Neste trabalho, proponho fazer uma breve reflexão sobre a escuta de demandas em saúde mental no contexto da Atenção Primária em Saúde, a partir do trabalho das equipes do Núcleo de Apoio Matricial de São Leopoldo, objetivando promover uma reflexão crítica dos processos de escuta inicial e acolhimento na Atenção Básica, ressaltando as práticas interdisciplinares produzindo intervenções pontuais de cuidado nesse contexto.
Nesse sentido, apresento algumas linhas gerais sobre o trabalho de matriciamento, com ênfase no processo inicial de compartilhamento dos casos, articulando o processo de intervenção conjunto das equipes de referência (ESF) e as equipes de apoio matricial, envolvendo interconsultas, consultas e visitas domiciliares conjuntas.
A noção de sofrimento psíquico é muito importante, pois cria a intersecssão entre o sofrimento psíquico e o patológico, entendendo aqui patológico como o pathos, com a intensificação dos processos de sofrimento e possíveis designações diagnósticas. Ressaltamos o caráter singular da escuta e das histórias que escutamos, que criam uma tensão epistemológica entre o caráter particular do sofrimento expresso nos pedidos por atendimento, e a sua dimensão universalizada a partir da nosologia psiquiátrica presente na saúde mental e a principal forma de apresentação da demanda cristalizada nesses contextos.
Como resultado dessa experiência, aponto para um dos efeitos interventivos de algumas demandas em saúde mental no território, além da reflexão sobre o potencial do matriciamento na Atenção Básica, principalmente através da escuta de acolhimento e transformação de demandas envolvendo sofrimento psíquico, ressaltando o caráter pedagógico, interventivo e interdisciplinar da escuta sobre esses processos de acolhimento e cuidado, envolvendo as pessoas atendidas e trabalhadores que acolhem suas demandas, através da construção de avaliações e planos terapêuticos singulares.