APRESENTAÇÃO: A territorialização em saúde, processo iniciado a partir de 1988 com a criação do Sistema Único de Saúde, caracteriza-se como a separação do território brasileiro em regiões de saúde, responsáveis por aproximar profissionais da área com a população, por meio de relações de vínculo e de pertencimento entre as partes, no intuito de particularizar as necessidades da comunidade. Entretanto, tal territorialização não segue o modelo ideal criado em 1988; na realidade, apresenta-se como uma rede defasada em financiamento e em reconhecimento do território, que não preserva as singularidades dos moradores inseridos em cada região. O objetivo deste trabalho é identificar quais são os principais fatores que, no meio urbano, tornam a territorialização do sistema de saúde brasileiro distante de atingir a sua forma ideal descrita na Constituição de 1988. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de uma revisão de literatura. A busca foi realizada a partir de pesquisa de dados exploratória com a análise dos conteúdos com fonte em artigos publicados no PubMed, SciELO e LILACS, utilizando-se os descritores "territorialization in primary health care", sem a aplicação de filtros. RESULTADOS: Foram encontrados no total oitenta artigos, sendo descartados aqueles que não se relacionavam com o tema proposto, restando nove, os quais foram todos incluídos na pesquisa. Com base na leitura do material, identificaram-se três fatores determinantes da discrepância entre a territorialização descrita na lei e a sua aplicação prática. O primeiro deles é a falta de solução financeira, em que o próprio histórico político brasileiro é caracterizado por renunciar o investimento em territorialização da saúde para realizá-lo em outras áreas nos momentos de crise econômica. O segundo aspecto é que a territorialização não é feita de forma a favorecer as pessoas que irão usufruir dos serviços; isso ocorre em razão de a divisão espacial das regiões de saúde ser definida de forma vertical, analisando-se apenas o contingente populacional, sem levar em consideração as peculiaridades de cada local. O terceiro elemento envolve a dificuldade na mobilidade dos indivíduos até as Unidades Básicas de Saúde, na qual a falta de transporte público adequado e a organização geográfica desfavorável de alguns lugares (com presença de ladeiras, de escadarias e de avenidas movimentadas) desencorajam a procura por atendimento médico, realidade relatada principalmente pelo público idoso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar de ter sido criada para estabelecer relações de vínculo entre a população e os profissionais das Unidades Básicas de Saúde, a territorialização ainda está distante de alcançar os moldes propostos em lei. Nesse sentido, enquanto não há comprometimento político com o financiamento adequado, divisão dos territórios realizada de forma horizontal em conjunto com membros da comunidade local e melhorias em prol da mobilidade dos moradores das regiões de saúde, a territorialização brasileira permanece incompleta e longe do ideal.