O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é uma estratégia de cuidado multidisciplinar que considera as necessidades individuais e coletivas, desafiando a organização tradicional do trabalho em saúde ao promover maior articulação entre profissionais e compartilhamento de responsabilidades. O propósito deste estudo é elucidar os principais obstáculos enfrentados ao tentar implementar as recomendações do PTS na prática em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Garanhuns-PE.
Estudantes do terceiro período de medicina da Afya Garanhuns, sob a orientação do professor do módulo de Integração Ensino-Serviço-Comunidade, foram apresentados a alguns casos de difícil resolução da UBS. Foi selecionado um paciente de 50 anos, casado, acamado por conta de uma espondilodiscite e sacroileíte, usuário crônico de Morfina. A irmã do paciente é Agente Comunitária de Saúde (ACS) da UBS e nos orientou a escolher o caso do seu irmão, que além da condição citada tem hipertensão, diabetes mellitus tipo 2, atrofia muscular do braço esquerdo com lesão completa de plexo braquial por conta de um acidente, com histórico de colecistectomia e Doença Hepática Esquistossomática. Sua esposa desenvolveu condropatia patelar grau 3 e não consegue medicação pelo Sistema Único de Saúde por falta de laudo médico. A família é residente de área rural e enfrenta problemas financeiros. Foi construído um PTS, além de Genograma e Ecomapa.
O processo de construção do PTS nos ajudou a perceber as principais aflições da família, que desejava a resolução do quadro de espondilopatia com a nossa intervenção para que conseguíssemos uma cirurgia de coluna para o paciente. Notamos a frustração da família quando ficou claro que a ferramenta do PTS não tinha como objetivo a resolução de problemas de saúde com esse tipo de intervenção, mas com a promoção do acolhimento, escuta sensível e identificação das necessidades, demandas e potencialidades do indivíduo ou grupo. A família passou, então, a cooperar menos e recusar sugestões como inscrição em Programa de Cesta Básica e atendimento psicológico.
O PTS é uma ferramenta de altíssima importância para o cuidado na Atenção Primária. O presente estudo ressalta a necessidade de uma equipe comprometida e consciente do seu papel facilitador no processo de amenizar agravos de saúde. A falta de entendimento tanto dos profissionais de saúde quanto dos pacientes sobre o tema pode resultar em expectativas frustradas que são difíceis de serem contornadas depois. O sucesso da implementação de um PTS depende do pleno entendimento do propósito do projeto, assim como de uma boa comunicação equipe-paciente. Outro elemento restritivo é a quantidade limitada de interações, tanto entre a equipe de saúde e os estudantes quanto entre os próprios estudantes e os pacientes, o que dificultou a formação de um vínculo. Após a introdução do PTS na unidade, a responsabilidade foi delegada à equipe de saúde para dar continuidade ao projeto, incluindo encaminhamentos e atendimento.