Este resumo sintetiza as experiências exitosas de profissionais da saúde pública na condução de grupos reflexivos e informativos sobre questões relacionadas ao planejamento familiar e reprodutivo numa unidade de saúde da família (USF) na capital de Mato Grosso do Sul. Dentre as formas de atuação na atenção primária à saúde (APS), as atividades coletivas são estratégias importantes para auxiliar o cuidado integral aos usuários, bem como a construção e o fortalecimento de vínculos entre estes com a rede de saúde e com os seus pares na comunidade. A formação de grupos na APS possibilita, também, atingir um quantitativo expressivo de usuários numa única atividade, e, através do compartilhamento de experiências e informações, promover a responsabilidade e a autonomia dos usuários em prol do autocuidado, afinal, ações educativas com a população (educação em saúde) são indispensáveis para que ocorram, além de mudanças significativas na vida de seus participantes, a disseminação a outras pessoas dos resultados construídos por eles no grupo. Sendo assim, considerando as mudanças da Lei nº 9.263/1996, a partir da Lei nº 14.443/2022 e da Portaria nº 405 de 2023, principalmente em relação aos quesitos de elegibilidade para a realização dos procedimentos de esterilização voluntária, bem como o aumento expressivo na busca por usuários interessados nos métodos contraceptivos, profissionais de psicologia, enfermagem e medicina elaboraram um grupo de planejamento familiar e reprodutivo numa unidade de saúde de Campo Grande/MS (USF Coophavila II), com o objetivo de não só apresentar os métodos contraceptivos disponíveis na rede de saúde pública, mas também, promover a ampliação de consciência dos participantes sobre questões culturais relacionadas ao papel social imposto às mulheres, ao preconceito e às formas de violência doméstica, ao planejamento familiar para além da reprodução, às diferentes organização de família na sociedade, ao avanço significativo das alterações jurídicas citadas anteriormente, às infecções sexualmente transmissíveis, entre outros temas importantes na tomada de decisões conscientes e seguras. O grupo teve início no ano de 2022 e os encontros aconteceram semanalmente, no formato aberto, com usuários que demonstraram interesse na contracepção, independente de condição sexual, identidade de gênero e estado civil. Desde o início do grupo até o final do ano de 2023, aconteceram muitos encontros, com a participação predominante de mulheres cisgênero e heterossexuais. A participação de homens (cisgêneros e heterossexuais) também foi expressiva no grupo, os quais trouxeram dúvidas, curiosidades e mitos interessantes sobre os procedimentos da vasectomia e laqueadura, bem como questões relacionadas ao machismo e misoginia. Portanto, verifica-se a necessidade de um espaço seguro para a construção de diálogos e reflexões sobre demandas em saúde, individual e coletiva, à população ainda carente de educação e cultura.