A extensão compõe o tripé de atuação das Instituições de Ensino (IES) juntamente com Ensino e Pesquisa. Suas atividades devem envolver a interação entre IES e setores da sociedade, numa perspectiva dialógica e participativa. Nesse contexto, desde 2018 ao menos 10% dos créditos curriculares da formação em nível de graduação devem ser realizados em práticas extensionistas, inserido na proposta de Curricularização da Extensão. Nesse trabalho, objetivamos relatar e refletir sobre um Programa de Extensão: o FOCUS - Formação para o Cuidado em Saúde Bucal, desenvolvido entre 2021 e 2023 pela equipe de professores do Núcleo de Saúde Bucal Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense, que envolveu a qualificação de trabalhadores de saúde bucal do SUS de municípios do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa nasceu de uma investigação prévia com as coordenações municipais de saúde bucal que revelou uma fraca integração com os profissionais de saúde bucal das equipes de atenção primária; predomínio da comunicação top-down por parte da gestão setorial e; limitada oferta de ações de qualificação para as equipes da Estratégia Saúde da Família.. A primeira oferta do FOCUS foi construída por meio de uma articulação do Núcleo com a Área Técnica de Saúde Bucal da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, integrando o Programa QualificaSB-SUS/RJ. Nesse momento (2021-22), foram ofertadas 03 turmas regionalizadas na modalidade online com atividades síncronas e assíncronas, envolvendo profissionais da assistência e gestão. O conteúdo foi organizado em quatro eixos: fundamentos da Atenção Primária à Saúde; Política Nacional de Saúde Bucal; ferramentas de gestão da clínica e do cuidado e; mediação de conflitos. Foram integralizadas três turmas, com profissionais das nove Regiões de Saúde do estado, e certificados 93 alunos, com representatividade de 55 municípios e; com menos de 10% de desistência ou abandono. A segunda iniciativa, iniciada em abril de 2022 foi construída com a gestão Fundação Estatal de Direito Privado (FeSaúde) do município de Niterói, e teve como objetivo apoiar a reorganização do processo de trabalho das equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família, face a recomposição da rede com os profissionais aprovados em concurso público. Dessa forma, o FOCUS foi ajustado para a modalidade presencial, com a participação permanente da coordenação setorial e representantes da Gerência de Ensino e Produção de Conhecimento, considerando especialmente a heterogeneidade das experiências e dos perfis dos novos profissionais. A formação incluiu a totalidade dos profissionais das equipes de SB (n=54), operando com duas turmas alternadas de modo a evitar desassistência na rede. Nesse momento, investiu-se em duas linhas de formação: 1-apoio à organização da atenção em saúde bucal no cotidiano das unidades da ESF e; 2- formação de equipes preceptoras para estudantes de graduação. A terceira iniciativa começou em abril de 2023, em turmas que se encontravam mensalmente, de forma alternada. Nessa oferta foram incorporadas quatro novas demandas. Para o primeiro semestre foi desenvolvida metodologia para a aplicação prática do Projeto Terapêutico Singular (PTS) e, atualização sobre diagnóstico e manejo da dor orofacial –questão crescente em tempos pós pandêmicos. Para a abordagem da dor foram escolhidos convidados capazes de explorá-la sob diferentes perspectivas, incluindo o manejo com práticas integrativas e complementares (PICS). Para o PTS, as equipes foram provocadas a enviar relatos de casos de seus territórios, sendo selecionados dois para trabalhar em cada turma. A proposta de vivência em PTS foi trabalhada em três turnos, e, a pedido dos profissionais, com a participação do Núcleo de Apoio em Saúde da Família (NASF). O método desenhado com a gestão proporcionou aprendizado coletivo a partir da discussão e aprofundamento dos casos; confecção de familiograma; dramatização com farta atribuição de papéis (equipes, família e território) e simulação de roda de PTS, a partir do conceito de taxonomia de necessidades proposto por Luiz Cecílio. No segundo semestre a ênfase foi para os cuidados materno-infantil, quando foram abordados temas relacionados ao aleitamento materno (com discussão da inciativa Unidade Amiga da Amamentação) e uma atualização sobre aos cuidados clínicos de saúde bucal para gestantes e bebês. A outra inciativa, da Formação para a Preceptoria associada ao FOCUS, foi operada nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, pois estas recebem estudantes da Faculdade de Odontologia da UFF para o estágio curricular no SUS. Os conteúdos são trabalhados de forma mais compacta, pois os preceptores são acompanhados ao longo do semestre com visitas de tutoria – estas inscritas no desenho da própria disciplina. O curso de Formação para a Preceptoria, tem carga horária de 20 horas na modalidade presencial e aborda conteúdos como: fundamentos da preceptoria; organização da prática no território; o uso das ferramentas de gestão do cuidado em saúde bucal previstas no programa do Estágio e estratégias de acompanhamento dos estudantes. De outra forma, os conteúdos envolvem centralmente as questões ligadas ao processo de trabalho na ESF: território, acesso, visita domiciliar, PTS e rede. A proposta do FOCUS está ancorada na metodologia da problematização e a curadoria de conteúdos e de atividades é sempre elaborada por docentes, discentes e profissionais do SUS, levando em conta a aproximação e a reflexão com a realidade experienciada. O projeto tem em comum a mobilização de trabalhadores das equipes de saúde bucal e gestores setoriais e se mostrou um potente espaço de trocas de experiências e de boas práticas na produção do cuidado na rede SUS, ao mesmo tempo, espaço de estímulo profissional e de aprendizagem colaborativa. Iniciativas que articulam ensino e serviço e que constroem ações baseadas nas necessidades do contexto a qual serão desenvolvidas, têm mais chances de contribuir de forma substancial àqueles que participam. O curso, ao priorizar a reflexão a partir de aportes teóricos ancorados no cotidiano da assistência e da gestão, mobilizou os participantes, teve taxa de abandono residual e manteve alta a interação nos encontros. A presença de profissionais de outras áreas (NASF) e gestores do serviço no processo de planejamento e/ou desenvolvimento e avaliação foi fundamental para a qualidade do processo de formação alcançado. Entretanto, parte dos desafios estão localizados na própria prática, representados por desintegração nas equipes, pela realidade violenta dos territórios ou pela fragilidade de uma rede que sustente outros pontos de atenção. Para os acadêmicos voluntários e bolsistas, oportunizou reflexões acerca da coordenação dos serviços de saúde bucal em nível municipal, bem como sobre a gestão da clínica e do cuidado na Estratégia Saúde da Família. Os processos avaliativos das diferentes etapas revelaram que o Programa tem contribuído tanto no aumento no protagonismo dos profissionais de saúde bucal, como na reconstrução crítica das práticas de saúde