Apresentação: o câncer de cabeça e pescoço envolve diferentes estruturas, tais como, a cavidade oral, faringe, laringe, cavidade nasal e as glândulas salivares. A própria localização da doença, agregada aos efeitos colaterais do tratamento podem impactar negativamente a ingesta alimentar e repercutir na piora do estado nutricional. Achados da literatura sinalizam que incidência do câncer de cabeça e pescoço é predominante no sexo masculino, com maior ocorrência após os 50 anos. Apesar da etiologia ser multifatorial, o tabaco e o álcool são os fatores de riscos mais evidenciados. Além disso, os fatores de risco compreendem a exposição solar sem proteção, o excesso de gordura corporal, a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e fatores relacionados a exposição ocupacional. Os efeitos adversos do tratamento radioterápico e ou quimioterápico antineoplásico, são importantes e interferem na ingestão alimentar e nutrição do paciente, tais como, mucosite, disfagia, odinofagia, rigidez da mandíbula, boca seca, dor no local da radiação, gengivite, fadiga, náuseas, vômitos e alterações no paladar. Frente ao exposto desenvolveu-se pesquisa embasada no seguinte questionamento: qual a prevalência de sintomas gastrointestinais no paciente com câncer de cabeça e pescoço em tratamento oncológico? Dessa forma o presente estudo teve como objetivo identificar a prevalência de sintomas gastrointestinais em pacientes adultos com neoplasia de cabeça e pescoço, submetidos ao tratamento oncológico em um hospital público catarinense. Este resumo refere-se a pesquisa desenvolvida no âmbito da Residência multiprofissional em Atenção em Oncologia na especialidade de nutrição e vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Sintomas gastrointestinal e estado nutricional de pacientes com neoplasia de cabeça e pescoço submetidos a tratamento”, vinculado às residências em saúde de um hospital geral classificado em alta complexidade para a área de oncologia no sul do Brasil. Trata-se de um estudo transversal, exploratório e descritivo de abordagem quantitativa, desenvolvido em um hospital público no oeste catarinense, com 60 pacientes entre os meses de janeiro a setembro de 2021 por meio de questionários desenvolvidos para este fim contendo formulário para caracterização da amostra (dados sociodemográficos e dados clínicos), bem como formulário para identificação de sintomas gastrointestinais, dados alimentares e antropométricos. Foram inclusos todos os pacientes oncológicos com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico de neoplasia maligna na região de cabeça e pescoço, em tratamento oncológico de radioterapia e/ou quimioterapia antineoplásica em um hospital público do oeste de catarinense e, excluídos os pacientes que sem condição física ou psíquica para responder os instrumentos de coleta de dados. A coleta compreendeu os setores de ambulatório de nutrição oncológica, ambulatório de quimioterapia, radioterapia e nas unidades de internação de oncologia clínica, de um hospital público de referência oncológica no sul do Brasil. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados coletados foram digitados em planilhas do Excel, posteriormente importados para o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 22 com auxílio de profissional com domínio estatístico para dados de saúde. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (CEPSH/UDESC) e recebeu Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE), sob número 39972620.5.0000.0116 e parecer consubstanciado número 4.445.514 em 06 de dezembro de 2020. Como resultados, participaram do estudo 60 pacientes. Houve predomínio do sexo masculino, com idade média de 60,5 anos, casado, ensino fundamental incompleto e renda familiar de um salário mínimo. O sítio primário do tumor com maior representatividade localizou-se na laringe, cavidade oral e orofaringe respectivamente. A maioria dos participantes não apresentavam metástases, no entanto, quando esta estava presente predominou em linfonodos. Ao considerar o segmento anatômico, constatou-se o diagnóstico médico em Laringe (30%), cavidade oral (25,1%), orofaringe (23,3%), nasofaringe (10,0%), hipofaringe (5,0%), glândulas salivares (3,4%) e em região cervical e mandíbula com 1,7% cada, sendo 15% do câncer de cabeça e pescoço caracterizado recidiva. Ao analisar o tipo de tratamento, 48,3% faziam radioterapia concomitante a quimioterapia, 25,0% quimioterapia, 18,3% radioterapia, 6,7% quimioterapia paliativa e 1,7% quimioterapia como neoadjuvante ao tratamento. Predominou os seguintes sintomas: disfagia - engasgo (46,7%), odinofagia – dor para engolir (46,7%), mucosite oral (30,0%), xerostomia – boca seca (63,3%), náuseas (55,0%), vômito (38,3%), inapetência alimentar (65,0%), Disgeusia – alteração do paladar (53,3%), incômodo ao cheiro dos alimentos (33,3%), trismo – dificuldade para abrir a boca (36,7%), diarreia (21,7%) e constipação (41,7%). Os participantes referiram a presença de mais de um sintoma e apenas dois participantes não apresentaram sintomatologia. Entre outros sintomas relatados, os mais relevantes foram astenia (fraqueza), saliva espessa e anosmia - perda do olfato. Vale ressaltar que os sintomas relacionados à doença somada a toxicidade do tratamento oncológico, quando não identificados e tratados de forma precoce, estão associados a piora na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes. Constatou-se neste estudo que todos os sintomas tiveram prevalência muito significativa, com ênfase para inapetência alimentar, xerostomia, náusea, disgeusia, disfagia, odinofagia e constipação intestinal, dados que corroboram com achados de outros estudos, sobretudo que a dor dificulta na alimentação. A maioria dos participantes estavam com consumo alimentar menor que o habitual e houve mudança na consistência da alimentação (61,7%,). O tipo de consistência com maior predomínio foi de alimentos macios ou pastosos (48,3%). Há perda de peso grave em pacientes com câncer de cabeça e pescoço em tratamento oncológico, no qual não se recomenda a utilização do valor do Índice de Massa Corporal (IMC) de forma isolada para avaliar o estado nutricional. O tratamento de pacientes com Câncer de cabeça e pescoço requer uma abordagem multidisciplinar, incluindo o acompanhamento com nutricionista. O aconselhamento nutricional e introdução de suplementos nutricionais orais devem ser iniciados antes do tratamento sistêmico, com vistas a equilibrar o consumo alimentar e a perda de peso para minimizar o impacto do tratamento na vida do indivíduo. Desta forma pode-se afirmar que o tratamento oncológico de radioterapia e ou quimioterapia geram sintomas como a inapetência alimentar, xerostomia, náusea, disgeusia, disfagia e odinofagia, os quais influenciam negativamente no padrão alimentar do indivíduo, repercutindo na redução do consumo alimentar habitual e alteração na consistência dos alimentos. A neoplasia investigada apresenta alto risco para desnutrição, devido as repercussões negativas do tratamento. Deste modo, o acompanhamento nutricional é de suma importância e deveria ser realizado precocemente, previamente ao início do tratamento oncológico. O manejo dos sintomas e a terapia nutricional adequada e individualizada, pode preservar ou restabelecer o estado nutricional do paciente oncológico, fortalecendo positivamente a qualidade de vida, com desfechos favoráveis ao prognóstico e resposta ao tratamento antineoplásico.