Introdução
A divulgação crescente de casos de suicídio e episódios psicóticos entre estudantes universitários tem gerado debates intensos sobre o papel das instituições de ensino superior na proteção da saúde mental (Costa et al., 2020; Martins et al., 2019; Patias et al., 2021).
Apesar de ser um tema atual, a preocupação com o bem-estar dos alunos existe desde o século XX, com iniciativas de apoio à saúde mental sendo implementadas nos EUA desde então e no Brasil a partir da década de 1950 (Machado; Nunes; Cantilino, 2018).
A transição para a vida universitária, marcada por mudanças pessoais e acadêmicas, pode levar a dificuldades emocionais, contribuindo para o surgimento de estresse, ansiedade e depressão (Cristo et al., 2019; Silva e Azevedo, 2018).
Pesquisas atuais destacam um aumento significativo no número de estudantes universitários enfrentando problemas de saúde mental, e identificam fatores dentro da universidade que agravam esse sofrimento, como falta de disciplina nos estudos, problemas financeiros e carga de trabalho (Andrade et al., 2016; Brown, 2018; Ariño e Bardagi, 2018).
Embora as instituições estejam trabalhando nisso, muitas focam mais em tratamento do que em prevenção (Cristo, 2023). Sendo assim, é fundamental investigar como esses desafios estão relacionados à vida acadêmica, garantindo o bem-estar dos alunos e seu futuro profissional, principalmente aos estudantes de cursos da área de saúde, que possuem uma carga horária maior de estudos.
Portanto, devido a necessidade de abordagens adaptadas aos diferentes contextos e cursos para garantir qualidade de vida e de saúde mental aos alunos. Este estudo tem por objetivo examinar as relações entre saúde mental, o ambiente acadêmico do ensino superior e o desempenho dos profissionais de saúde.
Métodos
Este trabalho consiste em uma revisão exploratória da literatura. A coleta de dados foi realizada por meio das plataformas Scielo e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), empregando os descritores “Saúde Mental”, “Ensino Superior”, “Estudantes” e “Profissionais de Saúde”. Para a filtragem e obtenção dos melhores materiais, selecionou-se arquivos publicados entre 2019 a 2024, em inglês, espanhol e português, nas bases de dados nacionais e internacionais, exceto livros. Não foi uma metodologia estruturada, permitindo uma abordagem exploratória para identificar estudos relevantes. Com a utilização dos métodos de inclusão obteve-se 104 pesquisas, com leitura de 24 resumos, selecionou-se 10 artigos. Ao todo foram lidos 4 materiais.
Resultados e discussão
Os resultados desta pesquisa mostram que a forma como os estudantes se adaptam à universidade influencia a sua saúde mental e emocional. Identifica-se que a satisfação com o desempenho no curso e a falta de motivação para estudar estão associados com o desenvolvimento de sintomas relacionados ao estresse, ansiedade e depressão, o que sugere que as perspectivas criadas e as pressões impostas durante a vida acadêmica podem prejudicar a saúde mental dos estudantes e consequentemente seu futuro profissional (Barros e Peixoto, 2022).
Apesar da maioria dos estudantes parecer estar lidando bem com o estresse, ansiedade e depressão, observa-se que uma parcela considerável enfrenta dificuldades emocionais. O estresse é o problema mais comum entre os universitários que encaram essas dificuldades, seguido pela depressão e ansiedade. A depressão é pontualmente grave para alguns estudantes, o que realça a necessidade de auxílio específico para os indivíduos que se encaixam nesse grupo (Cristo, 2023).
Além disso, verifica-se que o sofrimento emocional e mental dos estudantes está relacionado às exigências do curso, ao ritmo de estudo e à distância da família. É trabalhoso se adaptar a mudanças, principalmente quando estas vêm acompanhadas de pressões e quando expectativas criadas não são alcançadas. A falta de apoio dentro da própria universidade só dificulta essa situação, enfatizando a urgência de políticas que promovam a saúde mental dos estudantes.
Diante dos fatos, observa-se que muitos universitários priorizam seu desempenho acadêmico em prejuízo de sua saúde alimentar, descanso, convívio social e familiar e lazer, devido a forma como ele será visto dentro do contexto acadêmico (Lima et al., 2021). O estudante e futuro profissional não é visto de forma integral, levando em consideração o todo, ele é apenas valorizado por seu sucesso acadêmico, o que é prejudicial.
A análise desses pontos traz inquietações e reflexões acerca das metodologias de ensino utilizadas dentro das universidades (Mota et al., 2023). Será que elas são adequadas e adaptadas para os novos perfis estudantis? Os critérios avaliativos levam em consideração as diversas maneiras de aprendizado? A carga horária dos cursos superiores, especialmente os da área de saúde, são compatíveis, flexíveis e condizentes com a realidade? Ela leva em consideração todas as áreas da vida? A maioria dos resultados desses estudos indicam respostas negativas para essas perguntas. Essas questões ressaltam a necessidade premente de revisão e atualização das estratégias pedagógicas adotadas nas instituições de ensino superior, visando melhorar a experiência educacional e promover um ambiente mais inclusivo e propício ao bem-estar dos estudantes.
Portanto, é imperativo que haja investimento em programas de apoio psicológico e emocional dentro das instituições de ensino, visando fornecer suporte eficaz aos estudantes e profissionais que enfrentam desafios mentais. Esses programas devem ser acessíveis, inclusivos e destituídos de estigma, promovendo uma cultura de cuidado e bem-estar. Paralelamente, é fundamental fomentar a pesquisa e a disseminação de conhecimento sobre saúde mental no ambiente acadêmico, capacitando futuros profissionais a lidar de maneira eficaz com as complexidades desse campo. Por fim, é urgente a promoção da conscientização e a sensibilização sobre questões de saúde mental, estimulando diálogos abertos e construtivos que contribuam para a criação de comunidades acadêmicas mais resilientes e solidárias.
Conclusão
A análise dos fatores que influenciam a integração dos estudantes no ambiente acadêmico evidencia sua forte conexão com o bem-estar psicológico dos universitários. O estudo reforça que dificuldades como a adaptação inicial, conflitos pessoais e expectativas acadêmicas podem levar ao surgimento de problemas graves, como distúrbios alimentares, estresse, ansiedade e depressão. É primordial agir com urgência na promoção e prevenção da saúde mental no ambiente universitário, exigindo investimentos e diálogos eficazes para o contexto acadêmico. Estabelecer laços sociais, entre docentes e discentes, tanto dentro quanto fora das salas de aula, desempenha um papel crucial ao oferecer apoio emocional e despertar um sentimento de pertencimento, auxiliando a reduzir os impactos negativos na saúde mental ao longo dessa trajetória acadêmica.