O ideário neoliberal, seu impacto nas políticas sociais e a agudização das expressões da “questão social” no Brasil: discussões sobre saúde mental, raça, gênero e classe.

  • Author
  • MARINA ARAUJO DA SILVEIRA
  • Co-authors
  • Alessandra Aniceto Ferreira de Figueredo
  • Abstract
  •  

    Neste trabalho, partimos do olhar de intervenção do Assistente Social e do entendimento do sofrimento psíquico como uma das expressões da “questão social”. As expressões da “questão social” são entendidas no presente trabalho como as consequências da contradição capital x trabalho e de que maneira esse tema se relaciona com a loucura. Se faz relevante localizar neste trabalho que entendemos o sofrimento psíquico como algo socialmente e culturalmente construído. Os processos de saúde e doença serão analisados por um viés histórico social de forma alinhada às contribuições basaglianas que promoveram a possibilidade de rompimento com as antigas práticas manicomiais e a busca por uma outra lógica no trato com a loucura. O fato da loucura ser um conceito socialmente construído através do tempo também infere que em diferentes períodos suas intervenções serão diversas e correspondentes ao momento histórico/social. Entendemos aqui a natureza contraditória como parte constituinte de toda instituição que nasce dentro do Sistema Capitalista de Produção, não sendo diferentes nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS serão, portanto, espaços privilegiados de trato das expressões da “questão social”, pois trabalham diretamente com essa parcela da população que é excluída, vulnerabilizada pela sociedade capitalista como pessoas em situação de rua, sofrimento mental grave, mulheres, pessoas negras, entre outros. Os serviços irão ser espaço onde as contradições do Capitalismo serão visíveis e onde, em momentos históricos propícios ao desenvolvimento das políticas sociais, terão mais força em saídas coletivas e integradas. Esse trabalho tem como objetivo identificar, a partir da fala dos trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), de que forma o atual momento da política de saúde mental, dentro do Modo de Produção Capitalista e do cenário de desmonte das políticas sociais, opera suas contradições e tensões. Como resultados esperados identificamos que o ideário neoliberal trará consequências em uma atuação das políticas sociais mais focalizada, fragmentada e desarticulada. Indicamos aqui o diálogo aberto, compartilhado e a ideia de rede que se constrói e reconstrói entre os serviços como estratégia que possibilita um tensionamento, que busca a tomada de consciência dos processos políticos pelos usuários e pelos profissionais, rompendo a bolha de seus próprios dispositivos. O sofrimento psíquico grave e as crises que os sujeitos têm em decorrência desse sofrimento, não estão deslocadas do contexto social, de onde essa pessoa vem, mora, por onde circula, quem é, sua raça/cor, gênero e identidade de gênero, entre vários outros atravessamentos que são parte das expressões da “questão social” e que produzem grave sofrimento aos sujeitos inseridos no modo de produção capitalista. Essas pessoas colocadas à margem do Sistema Capitalista serão também o foco das políticas sociais. Diante do exposto, destacamos que o desmonte das políticas sociais, a burocratização dos serviços de saúde mental, aponta, ainda, para a necessidade inexorável da articulação intersetorial de políticas e programas como caminho em busca de cuidado integrado, personalizado, comunitário e afinado com os direitos humanos, em apoio a multiplicidade do ser humano e com os princípios e diretrizes do SUS. 

  • Keywords
  • Saúde Mental, Atenção Psicossocial, Política Social, Questão Social
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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