Este trabalho discute a importância da interprofissionalidade na Atenção Básica (AB) do Sistema Único de Saúde (SUS), com foco no Distrito Federal (DF). A Reforma Sanitária no Brasil evidenciou a necessidade de mudar o modelo de saúde uniprofissional centrado na doença para práticas interprofissionais focadas no indivíduo. A colaboração entre profissionais de saúde promove integração, cooperação e adota uma abordagem holística.
O trabalho interprofissional é crucial para uma abordagem integral centrada no usuário, aumentando a satisfação de pacientes e profissionais, reduzindo custos e melhorando resultados. Nesse aspecto, as residências multiprofissionais oferecem oportunidades para práticas colaborativas na Atenção Básica, redefinindo o cuidado e incentivando parcerias entre profissionais e usuários.
Baseado nessa perspectiva de cuidado, este trabalho se deu no âmbito do módulo de Atenção Básica à Saúde no Distrito Federal do Programa de Residência Multiprofissional de Atenção Básica da Fiocruz Brasília. Trata-se de um ensaio crítico-reflexivo feito a partir de revisão bibliográfica somada ao relato de experiência dos autores enquanto residentes. Como resultado, foi realizado diálogo ampliado entre duas turmas de residência do programa citado anteriormente por meio de apresentação dialogada e roda de conversa, assim fortalecendo o tripé ensino, pesquisa e prática.
A história da Atenção Primária à Saúde (APS) no DF começa em 1979 com a implementação do Plano de Jofran Frejat, que estabeleceu "Centros de Saúde" com o objetivo de descentralizar o acesso à saúde e oferecer diversas especialidades médicas. Desde então, diversos programas foram lançados para fortalecer a AB, incluindo o Programa Saúde em Casa (1990-1998), o Plano de Conversão da Atenção Primária (1999-2007) e o Programa Converte APS (2017), que promoveu a Estratégia de Saúde da Família como modelo prioritário.
Esses esforços têm aumentado a cobertura populacional da APS, contribuindo para maior equidade e redução das desigualdades sociais. Normativas e legislações, como a Constituição Federal de 1988 e as Leis nº 8080/90 e 8142/90, estabeleceram o SUS como sistema público de saúde, com foco na universalidade, integralidade e equidade.
O Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e a Estratégia de Saúde da Família (ESF) reforçaram a interprofissionalidade e a educação permanente na AB, oferecendo cuidados integrados. Entretanto, há desafios para a implementação plena da interprofissionalidade, como a sobrecarga de trabalho, crises de saúde pública, limitações estruturais e conflitos interpessoais. A Portaria GM/MS nº 635 de 2023 propõe a reconstrução da AB com foco na interprofissionalidade, mas enfrenta desafios relacionados a condições físicas das unidades, financiamento e restrições orçamentárias.
O DF é exemplificado para ilustrar a estrutura do sistema de saúde pública, destacando a necessidade de coordenação entre diferentes níveis de assistência, com base nas diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica, para garantir atenção integral e contínua aos usuários. Desafios práticos, como falhas de comunicação e falta de conhecimento dos profissionais sobre os sistemas de referência e contrarreferência, precisam ser enfrentados para garantir uma atenção integral ao paciente. Melhorar a comunicação e o sistema de saúde é fundamental para avançar no cuidado e promover uma abordagem mais eficaz e centrada no indivíduo.