Estruturação das relações raciais e políticas públicas de saúde em Santa Maria (RS)

  • Author
  • Bianca Rodrigues Strom
  • Co-authors
  • Marília Meneghetti Bruhn
  • Abstract
  •  

    A formação da sociedade brasileira decorre de processos de extermínio e exploração da população indígena e escravização da população negra pelo colonizador branco. Esses processos têm impacto estrutural na forma como o governo garante direitos à população, como o acesso à saúde. O objetivo deste trabalho é debater a visibilidade das relações raciais nas políticas públicas de saúde no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, a partir do relato de experiência em uma residência multiprofissional na área da saúde. Nos séculos XIX e XX, constitui-se uma política de embranquecimento da população brasileira como um método de transformação da imagem social que ocorreu através da acolhida calorosa a imigrantes europeus e políticas de eugenia para extinção de populações que não correspondem à raça/cor branca. A política de branqueamento contribuiu para que, a partir da miscigenação, ocorresse  a difusão do mito da democracia racial, que propõe que não há racismo, apenas uma sociedade igualitária em termos de direitos e deveres. Essa estrutura invisibilizava a discriminação da população negra, impulsionando a exclusão e a marginalização dessa população dos centros das cidades e do mercado de trabalho capitalista, que favorecia a mão de obra branca europeia. Os negros eram considerado seres inferiores, com menor capacidade e preparo laboral e tendência para a transgressão. Atualmente, essas relações raciais permanecem nas múltiplas formas de manifestações do racismo - estrutural, institucional, individual, cotidiano - e do necrobiopoder. Nesse panorama, visualiza-se a constante desigualdade da condição de vida da população negra em termos de habitação, saneamento, educação, saúde, emprego e lazer. Logo, essa disparidade socioeconômica ocasiona fissuras no modo como as pessoas convivem e interagem umas com as outras. No trabalho da Residência Multiprofissional da Área de Saúde da Universidade Federal de Santa Maria, constata-se a saúde pública não articulada com questionamentos acerca dos atributos da raça enquanto constituintes do sujeito, tanto pelos profissionais não refletirem quem são em relação a raça, descendência e oportunidades quanto por não discutirem o meio social no qual estão colocados. Entende-se os profissionais da saúde em sua maioria pertencentes à raça dominante branca, consequentemente integrantes da norma hegemônica que define, estrutura e atualiza como se estabelecem as relações de poder. Portanto, evidencia-se o êxito da política de embranquecimento racial em termos de difusão de um mito que reverbera fortemente na atualidade, perpetuando a suposta igualdade de direitos a todos os cidadãos brasileiros. Ademais, ressalta-se a necessidade da branquitude enquanto grupo dominante não manter-se indiferente frente às inúmeras desigualdades, opressões e injustiças raciais assim como buscar promover estratégias de mudança dessa realidade historicamente invisibilizada.

  • Keywords
  • Relações raciais, racismo, desigualdade, saúde, psicologia
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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