APRESENTAÇÃO
O controle social em saúde manifestado nas conferências demonstra um potencial significativo de representação social, evidenciado pela crescente inclusão de temas variados e um espectro diversificado de participantes. Ele se configura como uma abordagem distintiva para compreender as necessidades dos usuários em um sistema de saúde. Adicionalmente, viabiliza a participação no processo de planejamento, tomada de decisões e avaliação das iniciativas de saúde, tanto nas unidades de saúde quanto nos escalões superiores da gestão.
As Conferências de Saúde, de acordo com essa mesma lei, são instâncias colegiadas que exercem o controle social, juntamente com os Conselhos de Saúde, e são fundamentais para engajar a base da população na governança da saúde.
A promoção da participação social institucionalizada, expressa por meio de organismos consultivos e eventos de discussão, visa introduzir a dinâmica de democratização do Estado, buscando maior envolvimento e atuação da sociedade. A base conceitual subjacente à implementação de novos mecanismos de participação, capazes de influenciar a configuração democrática do Estado, resulta da combinação entre a democracia representativa e a democracia participativa. Nessa abordagem, esses espaços têm como meta não apenas fomentar a inclusão e a igualdade, mas também fortalecer a autonomia dos atores sociais.
No entanto, as conferências de saúde enfrentam desafios significativos, como a falta de recursos, infraestrutura inadequada e baixa capacitação dos organizadores. Em muitos municípios, especialmente em áreas remotas, a escassez de espaços adequados e equipamentos tecnológicos limita severamente a participação. A análise detalha como essas limitações impactam não apenas a logística das conferências, mas também a qualidade e a profundidade das discussões e deliberações.
Esses foram alguns dos resultados coletados durante a pesquisa “Saúde e Democracia: estudos integrados sobre participação social nas conferências nacionais de saúde”, que buscava justamente sistematizar evidências da relevância e da abrangência do processo participativo nas etapas e atividades que compõe as conferências nos níveis municipal, estadual e nacional.
Foi observado que os conselhos e conferências de saúde enfrentam desafios técnicos para se tornarem ambientes substancialmente mais democráticos, principalmente em três objetivos principais: 1) promover a cidadania e o entendimento político; 2) identificar e absorver as preferências da sociedade em relação aos propósitos e políticas públicas, considerando as intensidades dessas preferências; 3) fiscalizar as políticas públicas, abrangendo a receptividade às demandas da sociedade e a responsabilização dos líderes. O sucesso na consecução desses objetivos pelas instâncias participativas podem contribuir significativamente para uma democracia mais abrangente e uma alocação de recursos públicos mais eficiente.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
A coleta de dados confiáveis é crucial para avaliar o sucesso e as deficiências das conferências de saúde. No entanto, na pesquisa sobre Saúde e Democracia (etapa municipal), identificamos que muitos municípios lutam com a falta de sistemas de registro digitalizados, dependência excessiva de processos manuais e falta de treinamento em coleta e gestão de dados. Esses fatores contribuem para a inconsistência e a incompletude dos dados coletados, comprometendo a capacidade de realizar análises abrangentes e formular recomendações eficazes para políticas de saúde.
A diferença não é apenas cultural e territorial - que por si só já refletiria grandes obstáculos na construção de pesquisas no âmbito nacional -, além de encontrarmos formas diferentes de realizar os eventos estaduais, vimos noções bem diferentes quanto à importância de dados que podem refletir as escalas de participação, mostrando onde e como ampliar tal escopo. Dados escassos dos participantes, demora na elaboração de relatórios, falta de acesso a informações de interesse público e a contatos de gestores, são alguns exemplos aqui relatados.
Assim, mesmo de forma preliminar, verificou-se a ausência de um direcionamento na orientação de construção de gestão ampla e participação com possibilidade de obter informações cruciais para a defesa da participação popular numa esfera tão importante socialmente.
RESULTADOS
A diversidade dos atores sociais nos Conselhos de Saúde (CES) – responsáveis por sistematizar tudo o que envolve uma conferência – é uma característica notável, mas a maneira como cada conselho exerce suas atividades depende das leis e dos regimentos internos que os regem. Isso cria contextos distintos, que influenciam a capacidade de resolver questões e responder às demandas da sociedade.
Foram observadas discrepâncias significativas na organização e na disponibilidade de resposta entre os CES. Alguns conselhos mostraram muita organização, respondendo prontamente às solicitações, enquanto outros tiveram dificuldades em fornecer informações. Essas diferenças ressaltam que, em um país tão grande e diversificado, as experiências podem variar significativamente, refletindo a necessidade de considerar contextos e abordagens específicos ao avaliar o controle social no sistema de saúde.
A independência de cada gestão dentro dos CES não impede a organização da participação social. Para garantir registros precisos e confiáveis, é crucial que cada conselho mantenha uma estrutura operacional adequada e fontes verificáveis para comprovar o envolvimento da comunidade nas decisões de saúde pública. As diferenças culturais e territoriais exigem uma abordagem flexível, mas o diagnóstico preliminar mostra a necessidade de direcionar esforços para orientar os gestores, respeitando sua autonomia, mas destacando a importância de registros organizados que comprovem a participação social.
Uma questão importante é a escassez de recursos que afeta a eficiência operacional de alguns conselhos. A falta de fundos pode limitar a capacidade de coleta de dados e, consequentemente, prejudicar o monitoramento da participação social. Além disso, alguns gestores, mesmo bem-intencionados, não têm o treinamento necessário para gerir seus conselhos com a organização e a eficiência necessárias. Essas questões operacionais estão interligadas com a independência de cada gestão, ressaltando a importância de capacitação e recursos adequados para assegurar a eficácia do controle social nos CES.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle social em saúde, expresso nas conferências municipais, é uma parte essencial da governança do sistema de saúde no Brasil. Essas conferências servem como um fórum para a participação social, onde temas variados e uma ampla gama de participantes podem contribuir para o processo de tomada de decisões e avaliação das iniciativas de saúde. No entanto, realizar conferências bem-sucedidas traz desafios significativos.
A diversidade cultural e territorial do Brasil produz conferências em diferentes contextos e com diferentes desafios de organização, o que impacta a qualidade da participação social. A escassez de recursos e as diferenças regionais afetam a capacidade de alguns conselhos de cumprir seu papel de controle social. Além disso, a falta de sistemas de registro digitalizados e a dependência de processos manuais também representam obstáculos para a coleta de dados confiáveis, que são cruciais para avaliar a participação social e a eficácia das conferências.
Ao identificar as principais barreiras e analisar suas implicações, buscamos apontar caminhos para melhorar a organização e a eficácia das conferências municipais de saúde, contribuindo para o fortalecimento do sistema de saúde participativo, promovendo um ambiente mais democrático e inclusivo, onde a participação social seja valorizada e incentivada.