GESTÃO E GERENCIAMENTO DO ENFERMEIRO NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

  • Author
  • Kamille Cristina Ramme Lermen
  • Co-authors
  • Camila Amthauer , Ana Cristina Mücke , Tainá Roberta Müller , Paula De Almeida , Keli Cristina Saatkamp , Carol Smaniotto , Gabrielli Cristina Basso , Arielle Zerwes dos Anjos
  • Abstract
  • Apresentação: no complexo contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), o enfermeiro vem assumindo um papel cada vez mais relevante na gestão e no gerenciamento em saúde, enfrentando uma miríade de desafios e obstáculos que permeiam esse cenário dinâmico. O enfermeiro da ESF é responsável por coordenar e executar as ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação, atuando como elo entre a comunidade e os demais profissionais de saúde. Ele realiza visitas domiciliares, avalia as condições de saúde da população, identifica fatores de risco e implementa intervenções para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e famílias atendidas. Essas atividades vão muito além da prestação de assistência direta aos usuários, pois abrangem a integração de processos administrativos e assistenciais que se mostram fundamentais para o adequado funcionamento da ESF. A gestão e o gerenciamento do enfermeiro na ESF envolvem a organização dos recursos humanos e materiais, o planejamento e a implementação de políticas públicas de saúde, a avaliação de processos e resultados, além da articulação em rede com outras instituições e serviços de saúde. Somado às responsabilidades assistenciais da profissão, os enfermeiros desempenham um papel crucial na administração da estrutura organizacional, participando ativamente dos processos decisórios e coordenando a equipe nos cuidados prestados à população adscrita. Diante desse cenário, o objetivo principal do estudo é descrever as percepções de enfermeiros sobre a gestão e o gerenciamento de enfermagem na ESF. Desenvolvimento: estudo de abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, envolvendo enfermeiros atuantes na Coordenadoria de Saúde e nas nove ESF pertencentes a um município do Extremo Oeste de Santa Catarina. Como critério de inclusão considerou-se ser graduado em Enfermagem e, no que tange aos critérios de exclusão, excluíram-se os profissionais que se encontravam em algum tipo de afastamento, em virtude de férias, licença especial, tratamento de saúde ou maternidade. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, conduzidas individualmente e registradas em áudio para posterior transcrição e análise. Os dados foram analisados utilizando-se a análise de conteúdo do tipo temática, proposta por Minayo. Respeitaram-se os princípios éticos em saúde, conforme preconizado na Resolução n° 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina, sob Parecer nº 2.148.788.  Resultados: participaram do estudo onze enfermeiros, sendo um do sexo masculino e dez do sexo feminino, com idade entre 24 e 38 anos e experiência profissional abrangendo um espectro temporal de um ano e meio a 20 anos. Dos entrevistados, quatro possuem especialização em Saúde Pública e os outros sete não possuem especialização na área. Após análise minuciosa dos dados coletados, emergiram duas categorias temáticas: 1) Percepções de enfermeiros sobre a gestão e o gerenciamento na ESF; e, 2) Desafios e dificuldades enfrentados pelo enfermeiro na gestão e no gerenciamento da ESF. Os discursos dos enfermeiros destacam sua posição central na unidade de saúde, a qual são responsáveis pela organização e gestão do processo de trabalho, que envolve a coordenação dos recursos humanos, materiais e sistemas de informação, assim como a administração do serviço de saúde. Assim, os enfermeiros têm a responsabilidade de garantir a disponibilidade de insumos e medicamentos, planejar o dimensionamento de pessoal e a organização do fluxo assistencial da ESF, seguindo as diretrizes recomendadas pelo Ministério da Saúde. Ademais, enfatiza-se a importância do enfermeiro como líder da equipe de saúde, capaz de coordenar e articular o trabalho para além das atribuições de seu núcleo profissional, demonstrando e fazendo uso das suas habilidades de liderança para o alcance de um ambiente de trabalho harmonioso e eficiente. Na segunda categoria temática, os enfermeiros discorrem sobre os desafios enfrentados em seu trabalho, quando se deparam com uma série de obstáculos que dificultam a eficácia desse processo. Dentre esses desafios, está a falta de tempo adequado para o planejamento das ações a serem desenvolvidas devido às constantes demandas urgentes e imprevistas que surgem no cotidiano de trabalho da unidade de saúde. A sobrecarga de trabalho e a falta de autonomia para tomada de decisão também são apontadas como questões que impactam diretamente na capacidade dos enfermeiros de gerir eficientemente os recursos e as atividades da equipe. Somado a isso, o excesso de demanda e o excesso de trabalho administrativo e burocrático surgem como justificativas para a falta de execução de atividades voltadas para a promoção da saúde e prevenção de agravos, levando, muitas vezes, os enfermeiros a lançar mão das ações voltadas para o cuidado em prol das atividades administrativas. Outro desafio mencionado pelos participantes é a dificuldade em lidar com a resistência de outros profissionais da equipe, como médicos e agentes comunitários de saúde, o que pode dificultar a implementação de estratégias e ações planejadas. Esses obstáculos, quando não enfrentados de maneira adequada, podem comprometer a qualidade dos cuidados prestados no serviço de saúde e impactar negativamente na saúde e no bem-estar dos usuários. Considerações finais: compreender as percepções dos enfermeiros sobre sua atuação na gestão e no gerenciamento de uma ESF é essencial para o desenvolvimento individual desses profissionais e também para o fortalecimento e aperfeiçoamento da ESF como um todo. Do estudo, foi possível observar que o enfermeiro assume uma posição de liderança ao ser considerado um profissional de referência na unidade de saúde, desempenhando um papel crucial na promoção de um cuidado mais eficaz e centrado no paciente, que irá contribuir para o alcance dos objetivos de saúde da população atendida e para a consolidação da Atenção Primária à Saúde. Faz-se importante, contudo, que o enfermeiro tenha conhecimento de suas atribuições para direcionar suas ações administrativas, gerenciais e assistenciais, no atendimento das necessidades básicas de saúde e sociais de sua população, de modo a transformá-las em melhores condições de saúde e de qualidade de vida. Entretanto, para legitimar as práticas de gestão e gerenciamento do enfermeiro na ESF, percebe-se a necessidade de um maior investimento por parte dos gestores de saúde na capacitação dos enfermeiros, por meio da Educação Permanente em Saúde, a fim de qualificá-los para uma prestação de cuidado mais resolutiva e voltada para o indivíduo, família e comunidade, conforme tem sido preconizado pelo Sistema Único de Saúde.

  • Keywords
  • Gerenciamento, Enfermagem, Gestão, Unidade Básica de Saúde
  • Subject Area
  • EIXO 3 – Gestão
Back