Apresentação: A Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo (UFFS/PF) possui programas de Residência Multiprofissional em Saúde na Atenção Básica e Residência em Medicina de Família e Comunidade, ambas com área de concentração na Atenção Básica. A Residência Multiprofissional tem como campo de atuação prático o município de Marau, com encontros teóricos, proporcionados por meio do componente curricular “Seminários Integrados” envolvendo os residentes do primeiro e segundo ano do Programa dos núcleos profissionais de enfermagem, farmácia e psicologia. Já a Residência Médica, tem como campo de atuação os municípios de Passo Fundo e Pontão. Historicamente, esses dois programas da UFFS/PF, além da Residência Médica em Psiquiatria, já realizavam momentos de interação articulada antes da Pandemia da Covid-19, porém, após esse acontecimento, o compartilhamento de saberes ficou fragmentado devido às dificuldades que o período histórico trouxe no processo de reorganização educacional e de saúde. Por outro lado, passou-se a realizar encontros integrados com os Programas de Residência Multiprofissional da UFFS/PF com os do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Fiocruz Brasília em formato virtual. Em 2024, foi possível retomar os Seminários Integrados junto a Residência em Medicina de Família e Comunidade. O objetivo deste trabalho é compartilhar a experiência exitosa do reinício desses momentos integrados e de trabalho coletivo realizado entre os Programas de Residência em Saúde na Atenção Básica da UFFS/PF. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, baseado nas vivências de dois Programas de Residência em Saúde de uma Universidade no norte gaúcho. A aproximação entre os campos das residências acontece dentro de um turno assegurado para desenvolvimento teórico, chamado de “Seminário Integrado”. O qual busca refletir e aprofundar questões associadas à multiprofissionalidade e interprofissionalidade no âmbito da Atenção Básica à Saúde, processos de trabalho, territorialidade, estudo sobre vulnerabilidades sociais que acometem o quadro de saúde das populações, fluxos e percursos de usuários nos diversos pontos das redes de atenção à saúde. Bem como os desafios do trabalho na implementação de políticas públicas de saúde e dispositivos para qualificar os processos de educação em saúde e de promoção e cuidado integral à saúde. Dentro dessa perspectiva, surgiu a oportunidade de vincular os espaços teóricos entre os programas de Residência, para que, dessa forma, haja estreitamento de saberes e prática de forma interprofissional e multidisciplinar. Visando assim, a construção conjunta e a melhoria da qualidade de serviço prestado no Sistema Único de Saúde (SUS) para usuários (as) que buscam à atenção básica à saúde diariamente. Deste modo, a cada encontro, um dos programas assume o protagonismo de preparar, conduzir o debate e aprofundamento a partir de um caso clínico que está presente em uma das Estratégias Saúde da Família (ESF) onde os programas se desenvolvem. O grupo de residentes escolhe um caso clínico real e complexo abordando os problemas de saúde que este usuário traz; os indicadores epidemiológicos desses acometimentos no âmbito local, estadual, nacional e mundial; a trajetória de cuidado desse usuário pela equipe multiprofissional da ESF e em outros pontos de atenção à saúde no SUS; o genograma e o ecomapa; as redes de apoio familiar e social deste usuário; o Projeto Terapêutico Singular; o fluxograma analisador; os referenciais teóricos relativos à situações similares e outros elementos ou perguntas orientadoras para o aprofundamento coletivo. Esses momentos são importantes para aproximação entre os diversos núcleos de formação profissional na saúde e o exercício de construção reflexiva em equipe determinante para a resolutividade dos processos de cuidado no SUS. Neste componente teórico, são abordados estudos de caso para discussão conjunta de temáticas pertinentes à prática dos profissionais residentes, oportunizando o planejamento de ações pensadas com base nas necessidades dos indivíduos, para além dos sintomas e doenças que ali se apresentem. A transição do modelo biomédico para o modelo biopsicossocial representa um avanço significativo na abordagem da saúde, focalizando não apenas a doença em si, mas também os aspectos biológicos, psicológicos e sociais que influenciam a saúde e o bem-estar do indivíduo. Essa mudança paradigmática destaca a importância de considerar o paciente como um todo, levando em conta suas experiências, contexto social, emocional e cultural. Essa abordagem centrada na pessoa busca uma compreensão mais holística do paciente, priorizando sua autonomia, valores e preferências no processo de tomada de decisões em relação à sua saúde. Além disso, a humanização do acolhimento e cuidado reforça a necessidade de uma relação empática e respeitosa entre profissional de saúde e paciente, promovendo o conforto emocional e a confiança mútua. Essas mudanças no paradigma de cuidado de saúde visam não apenas tratar a doença, mas também promover o bem-estar integral do indivíduo, reconhecendo sua singularidade e dignidade. Resultados: A realização desses momentos conjuntos de formação a partir dos casos clínicos reais e complexos vem contribuindo na formação de residentes através do compartilhamento de saberes, conhecimentos científicos, experiências e aprendizados, fortalecendo as práticas de cuidado multi e interprofissional no SUS. Além disso, a apropriação metodológica de construção e análise coletiva dos casos contribui para que cada um dos profissionais possa ter elementos fundamentais nas discussões de caso em suas equipes e aprimorar os processos de trabalho e de cuidado na Atenção Básica. A integração destes profissionais impacta positivamente no campo prático de residência, além de sua trajetória profissional. Considerações finais: A diversificação dos cenários de prática permite a aproximação e a problematização das condições de saúde da população. Além de possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo, a humanização e o encontro entre sujeitos, necessários para o trabalho em equipe e a atenção integral. Instituir a integralidade na atenção básica é uma forma de avançar na implementação do sistema de saúde, onde a equipe multiprofissional e os serviços vão corresponder às necessidades identificadas e desenvolver intervenções direcionadas às singularidades da contextualização da realidade, valorizando as relações interpessoais. Nesse sentido, nota-se a importância do investimento em educação multiprofissional na formação de especialistas em Atenção Primária à Saúde. Uma vez que, os profissionais que vivenciam o contato com outras áreas, desenvolvem um olhar amplo e centrado na pessoa, tornam-se capazes de atingir maior resolutividade no cuidado, o que gera maior efetividade nos atendimentos realizados no Sistema Único de Saúde e resulta no verdadeiro cuidado integral preconizado pelo SUS.