Apresentação: o trabalho do enfermeiro está envolto por inúmeras atribuições, dentre elas a educação em saúde, que consiste em participar da formação, capacitação e informatização tanto de outros profissionais quanto da comunidade. Dessarte, tem-se na escola um local considerado privilegiado no desenvolvimento de cidadãos por permitir a integração e articulação entre educação e saúde. Ações deste segmento podem ser realizadas por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), que visa melhoria da qualidade de vida das crianças e adolescentes, impactando diretamente no bem estar da comunidade. Dentre as temáticas de ampla necessidade para intervenções educativas no cenário escolar, está a violência do contexto escolar, que se caracteriza por uma ação ou omissão que causa ou visa causar dano à escola, à comunidade escolar ou algum de seus membros. Isto posto, o presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem na realização de atividade educativa sobre o enfrentamento da violência no contexto escolar. Desenvolvimento: na Proposta Pedagógica Curricular do curso de graduação em enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), está estruturada a disciplina de enfermagem em Saúde Comunitária IV, a qual aborda em sua ementa, conteúdos relacionados à saúde da criança e do adolescente. No exercício pedagógico do ensino contemplam-se atividades teórico-práticas que são desenvolvidas por meio de atividades educativas em uma escola de educação básica. A organização desta atividade ocorre em parceria entre a universidade, a Unidade Básica de Saúde (UBS) e a escola que está situada no território de abrangência da UBS. Para este fim estruturam-se elementos que contemplem objetivos do PSE e a necessidade da comunidade relacionada à educação em saúde. No semestre 2023-2, a referida escola optou pela escolha da temática “o enfrentamento da violência e do Bullying”. O preparo dos acadêmicos para a explanação da temática ocorreu com supervisão e acompanhamento de uma professora da disciplina. Foram organizados cinco encontros na universidade, momento em que ocorreu o aprofundamento da temática, descrição do planejamento detalhado da atividade, elaboração de slides e confecção de tecnologia educativa no formato de cartilha. Tais materiais foram confeccionados por meio do Canva - plataforma on-line de design e comunicação visual, com imagens e representação da temática de modo a cativar a atenção dos estudantes. Resultados: para contemplar a temática, primeiramente foram conduzidas discussões acerca da linguagem mais apropriada e didática para crianças na faixa etária entre seis e oito anos e, com isso, foram desenvolvidos materiais visualmente atrativos no formato de slides, contendo cores e imagens adequadas para o público e também uma cartilha com atividades lúdicas participativas, como caça-palavras, palavras-cruzadas e imagens para circularem as situações de violência. Visando integrar as crianças e proporcionar um ambiente de acolhimento, a atividade teve início com a apresentação dos acadêmicos e dos alunos do segundo ano e, durante esse primeiro momento, cada criança compartilhou algo que lhe agradava utilizando a primeira letra do seu nome. Posteriormente, foi conduzida uma abordagem cuidadosa e didática sobre a temática, envolvendo exemplos do cotidiano e questionamentos acerca dos sentimentos das crianças em relação a situações de violência e bullying, além da explicação de todas as classificações de violência. Em determinado momento da atividade, para exemplificar os impactos que a violência pode ocasionar para a vida das pessoas, foram distribuídos às crianças recortes de papel em branco, o qual deveria ser danificado da maneira que optassem e, em seguida, foram desafiados a restaurar o papel exatamente como antes, sem ranhuras, rasgos ou dobras. Após essa reflexão, foi permitido que as crianças fizessem questionamentos e compartilhassem seus pensamentos sobre o tema. Além da apresentação de slides, das atividades e dos diálogos, duas animações que ensinavam a maneira correta de agir com outrem foram exibidas aos estudantes e mais questionamentos foram realizados a eles, como: “como vocês costumam agir com seus colegas?”, “como se sentem quando alguém age dessa maneira com vocês?”. No encerramento, foi proferido um agradecimento pela atenção das crianças, validando a importância da participação delas para a efetividade da atividade proposta, e com isso, foi sugerido um acordo de que elas sejam gentis, evitem qualquer forma de violência e converssem com um adulto sempre que esses episódios sejam testemunhados. Durante o desenvolvimento da atividade, foram proferidos pelos estudantes diversos relatos de violência que ocorrem no ambiente domiciliar, tais relatos eram considerados pelas crianças como eventos corriqueiros e naturais em seu cotidiano. Nesse contexto, também houveram relatos de violência entre os próprios colegas, que denunciavam comportamentos agressivos e, desse modo, pôde ser observado que muitas das crianças consideradas agressivas foram as que relataram presenciar esses episódios em casa com familiares, demonstrando que o contexto familiar afeta diretamente as relações sociais das crianças que estão em desenvolvimento como cidadãos. Nesse ínterim, comparando a interação das crianças nos primeiros questionamentos, realizados antecedentes à explicação, elas demonstraram no final da atividade compreender o que é violência e bullying, as formas de violência e até mesmo exemplificá-las com suas próprias palavras, o que não havia ocorrido inicialmente. Após a reflexão realizada com a folha de papel, ao serem conduzidas a restaurá-las, houveram risos e afirmações de que não era possível deixá-las novamente íntegras e, ao serem questionadas sobre como ficam os sentimentos das pessoas após sofrerem violência, os estudantes responderam frases como: “os sentimentos também não retornam ao normal depois de serem machucados”, evidenciando que a reflexão foi adequadamente conduzida e alcançou o objetivo que era deixá-los pensativos sobre suas ações. Inicialmente, somente duas turmas deveriam receber essa atividade, devido a carga horária da atividade teórico-prática, no entanto, as professoras do ensino fundamental e a diretoria da referida escola entraram em contato novamente com a professora supervisora da universidade, solicitando um possível retorno do grupo de acadêmicos para que trabalhassem a temática com mais duas turmas de segundo ano do ensino fundamental, uma vez que a atividade foi muito bem aceita pelos estudantes e pelas professoras. Com isso, houve o retorno à escola, com os mesmos materiais e dinâmicas, novamente bem-sucedidos e elogiados pela coordenação escolar. Considerações finais: o enfermeiro desempenha um importante papel na educação em saúde, e o PSE oportuniza que os graduandos tenham os primeiros contatos com a educação comunitária, além de ser de suma importância para melhorar a qualidade de vida dos estudantes principalmente em escolas públicas. O principal intuito da avaliação teórico-prática da disciplina, era proporcionar a integração dos graduandos com a escola pública e, por meio da didática utilizada, auxiliar no enfrentamento da violência e do Bullying, melhorar o convívio entre os estudantes do ensino fundamental 1, ajudando-os a discernir os bons e maus comportamentos e agir melhor uns com os outros, objetivo que foi alcançado com êxito, demonstrado pela solicitação de retorno. Outrossim, além de atingir o objetivo principal, foi possível determinar padrões comportamentais referentes ao convívio familiar. Dessa maneira, é evidenciada a eficácia da integração entre universidade e escola como instrumento de educação e ensino em saúde, bem como auxílio na capacitação dos futuros profissionais enfermeiros em ensinar a comunidade.
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