Apresentação: Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), havia cerca de 39 milhões de pessoas vivendo com HIV (PVHIV) em 2022 no mundo. No Brasil, foram diagnosticados 40.880 novos casos em 2021, segundo o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). Somado a esse cenário epidemiológico e ao maior acesso à terapia antirretroviral (TARV), as PVHIV estão vivendo mais e podem, ao longo da vida, apresentar risco aumentado para doenças típicas do envelhecimento, como doenças cardiovasculares. Além disso, PVHIV podem ser afetadas por efeitos colaterais comuns da TARV, como metabolismo de glicose prejudicado, dislipidemia e deposição anormal de gordura nos cardiomiócitos, por processos inflamatórios comuns do HIV e por demais fatores, como tabagismo, sedentarismo e hipertensão. As políticas de cuidado devem se embasar na ideia da integralidade, provendo às pessoas ações de atenção que garantam qualidade de vida e o rompimento de estigmas sociais associados ao HIV/AIDS, que ainda vitimizam as pessoas e os grupos sociais. A adesão das PVHIV aos programas e ações de tratamento transcendem a simples ingestão de medicamentos, necessitando incorporar outras abordagens relacionadas ao papel de cuidado em saúde, mas que nem sempre aparecem como questão imediata do tratamento. Assim, conhecer e compreender as condições de vulnerabilidade a que as PVHIV estão sujeitas e que as colocam em risco de adoecimento pode minimizar a morbidade causada pelos aspectos biológicos e sociais do HIV/AIDS. Considerando o cenário apresentado, é indispensável a necessidade de maior propagação de informações acerca das condições cardiovasculares que possam acometer as PVHIV. Com isso, o presente trabalho visa relatar ações em saúde desenvolvidas por um grupo de estudo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) campus Imperatriz, as quais visam à prevenção de doença cardiometabólica em PVHIV em uso de antirretrovirais.
Desenvolvimento do trabalho: Relato de Experiência realizado pelo grupo do projeto de extensão EducarHIV da Universidade Federal do Maranhão no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) de Imperatriz-MA. O grupo é composto por estudantes matriculados nos cursos de Medicina e Enfermagem, compondo uma equipe multidisciplinar para subsidiar propostas de atendimento integral ao público assistido pelo projeto. O projeto teve início em junho de 2021, se estendendo até o ano de 2024, é supervisionado por uma docente vinculada à UFMA e propõe atividades como visitas técnicas com palestras educativas, rodas de conversa, distribuição de métodos contraceptivos, materiais informativos e aplicação de questionários. Todos os anos são realizadas abordagens com temáticas visando educar as PVHIV sobre as doenças cardiometabólcias a que estão suscetíveis. Dentre os principais temas abordados nas ações realizadas, foram tratadas informações acerca dos fatores de risco cardiovasculares e metabólicos tradicionais, como dislipidemia, sedentarismo, hipertensão, diabetes, e não tradicionais, como infecção por HIV e uso de TARV, identificação e cuidados de pessoas que possam apresentar quadros de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente Vascular Cerebral (AVC), formas de prevenção do HIV/AIDS e morbidades associadas. Também foram sanadas dúvidas sobre as questões apresentadas, bem como a diferença entre HIV e AIDS, tratamentos antirretrovirais, comportamento sexual, fatores de riscos para HIV/AIDS, demais Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e comorbidades associadas e outras. Atualmente está sendo abordado sobre IAM e AVC, sendo aplicado questionários para avaliar os conhecimentos gerais dos pacientes presentes no SAE sobre essas patologias. As atividades possuem caráter educativo, e, dessa forma, orientam as pessoas quanto à promoção, qualidade de vida, prevenção de patologias e a importância do acesso e adesão ao tratamento destinado às PVHIV. O momento de interação entre a equipe do projeto e os pacientes presentes é oportunidade para a troca de experiências e saberes, bem como para sanar as dúvidas que surgem acerca da temática. Durante os encontros, a abordagem foi realizada por estudantes dos cursos supramencionados, além de docentes da UFMA. Visando a maior divulgação das ações e para ampliar o acesso ao conhecimento da população em geral sobre os riscos cardiovasculares das PVHIV e do uso de TARV, foram disponibilizadas, em acesso livre em meios digitais, postagens nas redes sociais sobre os temas abordados, bem como foram distribuídos materiais educativos elaborados por discentes dos cursos participantes do projeto, pela docente orientadora e por profissionais da saúde relacionados ao projeto, à UFMA e ao SAE.
Resultados: Durante os quase três anos de atuação do projeto foram realizadas diversas ações de educação em saúde no SAE, direcionadas às PVHIV e funcionários do serviço. As ações contaram com, aproximadamente, 150 pessoas nas palestras e/ou rodas de conversa. As estratégias de educação, divulgação e comunicação em saúde, que fundamentaram as atividades desenvolvidas pelo EducarHIV, foram consideradas relevantes e inseparáveis para dar visibilidade ao tema apresentado e debatido nas ações realizadas pelo projeto. Do ponto de vista teórico e prático, esse tripé permitiu a estruturação do projeto, o qual se ampliou em termos de participação e conscientização social. O EducarHIV também teve participação nas ações relacionadas às campanhas mensais do SAE (realizadas pela equipe multidisciplinar, com enfermeiros, médicos, assistentes sociais e outros profissionais da saúde), como o “Dezembro Vermelho”, que pertence ao calendário nacional e tem como objetivo a conscientização para o tratamento precoce da AIDS e de outras IST, e atuou na divulgação do conhecimento por meio da publicação de conteúdos nos meios digitais (presentes em redes sociais, como Facebook, Flickr, Google+, Twitter e YouTube). O engajamento do projeto permitiu a divulgação e popularização científica e, como resultado, o grupo de trabalho teve participação em diversos eventos com a apresentação e publicação de resultados.
Considerações Finais: As atividades realizadas pelo projeto EducarHIV são produzidas com foco no ensino, pesquisa e extensão, e mantém aproximação ao contexto social e à vigilância em saúde. Com embasamento na perspectiva teórico-metodológica, particularmente no campo da educação em saúde, as atividades realizadas pelo grupo do projeto são importantes, uma vez que possibilitam a construção de espaços para a educação permanente. Portanto, também é oportunidade para a produção de práticas discursivas e sentidos sobre o âmbito da abordagem do HIV/AIDS e suas consequências que ocorre nos serviços de saúde pública/coletiva. A atuação do projeto permite, nesse sentido, aumentar a adesão das PVHIV às ações do SAE, melhorando, consequentemente, a qualidade de vida. O maior conhecimento dos pacientes e funcionários do Serviço de Atendimento Especializado de Imperatriz-MA gera resultados na atual literatura - tais como trabalhos publicados.