A habilidade de comunicação é essencial para os profissionais de saúde e se desenvolve durante toda a vida profissional. Neste artigo abordamos as potencialidades pedagógicas criadas a partir do diálogo entre alunos e professores da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e um grupo de artistas que se dedicam à realização de documentários. As possibilidades de expressão da experiência humana e de invenção de mundos através da arte estão contribuindo para que a área de saúde supere os limites da influência cartesiana e mecanicista. Neste sentido, o cinema documentário se destaca não somente pela possibilidade de tornar visível os invisibilizados, mas por desenvolver metodologias de comunicação e vínculo altamente sofisticadas. As técnicas de entrevista, cuja maior expressão no Brasil é a obra do cineasta Eduardo Coutinho, oferecem um arcabouço teórico e metodológico de grande pertinência no trabalho em saúde. Além de proposições objetivas sobre "como fazer", o trabalho do documentarista ensina sobre a capacidade e sensibilidade para o encantamento com o ”outro”. Na Unicamp, desde 2012 cineastas da produtora audiovisual Laboratório Cisco têm ministrado uma aula anual na disciplina de Saúde Coletiva II, na qual participam alunos de medicina e fonoaudiologia que estão prestes a iniciar uma sequência de visitas domiciliares. Nesta aula são oferecidas diferentes técnicas e perspectivas para a preparação deste encontro. Durante estes anos de colaboração com os documentaristas, a proposta evoluiu e se dividiu em dois momentos: um primeiro expositivo, no qual os cineastas apresentam trechos de filmes que têm a entrevista como elemento central, discutindo suas diferentes estratégias e técnicas; e um segundo, quando é realizada uma atividade lúdica na qual os estudantes são convidados a dividirem-se em duplas e se entrevistarem mutuamente. Em seguida algumas das duplas se apresentam e a experiência é discutida à luz dos aprendizados. O momento de iniciar visitas domiciliares no território das UBS é bastante sensível. Para prepará-los são oferecidas três aulas teóricas com os seguintes temas: abordagem sistêmica da família; visitas domiciliares; e as técnicas de entrevistas com os cineastas. A disciplina procura aproveitar a inexistência de conhecimentos clínicos (“filtros teóricos” que muitas vezes dificultam a conversa do profissional de saúde com paciente, para além do diagnóstico biomédico e as respectivas condutas), para investir no desenvolvimento do vínculo e habilidades de conversação (através dos quais os conteúdos da saúde coletiva são abordados). Ao final do semestre, os estudantes têm como tarefa entregar um genograma/ecomapa, uma narrativa com história de vida e uma análise da relação daquela família com a rede assistencial, com território e com determinantes sociais de saúde/políticas públicas. Neste período de mais de uma década de experiência, temos observado resultados cada vez melhores. Os estudantes se sentem mais seguros e costumam retomar, durante as discussões de casos, os aprendizados da aula de documentário. A experiência nos parece potente e promissora para a adoção por outros cursos e instituições.