Apresentação: O trabalho apresentado traz o relato de experiência de um projeto de extensão universitária que ocorre na sala de espera das Clínicas Integradas da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), onde há intenso fluxo de pacientes aguardando principalmente o atendimento em Ginecologia/Obstetrícia e Geriatria, o que influencia na presença de maior número de mulheres no local. O objetivo do projeto é contribuir para a prevenção da violência contra a mulher, levando materiais informativos sobre a temática voltados para o público de ambos os sexos. A violência contra as mulheres é reconhcecida como uma violação dos direitos humanos, abrangendo diversas esferas políticas, econômicas, culturais, necessitando de estratégias para fortalecer a cidadania feminina. Destaca-se que a universidade deve atuar de forma integrada para mitigar esse importante problema de saúde pública e para isso, a educação em saúde na sala de espera desempenha papel fundamental, visto que, por meio da participação de docentes e estudantes de graduação na área da saúde, são elaborados materiais informativos sobre os tipos de violência, ciclo da violência e locais de apoio às vítimas. Além disso, são promovidas discussões e oferecidas diversas ferramentas para aproximar os acadêmicos da problemática e esclarecer, por meio de maior visibilidade, o que constitui violência contra a mulher. Com isso, torna-se evidente a necessidade da extensão universitária para o desenvolvimento de atividades formativas, as quais promovem a discussão de temas que, muitas vezes, não são abordados dentro da sala de aula. Além disso, o projeto possibilita que esses estudantes tenham contato com a comunidade, levando informações sobre o que pode ser considerado violência contra a mulher. Desenvolvimento: Existem desafios para o enfretamento da violência contra a mulher, pois muitas vezes as pessoas inferem que violência é apenas a agressão física, sem reconhecer que algumas atitudes do parceiro podem ser consideradas um tipo de violência ou até mesmo o alerta para violências futuras. A literatura tem apontado que o principal tipo de violência sofrida entre as mulheres é a psicológica. A partir da violência psicológica a mulher fica mais suscetível a sofrer violência física, aumentando ainda mais o risco de outras formas de violência e até mesmo de feminicídio. Dessa forma, o projeto foi desenvolvido com o objetivo fundamental de informar e esclarecer sobre os principais tipos de violência, identificando fatores de risco que as exponham a algum tipo de violência. O trabalho foi realizado em conjunto com os acadêmicos do sexto semestre do curso de medicina, com o intuito de estimular e construir uma metodologia informativa para despertar o interesse e criar vínculo com aqueles que estavam na sala de espera das Clínicas. Foram desenvolvidos materiais de apoio como banners, panfletos, cartões e placas com respostas de sim ou não para responder às perguntas elaboradas pelos acadêmicos, questionando diversas situações em que as mulheres se encontravam e perguntando se isso poderia ser uma situação de violência. Dentre as situações, as principais foram: “A imposição do marido para ter relações sexuais sem preservativos constitui um tipo de violência? E quanto à situação em que alguém não trabalha por desejo do parceiro, poderia ser considerada uma forma de violência? Solicitar que a cônjuge mude de roupa pode ser interpretado como uma forma de violência?”. Uma vez por semana, um grupo de estudantes se dirigia à sala de espera das Clínicas Integradas, onde o projeto era realizado. Após realizar as perguntas, que exigiam que os participantes respondessem, com o uso de placas, sendo uma verde, representando “sim”, outra vermelha, representando o “não” por meio dos sinais de “correto” ou “errado”, se a situação apresentada pelo grupo era ou não um tipo de violência. A partir disso, contando com as respostas das pessoas presentes, era explicado se a situação apresentada era ou não violência e, se sim, qual o tipo de violência que representava. Além disso, outro objetivo era elucidar os principais tipos de violência e o "violentômetro" que, por meio de cores, age como um termômetro da violência, o qual demonstra o nível de risco que cada ação representa na vida das mulheres e quando devem começar a desconfiar do comportamento do parceiro. Com isso, ao participar da produção e realização do projeto, percebe-se que ainda é necessária maior conscientização da população sobre o assunto, pois durante as atividades era possível ver que alguns participantes levantaram a placa assinalando a resposta errada, principalmente, considerando apenas a violência física como um tipo de violência, sem reconhecer que a violência financeira, psicológica e sexual também constituem. Ao final, era solicitado para que respondessem de forma anônima sobre a experiência e muitos marcavam que haviam aprendido novas informações sobre o assunto. Além disso, foi possível ver certa resistência em alguns indivíduos que estavam presentes para participar, principalmente por parte do público masculino, incluindo a fala presenciada: “não acredito nessas coisas”. Dessa forma, esse projeto foi muito importante, tanto para a comunidade, como para os acadêmicos, que por serem da área da saúde e estarem em um nicho no qual esse assunto é frequentemente abordado, não Têm a noção real sobre o que o restante da população sabe e como tratam a violência interpessoal contra a mulher. Ressalta-se ainda que o projeto proporcionou às mulheres acesso a todos os canais de notificação e denúncia e informações por meio de panfletos e cartões contendo diversas explicações sobre os demais tipos de violência contra a mulher.Resultados: Para os estudantes que participaram da produção e realização do projeto, além da troca de informações e do contato mais próximo com a realidade de muitas mulheres, o projeto ressalta a importância do trabalho em equipe para preencher lacunas deixadas em alguns segmentos da saúde. Além de oferecer autonomia para a criação de materiais informativos sobre os diversos tipos de violência que ocorrem na sociedade. Considerações finais: A experiência foi importante para a construção do pensamento crítico e o incentivo para futuros estudos e projetos sobre a temática, ainda, ampliar o conhecimento sobre o assunto para que, como futuros clínicos, tenhamos a capacidade de identificar a violência sofrida por pacientes, acolhê-las, orientá-las e se necessário, encaminhá-las de forma correta.