Apresentação: A educação em saúde consiste em um conjunto de ações de caráter participativo e emancipatório que visa sensibilizar, conscientizar e mobilizar pessoas no que tange seu cuidado em saúde. Essas práticas são fundamentais para a efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de prevenção e promoção de saúde, sobretudo dentro da atenção primária à saúde. Uma forma de implementar tais ações é a partir da formação de grupos que visem promover o diálogo com a comunidade atendida, conhecer suas necessidades de saúde, facilitar o acesso e o conhecimento de saúde aos usuários. Nesse contexto, este trabalho objetiva relatar a experiência de uma estudante de psicologia, no Programa Multicampi Saúde da Criança, acerca das atividades grupais como ferramenta de implementação de educação em saúde, as quais ocorreram em uma Unidade Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Belém. Desenvolvimento: A estudante foi alocada em uma ESF junto de estudantes de enfermagem, fisioterapia e terapia ocupacional, as quais acompanharam a rotina de uma unidade de atenção primária à saúde pelo período de um mês. Com isso, algumas atividades foram recomendadas aos discentes do curso de psicologia para que realizassem ao longo do mês, considerando as necessidades da unidade. Uma dessas atividades foi justamente o acompanhamento de grupos já existentes na ESF ou a criação de novos. A finalidade dessa ação era tanto acompanhar o que já estava sendo elaborado, como também propor ações de saúde, como é o caso da educação em saúde. Resultados: A estudante acompanhou 4 grupos que já existiam na unidade, os quais são: Programa de incentivo ao aleitamento materno – Proame; Gestar; Planejamento Familiar; e Crescimento e Desenvolvimento. O primeiro grupo – Proame – visa incentivar o aleitamento materno integral de crianças de 0 a 6 meses. Nesse sentido, a estudante acompanhou dois encontros. No primeiro encontro, o enfermeiro conversou com as mães acerca do aleitamento, a importância para os bebês, uma vez que previne contra várias doenças como diabetes, infecções, alergias, entre outras. Nesse viés, algumas mães perguntaram sobre dermatites que os bebês estavam apresentando. Uma das mães conversou com elas sobre os cuidados que se deve ter com bebês pequenos, no sentido de proteger do contato com produtos fortes ou pessoas estranhas. Além disso, o enfermeiro verificou os marcos do desenvolvimento da criança conforme a caderneta e conversou com as mães sobre a importância de se atentar para esses marcos. O segundo encontro, foi articulado pelo médico e abrangeu diversos assuntos para além do aleitamento. Primeiramente, houve a discussão da problemática do caso de uma mãe que foi se consultar com uma médica para tratar a questão do aleitamento e a médica recomendou esta a fazer introdução alimentar com o seu filho de 3 meses. Com isso, o médico conversou com as mães no sentido disso ser uma questão bastante emblemática para os profissionais, pois a maioria não aprova a introdução alimentar antes dos seis meses. Falou sobre como cada situação é diferente, mas ainda sim, os estudos mostram que a introdução só deveria ocorrer após os 6 meses. Após isso, a estudante de enfermagem falou sobre o HPV e a importância de fazer o preventivo para o rastreio de lesões imperceptíveis, bem como para a descoberta precoce do câncer. Ademais, discutiu sobre como a figura do pai é relevante nesse processo de aleitamento e desenvolvimento da criança, principalmente em relação a diminuição da sobrecarga da mãe. Algumas mulheres falaram um pouco dessa sobrecarga e o quanto é difícil lidar com os julgamentos. Por isso, o médico incentivou as mães a convidá-los para participar dos grupos também. Por fim, conversou sobre a menstruação depois da gravidez e o risco de engravidar novamente, além de falar sobre a dengue em crianças e a necessidade de usar mosquiteiros. O segundo grupo – Gestar – objetiva acompanhar as gestantes em todo seu processo de gravidez. Nesse viés, a estudante acompanhou dois encontros. No primeiro encontro, a médica discutiu algumas problemáticas da gravidez como a questão do controle do peso e da pressão alta. O aluno de nutrição conversou com as gestantes sobre alimentação saudável. No segundo encontro, a médica conversou com as gestantes sobre câncer no colo do útero e a importância de fazer preventivo. Depois, a estudante de fisioterapia desenvolveu uma educação em saúde com as gestantes sobre o preparo para o parto. A discente ensinou exercícios para o relaxamento pélvico e para o corpo todo. As mulheres se mostraram bastante interessadas nesses exercícios, pois muitas relataram o cansaço e as dores provenientes da gravidez. O terceiro grupo – Planejamento Familiar – propõe-se a auxiliar as pessoas a prever e controlar a gravidez. Nesse conjuntura, a discente acompanhou dois encontros. No primeiro encontro, a aluna de farmácia conversou com as mulheres sobre métodos contraceptivos, fez orientações sobre o uso e sua importância. Depois, o enfermeiro entregou o anticoncepcional e camisinhas para elas, bem como fez orientações sobre o uso e o retorno delas. No segundo encontro, a discente de psicologia fez uma educação em saúde com as mulheres sobre violência doméstica. Conversou com elas sobre a gravidade da problemática no Brasil, o qual tem casos recordes de feminicídio todos os anos. E que mesmo que elas não sofram violência, talvez ela conheça alguém que passa ou já passou por isso, com isso, não se pode ser conivente com tal situação. Algumas mulheres falaram o quão difícil é passar por essa situação. A estudante ainda discutiu os tipos de violências, o ciclo da violência, os mitos e formas de buscar ajuda. Destacando sempre que elas não deveriam se sentir culpadas pelas atitudes do outro, ou sentir vergonha por estar passando por essa situação, a questão era justamente perceber os sinais e buscar ajuda o quanto antes. Posteriormente, a outra estudante de psicologia conversou com elas sobre autoestima e autonomia. O quarto grupo – Crescimento e Desenvolvimento – objetiva acompanhar o processo de desenvolvimento de crianças de 7 meses a 2 anos. Nessa ótica, a aluna acompanhou um encontro. Neste encontro a estudante de terapia ocupacional abordou questões acerca dos transtornos do desenvolvimento, e sobre a importância do estímulo. Em continuidade, a aluna de psicologia conversou com as mães sobre como a questão do diagnóstico não é uma sentença para a criança – se for estimulada ela poderá ser capaz de se desenvolver plenamente. Além disso, a discente conversou com as mães acerca da importância de considerar os sentimentos das crianças, no sentido de conversar com elas, falar sobre afetividade e mesmo em momentos de imposição de limites, é preciso se importar com as emoções dos infantes. Destacando que isso é fundamental para o desenvolvimento saudável deles. Por fim, a estudante de enfermagem debateu sobre a importância da vacinação, desmistificou algumas lendas e explicou como funciona a vacina. Considerações finais: Conclui-se que a prática grupal propiciou na população atendida processos de sensibilização e conscientização. Apesar da educação em saúde na unidade possuir um caráter, a princípio, biológico, nota-se que a entrada da equipe multidisciplinar produziu um diálogo sobre a saúde numa perspectiva integral. Desse modo, a formação dos grupos como meio de se efetivar a educação em saúde se mostrou bastante profícuo para a ampliação da prevenção e promoção de saúde da comunidade.