Adolescer e suas multiplicidades na saúde: grupo terapêutico para adolescentes em uma unidade de saúde em Campo Grande - MS

  • Author
  • Ester Naiá Ferreira Melo
  • Co-authors
  • Fátima Alice de Aguiar Quadros , Maria Yzabella Souza T. Franco , Leticia Laras Arguelho , Hellen Karolyne Oliveira Souza Carvalho , Evelyn Serafim Dutras , Themis Elise de Oliveira Moraes , Eloir Marques da Silva , Alyne Gomez Flores
  • Abstract
  • Apresentação Este relato de experiência tem como intenção apresentar sobre a implementação e atividades iniciadas em um grupo terapêutico para adolescentes em uma unidade de saúde em Campo Grande - MS. Tal trabalho foi realizado pela equipe multidisciplinar de residentes em saúde da família, com ênfase em saúde da população indígena, da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS. O grupo de adolescentes teve início por conta da alta demanda de encaminhamentos escolares por motivos diversos como crises de ansiedade, automutilação, tentativas de suicídio, dificuldades de aprendizagem, entre outros. Assim, para conseguir não só lidar com a demanda por atendimentos individuais para a área da psicologia, também tivemos a intenção de criar uma rede de apoio e trocas entre esses adolescentes. De modo a fortalecer eles enquanto grupo e enquanto comunidade. Sabe-se que a adolescência é uma das fases mais turbulentas da vida, por conta de variadas questões ligadas a demandas escolares, demandas familiares, inseguranças, medos, receios, busca de identidade, pertencimento, entre tantos outros. Tais questões causam angústias que muitas vezes são ignoradas pelos serviços de saúde, principalmente na atenção primária, tendo foco apenas em ações pontuais ligadas a vacinação, educação sexual e afins. Assim, visando uma adesão desse grupo aos serviços de saúde de forma mais autônoma é que o grupo terapêutico foi iniciado. Desenvolvimento do trabalho O início do trabalho se deu com a vinculação com as escolas que fazem parte do território da unidade de saúde. Nesse sentido, entramos em contato com as escolas próximas para não só apresentar e divulgar o início do grupo terapêutico, como também para estreitar laços com as escolas e os jovens. Um aspecto muito interessante é que muitos adolescentes não sabiam que poderiam procurar os serviços de saúde sozinhos. Visto que, tal informação não é muito ampla e divulgada. O grupo terapêutico contou com a colaboração de uma equipe diversificada, composta por seis (6) profissionais, sendo duas (2) psicólogas, duas (2) enfermeiras e duas (2) odontólogas. Os encontros ocorrem regularmente duas vezes por mês, em intervalos de 15 dias. É relevante salientar que, para viabilizar a presença de todos os profissionais, foi estabelecido um sistema de rodízio e coordenação. Essa rotatividade não apenas permitiu uma boa participação dos profissionais, como também possibilitou para os participantes a abrangência das áreas envolvidas e promoção de uma interação mais próxima entre os profissionais. Em relação a sua adesão, esse foi um dos grupos terapêuticos que demos início que teve uma grande participação logo no primeiro encontro. Muitos profissionais da própria unidade diziam que seria muito difícil a participação dos jovens, porém essa concepção se tornou falaciosa desde o primeiro encontro. Algo a destacar é que inicialmente tínhamos estabelecido que seriam os adolescentes de 13 até 17 anos, porém ao divulgarmos nas escolas abrimos a exceção para os alunos de 12 anos que estavam bem interessados em participar. Essa proximidade também surpreendeu vários profissionais que começaram perceber que as suas percepções sobre os adolescentes da comunidade serem problemáticos era falaciosa. Pois, ao contrário do que esperavam, esses jovens eram muito carinhosos e atenciosos com os mais variados profissionais. O que demonstrou que na realidade eles só precisavam de um espaço para poder se sentirem seguros. Em geral, as demandas de muitos deles eram muito mais relacionais e ligadas a vulnerabilidades sociais. Os maiores problemas se baseavam em questões com os responsáveis, os colegas e a escola. Tais demandas nos guiaram bastante em relação às temáticas para trabalhar nos grupos ao longo do tempo. Resultados  Apesar de não ter sido um grupo bem-quisto inicialmente por alguns profissionais da unidade, o resultado da participação dos adolescentes nas atividades do grupo e da própria unidade foi um diferencial. Muitos deles começaram a ter uma melhor frequência na unidade, para a realização de exames, orientação em saúde, vacinação e, principalmente, por terem se aproximado de vários profissionais para terem um ponto de apoio a dúvidas e anseios. Um detalhe a ressaltar é que no primeiro contato com eles, ainda na escola, para divulgar o grupo terapêutico, muitos deles no período pós aula foram até a unidade sozinhos para passarem pela escuta inicial. E qual a motivação dessa ida? Para saberem se realmente podiam ser atendidos sem estarem acompanhados pelos pais. Ação essa que antes mesmo do início do grupo já gerou segurança para eles serem recebidos naquele local. Apesar de ter sido uma boa adesão, o início do grupo não teve uma abertura tão grande quanto a problemáticas mais íntimas dos adolescentes. Tal aspecto foi sendo construído ao longo do tempo, principalmente ligado a abertura na relação deles com eles mesmos no grupo. Ao longo dos encontros foi perceptível como a própria relação com a concepção de saúde mudou. Tal aspecto demonstra também que nós profissionais de saúde devemos olhar com mais atenção e proximidade ao atendimento dos jovens na atenção primária. Pois, se desde cedo existir neles uma percepção de cuidado, prevenção e segurança no contato com a saúde, será bem mais simples a melhoria na saúde da comunidade também. Visto que, eles atuam também como multiplicadores de saberes. Principalmente quanto as demandas e fluxos da própria unidade, ensinando pais, avós e familiares no geral a como procurar a unidade e realizar agendamentos e questões afins. Considerações finais O grupo terapêutico da unidade teve como viés contribuir para uma melhoria da saúde dos adolescentes da comunidade. Além de ser um ponto de apoio para muitos deles em relação aos seus problemas relacionais, de ansiedade e familiares. O que tornou o ambiente de saúde um espaço de acolhimento, segurança e apoio. Ao contrário do que eles viam anteriormente. Nesse sentido, os resultados de suas participações também resultaram em melhoria da saúde de outras pessoas, que também aprenderam melhor sobre o cuidado em saúde. O grupo terapêutico por ter se baseado na concepção de operativo também nos possibilitou perceber uma visão abrangente sobre o funcionamento do acesso a saúde. De modo que, eles sempre traziam dúvidas e inquietações de modo a provocar os próprios profissionais sobre assuntos diversificados. Tal aspecto fortaleceu essa relação entre a unidade, os profissionais e esses adolescentes.  

  • Keywords
  • grupo terapêutico; adelescência; equipe multiprofissional; rede de apoio.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
Back