FADIGA POR COMPAIXÃO E SEGURANÇA DO PACIENTE: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Introdução: Atualmente, a Fadiga por Compaixão (FC) é frequentemente vivenciado por profissionais atuantes nos serviços de saúde. O fenômeno é causado pelos índices elevados de Síndrome de Burnout (SB) e Estresse Traumático Secundário (ETS), e diminuída satisfação por compaixão no trabalho. Neste sentido, o profissional sente a necessidade em atender demandas complexas, acompanhada da presença de inúmeros indivíduos em situação de sofrimento, alta exposição a perdas e situações de violência, ritmo de trabalho acelerado, e ausência de mecanismos de prevenção e diminuição do estresse em ambiente laboral, resultando em uma exaustão física e mental extrema. Dentre os principais sintomas causados pelo fenômeno, destaca-se a ansiedade, distúrbios do sono, juízo e raciocínio, transtorno afetivo, depressão, angustia frequente, irritabilidade e diminuição do foco, podendo reduzir a compaixão do profissional para/com o próximo e colocando em risco a segurança do paciente. Segundo a OMS, a Síndrome de Burnout (SB), é o nome dado a uma consequência de altos níveis de estresse, não solucionados e nem intervindos que, a longo prazo, geram um estresse ocupacional ao trabalhador. Estudo realizado em um hospital de Recife com 60 enfermeiros, apontou que 4,8% desses (o que contabiliza um total de 3 a cada 60 profissionais), possuem Síndrome de Burnout. Outro estudo realizado na França, com profissionais da saúde atuantes nos serviços de Pronto Socorro, evidenciou que 34,6% desses, também foram acometidos pela síndrome, com sintomas relacionados principalmente a despersonalização e exaustão emocional. Já o Estresse Traumático Secundário é um transtorno mental complexo, caracterizado pela sensação de impotência, lembrança de eventos angustiantes, ocasionado por muitas das vezes por oprimir sentimentos e necessitar realizar seu trabalho, como se a situação não houvesse ocorrido. Estudo realizado na Espanha, constatou que 56,6% dos profissionais apresentaram transtorno traumático secundário. Outra investigação realizada em Londres com 1095 médicos obstetras, constou que 18% desses, apresentaram sintomas de Estresse Traumático Secundário. Dados alarmantes foram evidenciados ainda mais com a chegada da COVID-19, que enfatizou o descuido com a saúde física e mental dos profissionais de saúde. Reconhece-se assim, a FC como o custo de cuidar, que afeta diretamente na segurança do paciente. Objetivo: compreender o fenômeno da Fadiga por Compaixão e suas dimensões, e mapear na literatura científica a sua relação com a segurança do paciente. Metodologia: trata-se de revisão integrativa da literatura científica, examinada em cinco bases: Web of Scienci, Publimed, BVS, Cinahl e Lilacs. realizada no ano de 2022, utilizando-se os descritores “fadiga por compaixão" AND "segurança do paciente", incluindo literaturas qualitativas e quantitativas e os equivalentes destes na língua inglesa e portuguesa. Foram selecionados 42 artigos científicos, publicados entre os anos 2010 a 2022, todos lidos na integra e posteriormente subdivididos em seis níveis de demonstração sendo o Nível 1: evidências resultantes da meta-análise de múltiplos estudos clínicos controlados e randomizados; Nível 2: evidências obtidas em estudos individuais com delineamento experimental; Nível 3: evidências de estudos quase-experimentais; Nível 4: evidências de estudos descritivos (não-experimentais) ou com abordagem qualitativa; Nível 5: evidências provenientes de relatos de caso ou de experiência; e Nível 6: evidências baseadas em opiniões de especialistas. Resultados e discussão: evidenciou-se que o tema pesquisado foi com membros da equipe multidisciplinar que trabalham na área da saúde. A literatura evidencia que a principal causa de FC são as altas cargas horárias de trabalho, principalmente por plantões e horas extras excessivas, pressão por parte dos gestores, com ênfase na exigência pela produtividade, mesmo com as equipes reduzidas ou limitadas. Dentre os principais fatores de risco, destaca-se: condições sociodemográficas, relação sociais fragilizadas, gestão ineficiente, sedentarismo, altos níveis de estresse, poucas horas de sono e ausência de mecanismos que promovam a saúde laboral. Identificou-se ainda, que a satisfação por compaixão é um dos fatores preventivos da fadiga por compaixão, ou seja, quando o profissional de saúde se sente valorizado e consegue manter suas relações de confiança e socio laborais, as chances da ocorrência da FC diminuem. Vale ressaltar ainda, que um trabalhador entusiasmado consegue se comprometer no trabalho a ser realizado, organizar o ambiente laboral, buscar novas soluções para os problemas e realizar um serviço de qualidade que garanta a segurança do paciente e a do próprio profissional. A literatura confirma o potencial de erros entre os trabalhadores com FC, identificando maior risco de erros na administração de medicação em via, dose e local inadequado, observação ineficaz do paciente, aumento da impaciência e irritabilidade, ampliação de conflitos com os pacientes, acompanhantes e colegas de trabalho, raciocínio clínico ineficaz, podendo interferir em seus diagnósticos e intervenções, dentre outras situações. Conclusão: a literatura sugere que para diminuir os índices de FC, e melhorar a qualidade de vida desses profissionais e a segurança de seus pacientes, é fundamental a implementação de estratégias que estimulem a resiliência, autorreflexão e satisfação por compaixão. Além disso, reconhecer e identificar o fenômeno, é o principal passo para prevenir os agentes causadores. Cabe aos gestores, investir em estratégias individuais e coletivas, direcionadas ao ritmo de trabalho, momentos de pausa, educação continuada e permanente em saúde, incentivo à prática de atividade física e regulação do sono, promover relações interpessoais saudáveis, capacitação e grupos de apoio entre a equipe, bem como, proporcionar o suporte às equipes frente à frustação e esgotamento mental e físico. Deve-se ainda, incentivar e mostrar aos gestores a importância de um salário justo, que contribui para o aumento da satisfação por compaixão do profissional e melhorias na qualidade do atendimento prestado. Esses aspectos, beneficiam não somente o trabalhador, mas também a instituição, e todo o sistema de saúde.