamente técnicos, associando-se um discurso moral, ligado à ideia de "recomendação ou não recomendação", "aprovação ou reprovação". Ainda, em posturas baseadas em estigmas relacionados ao HIV. Já para outras participantes demonstraram a importância e o impacto positivo do acesso às equipes de saúde tanto no planejamento quanto na descoberta da gestação no contexto do HIV. Considerações finais: Diante das análises realizadas, torna-se evidente a complexidade e a multiplicidade de experiências vivenciadas por mulheres que enfrentam o desafio de viver com HIV/Aids enquanto mães. É fundamental reconhecer que as trajetórias das mulheres vivendo com HIV/Aids influenciam significativamente suas experiências e necessidades durante a gestação e maternidade. Portanto, políticas e programas de saúde devem ser sensíveis para atender às diversas realidades, atentando-se aos marcadores sociais e sob a perspectiva interseccional garantir acesso equitativo a serviços de saúde sexual e reprodutiva, livre de violência, discriminação e estigma. Pois o acesso a essas políticas, quando baseadas no acolhimento e no fornecimento de informações adequadas tem um papel fundamental nos contornos das experiências dessas mulheres.