Embora, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais tenha proporcionado avanços, estes apresentam-se incipientes e os serviços constituem-se permeados por violências institucionais. A literatura demonstra que os fatores limitantes para o acesso à serviços de saúde por populações ditas minoritárias, neste caso, pessoas transexuais e travestis, destacam-se: baixa acessibilidade, sistema fragmentado, ausência de equidade e acolhimento, atendimento inadequado, profissional não capacitado e pela falta de competência na integralidade do cuidado. Devido a ausência de uma linha de cuidado para a população LBGTQIA+ no município, em especial a população transgênero, que apresenta baixa adesão à Atenção Primária à Saúde (APS) recorrendo a níveis secundários e terciários de atenção, sobrecarregando esses pontos da rede e impossibilitando o acompanhamento longitudinal do cuidado devido a oferta de serviços fragmentados, pensou-se em estabelecer uma linha de cuidado destinado a esse grupo. O presente trabalho objetiva relatar a experiência de profissionais da residência em saúde da família na construção de uma linha de cuidado para pessoas transgênero. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, desenvolvido durante o rodízio obrigatório em um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, na Bahia, que aconteceu no período de agosto a outubro de 2023, vinculado a um setor da gestão municipal. A construção da linha de cuidado surge através do Grupo de Trabalho de Políticas de Equidade e a partir da análise dos cadastros de pessoas trans no e-SUS do município. Tal movimento construtivo conta com a participação de setores de gestão como Policlínica Municipal, Complexo de Regulação, Vigilância Epidemiológica e Atenção Primária à Saúde, assim como universidades públicas e particulares apoiadoras, a fim de discutir sobre a saúde dessa população, bem como delimitar a oferta de serviços e as responsabilidades de cada nível de atenção. Aspectos relacionados à saúde mental, hormonização e regulação para procedimentos cirúrgicos foram temas abordados nesse processo. Além disso, também foi proposto um Projeto de Lei que visa instituir a Política Municipal de Promoção de Equidade e um projeto de extensão vinculado à universidade estadual como apoio. Essa linha de cuidado tem como foco o trabalho multiprofissional e a APS como ordenadora do cuidado e estruturante na RAS, desse modo é possível dinamizar e oportunizar o cuidado com protocolos clínicos bem definidos, incluindo também intervenções primordiais e potenciais para a promoção da saúde e prevenção de doenças, fortalecendo o cuidado integrado.