Apresentação: O trabalho é um meio de aquisição de bens e serviços, porém também é influenciador psíquico na formação do homem, e sua relação está ligada ao processo de construção da sua identidade e bem estar, uma vez que pode ser fonte de prazer profissional, mas também pode desgastar e adoecer o trabalhador. Os serviços de saúde possuem individualidades acerca de seu contexto e exigências dos profissionais atuantes, por vezes não estabelecem uma Qualidade de Vida Profissional (QVP), essa diz respeito à qualidade a que se sente em relação ao trabalho, e torna-se necessária e relevante para seus trabalhadores, ao estar afetada produz reflexos nos profissionais, com repercussões nos níveis de Satisfação por Compaixão (SC), a qual está ligada ao efeito positivo em prestar a assistência no âmbito dos serviços de saúde. Por outro lado, quando prejudicada a QVP tem-se o polo negativo, que somados ao Estresse Traumático Secundário (ETS), Burnout (BO), e o baixo sentimento de SC, levam o profissional a sentir-se insuficiente ou inútil em sua atuação ao que desencadea a Fadiga por Compaixão (FC). A FC leva ao adoecimento do trabalhador de saúde e potencialmente prejudica a prestação de assistência, podendo prejudicar fatores como a segurança do paciente, elevar a rotatividade de profissionais, reduzir a efetividade e qualidade do serviço. A FC é reconhecida como o "custo de cuidar", em que é singular nos serviços de atendimento oncológico, o qual possui características únicas, em seu ambiente, e em perfil de pacientes, que vivenciam o adoecer e compartilham esse processo com o profissional de saúde ao longo de todo tratamento. Para além dos cuidados, o profissional de enfermagem é aquele que está mais próximo do paciente, e o assiste ao longo de sua passagem pelo hospital em diferentes setores, desde a classificação de risco, triagem, primeiros cuidados, internação e alta, ele que prestará cuidados básicos e avançados para manutenção da vida, acompanhará os efeitos da evolução da doença e estará beira leito para dar suporte ao paciente. Sabendo-se da complexidade dos cuidados ao paciente oncológico, já se compreende a propensão dos trabalhadores a FC, especialmente dos trabalhadores de enfermagem. Em luz a esse contexto, este estudo tem como objetivo analisar a ocorrência de FC em profissionais de enfermagem que atuam junto a unidades oncológicas na literatura científica atual. A proposta embasa teoricamente uma macropesquisa intitulada "Fadiga por compaixão em profissionais que atuam em unidades oncológicas: estudo de método misto". Salientar a relevância do tema para os usuários, profissionais de saúde e instituições, uma vez que a FC produz efeitos não só aos profissionais que atuam na prestação de ajuda/cuidado. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura realizada em abril de 2024, busca nas bases de dados Scielo, BVS, Lilacs, PubMed e Cochrane, utilizando os Descritores em Ciencias da Saúde (DeCS): Enfermagem; Oncologia; Saúde Mental; Saúde do Trabalhador, separados pelo operador booleano and, foram selecionados artigos na língua portuguesa, publicados nos últimos cinco anos, tendo uma amostra final de seis estudos, foram selecionados três com maior proximidade do assunto e relevância para a pesquisa. Resultados: Entre os achados da revisão, identifica-se um estudo descritivo e exploratório de abordagem qualitativa, no qual avaliou 26 participantes atuantes no ambiente de terapia intensiva oncopediátrica, entre estes enfermeiros, técnicos de enfermagem e trabalhadores de serviços gerais, ao qual traz dados que possibilitam compreender que o exercer o trabalho, em específico o cuidar, muito voltado a ciência da enfermagem, o profissional se aproxima com a subjetividade e o sofrer daquele que realiza autocuidado, e essa relação afeta de maneira negativa a saúde mental do trabalhador, que durante a relação de ajuda, o se expor ao sofrer do paciente, trará interferências quando não possuir meios para preveni-las. Em equipes de enfermagem que lidam e observam as adversidades e obstáculos como corriqueiros, em vista a um olhar mais compassivo exercendo a autocompaixão sendo este um fator positivo que promove sentimento de empatia e compaixão. O isolamento por vez em frente a desafios ou posterior a situações de estresse, se mostra como um importante fator de risco ocupacional, sendo que ao estar isolado, sentimento de culpa e frustração predominam. O sentimento de responsabilidade acerca da dor e sofrimento do paciente torna-se evidente principalmente entre enfermeiros, esta mesma classe apresenta-se mais susceptível a riscos psicossociais, e com maior dificuldade de descrever de forma positiva suas experiências internas. Para a classe de técnicos de enfermagem, o sentimento e vontade de dar conta de todos seus afazeres é exaustivo, porém ao chegar ao fim pode torna-se recompensante. É possível identificar na literatura que as situações negativas vivenciadas no trabalho geram reflexos em aspectos da vida social. O orgulho e satisfação em prestar trabalho que proporciona conforto e bem estar a alguém, pode proporcionar prazeres aos profissionais sendo assim um fator protetivo. Já o estresse ocupacional é consequência de fatores estressores presentes no ambiente, e leva o profissional a desenvolver exaustão física e emocional atuando de maneira negativa e predispondo a FC. O ETS, o desgaste e a insatisfação geram exaustão emocional e tem repercussão no serviço prestado. Ainda, é possível identificar que as duplas jornadas de trabalho, tipos de vínculos, sobrecarga e as condições precárias na estrutura e ambiente de trabalho diminuem a QVP e aumentam o risco para desenvolvimento de FC. Outro fator relevante, que atua de forma preventiva para FC e melhora a QVP é a espiritualidade, ao entender que o ser é constituído também por uma dimensão de crenças e valores, que auxiliam a exercitar o autoconhecimento, valorização e autocuidado, quando trabalhada em equipe o autocuidado espiritual fortalece as relações. Considerações finais: Com este estudo foi permitido identificar fatores que afetam a QVP e predispõem a ocorrência da FC em profissionais de enfermagem no contexto oncológico hospitalar, desse modo ressalta-se a importância da adoção de recursos para promoção da saúde, prevenção e tratamento de agravos desses profissionais que são afetados diariamente em seu ambiente laboral, e não estão preparados para lidar com estas adversidades, e assim adoecem mentalmente, o que pode também comprometer a qualidade do serviço prestado.