Este trabalho surge das minhas inquietações enquanto Assistente Social da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Rio de Janeiro-RJ ao me deparar com inúmeros entraves para a efetivação de um cuidado em saúde mental definitivamente em rede, intersetorial, comunitário e compartilhado entre todos os atores do cuidado. O estudo tem como objetivo entender os processos que possibilitam, ou não, o diálogo e o cuidado compartilhado em rede. Partindo do pressuposto de que a territorialização não deve implicar em limitação de oferta de recursos municipais, ou barreira de acesso no cuidado. Ou ainda, na ausência de diálogo, compartilhamento e construção coletiva entre os dispositivos tipo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Esse estudo está sendo realizado a partir de uma pesquisa qualitativa, sendo desenvolvidas entrevistas semi-estruturadas com profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial do município do Rio de Janeiro-RJ. Alguns dos resultados esperados são as trocas fragmentadas na discussão dos casos pelo distanciamento com o sujeito em sofrimento, o “pouco interesse” em conhecer esse sujeito que sofre e sua história, dificuldade em construir Projeto Terapêutico Singular (PTS) em conjunto, pressão na desocupação dos leitos, quando compartilhado o recurso do leito de acolhimento à crise, dificuldades no compartilhamento de recursos humanos e atividades; entre outras situações. Essas situações se assemelham às práticas manicomiais endurecidas que elegem o próprio funcionamento interno como prioridade. Por vezes, os profissionais e seus olhares técnicos irão retirar a multiplicidade do sujeito da equação em nome do cuidado em saúde mental. Esse movimento, assim como a psiquiatria clássica, transforma os usuários em objetos de nossa intervenção e saber-poder do profissional de saúde como lugar de suposto saber. O suposto saber, orienta como iremos ouvir as demandas desse sujeito, como iremos encaminhar, como e de que forma iremos compartilhar com os outros dispositivos, como iremos determinar caminhos a serem percorridos e/ou erguer muros institucionais podendo engessar a prática profissional. Quando pensamos a vida dos indivíduos a partir da ótica de um dispositivo de saúde, esbarramos em burocracias e barreiras de acesso, pois o olhar não está orientado para o indivíduo, em acompanhar o indivíduo em sua multiplicidade e complexidade pela vida, pelo território e em ajudá-lo a traçar redes vivas mais saudáveis. Consideramos que os entraves citados, poderão ser apontados nos serviços, a partir das entrevistas realizadas, indo na contramão do trabalho interdisciplinar, intersetorial e em rede proposto pela lógica da Atenção Psicossocial e do SUS. Como contribuição essa pesquisa pretende investigar caminhos possíveis para atravessar esse funcionamento engessado, produzido pelo neoliberalismo.