APRESENTAÇÃO: Como ponto de partida tomamos como proposta a ideia de ‘paraquedas’ coloridos proposta pelo líder indígena, filósofo e Imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak. Com essa formulação, o autor possibilita estabelecer uma passagem que vai do caos, da tragédia e do fim de mundos à criação de saídas criativas para o sofrimento que já está em curso. Com essa analogia, construímos uma ponte entre o sofrimento psíquico que se expressa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro com a criação de rodas de conversa que aqui chamamos de ‘paraquedas coloridos’. A UERJ, campus Maracanã, tem sido um local de expressão de muitos sofrimentos de pessoas de dentro da comunidade acadêmica e de fora dela. Tais sofrimentos se expressam muitas vezes em forma de crises em saúde mental, tentativas e suicídios consumados. Como forma de construir reflexões sobre o fenômeno e de ampliar as possibilidades de intervenção, no sentido da promoção da vida e da saúde como parte dela, o estudo tem como objetivo apresentar a experiência com rodas de conversas realizadas nos jardins da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo qualitativo e descritivo ligado a pesquisa vinculada ao Programa de Incentivo à Produção Científica, Técnica e Artística (PROCIÊNCIA) da UERJ e a participação na Comissão de Saúde Mental da UERJ. A experiência parte de dois movimentos: Pesquisa: cartografia das situações relacionadas à violência autoprovocada (suicídio, ideação, planejamentos e tentativas) e situações de saúde mental na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, campus Maracanã, de 1990 até dezembro de 2023 feito a partir do processo de trabalho dos seguranças da UERJ na identificação e acolhimento as pessoas em sofrimento psíquico e Experimentação coletiva: Construção de rodas de educação permanente e de promoção da saúde a partir dos indicadores encontrados. RESULTADOS: O primeiro resultado foi o mapeamento desse ‘fim de mundos’ que ocorrem cotidianamente na UERJ, Campus Maracanã, desde o ano de 1990. A UERJ/Maracanã, uma das maiores e mais prestigiadas universidades do país e da América Latina, no entra e sai de vidas, o sofrimento psíquico se faz presente. Aparece em forma de choro intenso, de crises de ansiedade, de tentativas e até mesmo de suicídio. O mapeamento a partir do processo de trabalho dos seguranças evidenciou um indicador preocupante. Desde 1990, foram analisadas 120 ocorrências, sendo 32 suicídios, 59 situações de risco de suicídio (ideação, planejamento e tentativas) e 29 situações de crise em saúde mental que foram acolhidas inicialmente pelos seguranças. Dessas ocorrências, observamos que os dias mais intensos de expressão de sofrimento são segunda, terça e quintas-feiras, com maior predominância no período da tarde e por pessoas com faixa etária entre 20 e 25 anos de idade, sendo a maioria pertencente à comunidade acadêmica (estudantes, ex-alunos e trabalhadores) e predominantemente, mulheres. O segundo resultado foi a construção de espaços abertos de conversa sobre saúde mental no campus. Como integrante da Comissão de saúde mental e pesquisadora, foi possível compreender que o debate precisaria ser aberto, não restrito aos trabalhadores ou a comunidade acadêmica. Seria preciso compor redes, saberes, práticas. Assim, apresentamos como resultado desse estudo, duas rodas. A primeira ocorreu em julho de 2023 e foi construída uma Roda de poesias aberta. Participaram usuários e trabalhadores de saúde do Centro de Atenção Psicossocial da UERJ, estudantes de enfermagem, psicologia, residentes em saúde mental, seguranças, docentes, Centro de Valorização da Vida, trabalhadores da Pro-reitoria de saúde (PR5) e convidados poetas. A proposta era iniciar nos jardins da UERJ encontros para fortalecer os laços entre as pessoas e construir uma rede de cuidados e de escuta coletiva dos sofrimentos. A segunda roda foi intitulada de Conversações: saúde mental e redes de cuidados e ocorreu em outubro de 2023 com presença de estudantes de enfermagem, de psicologia, docentes, representantes de 5 projetos de extensão: transligado, COMtexto, Liasme, Enfreabilitar, Quilombo do cuidar, trabalhadores da PR5, trabalhadores do CAPS UERJ e CAPS Ad do território, trabalhadores do serviço de Acolhida, Saúde Psicossocial e Bem-estar voltados para estudantes e do serviço de saúde do trabalhador da UERJ, além de seguranças. Para a roda, apostamos na arte como mobilizadora do “deixar falar”. A proposta era discutir sobre a rede de cuidados em saúde mental dentro e fora da universidade e sobre os atravessamentos psicossociais, tais como racismo, Lgbtquiapn+fobia, capacitismo, violências institucionais e de gênero que permeiam e produzem sofrimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com a pesquisa foi possível entender o fenômeno do sofrimento psiquico na universidade e a partir de rodas de conversa, segundo os pressupostos da EPS, foi possível inventar coletivamente ‘paraquedas coloridos’ para aliviar a queda e os “fins de mundos” que se apresentam na universidade.