A pandemia da COVID-19 remodelou o cenário das Unidades Neonatais, exigindo adaptações nas práticas e impondo restrições à presença de familiares, o que ampliou o distanciamento social e emocional das mães com bebês internados. Esse contexto desafiador impulsionou a necessidade de investigação sobre os impactos da pandemia na experiência materna no ambiente neonatal em meio aos desafios impostos pela COVID-19 de modo a preencher lacunas de pesquisa e promover um cuidado mais abrangente e sensível às necessidades das famílias.
Diante desse cenário, objetivou-se descrever essa experiência sob a perspectiva das mães no contexto da pandemia por Covid-19. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva, utilizando entrevistas semiestruturadas para a coleta de dados. Participaram do estudo dez mulheres cujos bebês foram internados em uma Unidade Neonatal de um hospital localizado no Sudeste do país durante o período da pandemia. A análise dos dados foi realizada utilizando a Análise de Conteúdo Temática.
As participantes, com idades entre 19 e 47 anos, apresentaram uma variedade de características sociodemográficas, com predominância de mães jovens, negras e evangélicas. A análise temática revelou três categorias principais.
Na categoria "Vivências na Unidade Neonatal", as mães descreveram uma gama de emoções, a percepção do ambiente e a confiança nos profissionais foram cruciais para sua adaptação. Além disso, a pandemia teve impacto na saúde mental das mães, especialmente nas que perderam renda devido ao fechamento de empregos informais.
Na categoria "Experiência de apoio social na Unidade Neonatal", as mães identificaram várias fontes de apoio, principalmente familiares e amigos. No entanto, algumas relataram falta de apoio ou apoio inadequado, o que gerou mais sobrecarga emocional. As visitas na Unidade Neonatal foram vistas como uma forma de apoio, embora o medo de contaminação pela COVID-19 tenha influenciado as opiniões sobre elas.
Na categoria "Implicações da pandemia na internação na Unidade Neonatal", as mães destacaram o desafio de distinguir os efeitos da pandemia de outras questões relacionadas à gravidez e à internação do bebê. O uso de recursos digitais para manter o contato durante a restrição de visitas foi variado, foram relatadas ressalvas em relação ao sigilo e privacidade do uso da tecnologia na Unidade Neonatal.
Os relatos das participantes apontaram que o medo de contaminação impactou na redução do apoio social recebido, nos processos de formação do vínculo materno e nos cuidados prestados ao bebê. Os resultados indicam a necessidade de considerar não apenas os aspectos clínicos da internação neonatal, mas também as questões relacionadas ao ambiente hospitalar, à cultura de cuidados e às políticas de suporte econômico. Diante disto, ressalta-se a importância de políticas e práticas que levem em consideração as particularidades das famílias e promovam uma maior integração e participação dos pais na Unidade Neonatal. Além disso, novas pesquisas são necessárias para compreender os impactos e consequências na organização do cuidado neonatal brasileiro no período pós-pandemia.
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