Introdução: A importância da emancipação para a saúde global do indivíduo é fundamental e abrange diversos aspectos de seu bem-estar físico, mental e social. Quando uma pessoa se torna emancipada, ela adquire maior controle sobre sua vida, desenvolvendo possibilidades e tecnologias de cuidado que promovem sua autogestão e potencializa os princípios de integralidade e equidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso pode incluir tomar decisões informadas sobre sua saúde, buscar recursos e suporte quando necessário, e adotar comportamentos saudáveis que contribuam para seu bem viver. Emancipação também está intrinsecamente ligada à autoestima e ao senso de identidade, proporcionando uma sensação de propósito e significado na vida. Além disso, a emancipação pode fortalecer os laços sociais e comunitários de uma pessoa, aumentando sua rede de apoio e recursos disponíveis. A busca pela emancipação individual é um processo complexo que envolve não apenas questões socioeconômicas, mas também aspectos emocionais e relacionais. Nesse contexto, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) emerge como um instrumento facilitador fundamental, especialmente em contextos de vulnerabilidade socioeconômica e ambiental como na Amazônia Oriental. Este relato de experiências tem como objetivo destacar o papel crucial desempenhado pelo SCFV em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na região, explorando como esse serviço contribui para a emancipação dos indivíduos. Ao fornecer um espaço seguro para interações sociais, desenvolvimento pessoal e fortalecimento de tecnologias de cuidado, o SCFV não apenas promove a inclusão e a participação ativa na comunidade, mas também possibilita os indivíduos a alcançarem sua autonomia e protagonismo em suas vidas. Este relato destaca a importância de abordagens integradas e centradas no ser humano para promover a emancipação individual e o desenvolvimento sustentável em contextos amazônicos, ressaltando a relevância do trabalho realizado nos CRAS como agentes de transformação social e fortalecimento comunitário. Desenvolvimento do Trabalho: Entendendo a educação como ferramenta de inclusão social, transformação pessoal e envolvimento comunitário, as atividades planejadas para trabalhar nos ciclos do SCFV tem como objetivo propiciar entre os usuários oportunidades para a escuta; valorização e reconhecimento do outro; produção coletiva; exercício de escolhas; tomada de decisões sobre a própria vida e do grupo; diálogo para a resolução de conflitos e divergências; reconhecimento de limites e possibilidades das situações vividas; experiências de escolha e decisão coletivas; experiências de aprendizado e ensino de igual para igual; experiências de reconhecimento e nomeação de emoções nas situações vividas; experiências de reconhecimento e admiração das diferenças; entre outras. Neste sentido, escolhemos duas de diversas experiências vivenciadas em um CRAS de uma capital da Amazônia Oriental para apresentar neste relato de experiência, onde observamos o encontro do indivíduo com sua emancipação. A primeira experiência trata-se de uma atividade, dividida em três encontros, com o ciclo de idosos, no qual trabalhamos a seguinte temática: “Relação de gênero: Sociedade patriarcal e o adoecimento das mulheres”. No primeiro encontro, foi fornecido aos idosos um questionário que havia uma série de perguntas sobre o que a mulher pode e não pode fazer em diversas situações, a partir desse questionário discutiu-se os pontos assinalados a fim de desconstruir ideias que perpetuam a violência de gênero, machismo e opressões, o feedback dessa atividade aconteceu por meio de roda de conversa, no qual ouvimos os relatos das participantes, onde destacamos aquelas que mudaram de vida, após a morte ou separação do marido, por conta das opressões que sofriam por serem mulheres. No segundo, através da dinâmica da batata quente, ouvimos a opinião dos idosos sobre características sociais atribuídas ao homem e a mulher e a partir disso discutimos os papéis de gênero construído pela nossa sociedade, durante os relatos das participantes ouviu-se discursos que vão de encontro a situações emancipatórias e/ou de transformação da realidade. Após esse momento, apresentamos várias mulheres que fizeram história em nossa sociedade como Frida, Nise da Silveira, Joana D’arc, entre outras como forma de potencializar e incentivar o protagonismo feminino. No terceiro e último encontro dessa temática, fizemos a escuta e a leitura das músicas “Amélia” de Ataulfo Alves e “Desconstruindo Amélia” da cantora Pitty como mote para discussão, após analise as letras, os idosos apontaram sobre o machismo, a submissão em que a mulher era projetada e seu sofrimento na primeira música e identificaram o empoderamento feminino, a construção de uma nova imagem de mulher na segunda, dando indícios de entendimento da atividade. A Outra experiência emancipatória aconteceu no ciclo de adolescentes ao trabalhar a temática do protagonismo juvenil, as atividades também foram feitas em três encontros e aconteceram da seguinte forma: No primeiro encontro iniciamos com a atividade intitulada “Meu Olhar Sobre A Comunidade” que consistiu em separar os adolescentes em grupos menores de acordo com a comunidade em que vivem. Formou-se então três grupos. A partir daí, foi disponibilizado aos adolescentes: cartolinas, revistas, canetinhas e lápis para que eles construíssem painéis sobre como eles enxergam sua comunidade. No final foi feito uma socialização dos trabalhos. No segundo encontro foi exibido o filme “Escritores da Liberdade” de Richard LaGravenese, que é baseado em fatos reais e narra os desafios de uma professora em cativar os alunos de uma periferia nos Estados Unidos e criar vínculos sociais e comunitários entre os mesmos. Após o filme, foi aberta uma discussão sobre o enredo. O terceiro e último encontro foi realizada uma roda de conversa sobre o protagonismo juvenil, feito isso, foi solicitado aos adolescentes que resgatassem a atividade dos painéis, levassem em conta o protagonismo dos jovens do filme exibido no segundo encontro e produzissem um texto sobre o que é protagonismo juvenil e de que forma eles poderiam contribuir para melhorar as problemáticas de sua comunidade. Com isso, percebemos que os adolescentes entenderam a importância de se compreender o protagonismo juvenil e como esse protagonismo possibilita mudanças reais na sociedade. Resultados: Nas experiências relatadas neste trabalho observamos o grupo de idosos se desconstruindo de ideias machistas e reconhecendo o sofrimento que a sociedade patriarcal causa nas mulheres e o grupo de adolescentes tomando consciência como agentes transformadores de sua realidade, o que nos remete ao discurso de reconhecimento e assunção da identidade cultural defendida por Paulo Freire. A partir da reflexão das práticas exercidas no SCFV do CRAS em questão, compreende-se que as atividades desenvolvidas têm em sua essência o espírito emancipador difundido por Paulo Freire, a partir do momento em que suas ações contribuem com o processo de libertação do indivíduo, o fazendo refletir e buscar a superação das condições de opressão de seu contexto sociocultural. Neste sentindo podemos inferir que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos pode ser utilizado como um dispositivo potencial para facilitar a emancipação dos indivíduos. Considerações Finais: Em suma, o relato de experiências, aqui narrado, ressalta o potencial transformador do SCFV na promoção da emancipação do indivíduo. Ao fortalecer os vínculos comunitários, promover a participação ativa e capacitar os participantes a enfrentar desafios com resiliência e determinação, o SCFV não apenas melhora a qualidade de vida das pessoas através de sua emancipação, mas também contribui para a saúde global dos indivíduos desenvolvendo tecnologias de cuidado, atingindo diversos aspectos de seu bem viver.