O racismo estrutura classe social no Brasil, atingindo mais as mulheres negras, as quais são afetadas também pela desigualdade de gênero. Este estudo é parte de relatório de Tese de Doutorado, partindo do pressuposto de que mulheres/mães/cuidadoras de crianças e adolescentes pretos e pardos usuários de CAPSij sofrem discriminação dupla (em virtude da cor de pele e por ter filhos com problemas de saúde mental). Tratou-se de um estudo exploratório, descritivo de abordagem qualitativa. Foram entrevistadas 18 mulheres, em amostra não probabilística. As concepções teóricas utilizadas foram do Racismo tridimensional (Werneck, 2016) e racismo à brasileira (Munanga, 2017). Emergiram cinco (5) categorias empíricas, desdobradas em temas/subtemas: I – Atenção à Saúde; II – Cuidar de criança/adolescente com problema de saúde mental, III – A Escola; IV – Gênero, V – Racismo. A análise dos dados apontou, dentre outros aspectos, que a estrutura da sociedade brasileira ancora-se no mito da democracia racial, a qual mascara o racismo patriarcal sexista capitalista de supremacia branca. À luz dos determinantes sociais em saúde, o racismo produz, sistematiza as iniquidades, pois opera como um “dispositivo de racialidade”, pauperizando mais as mulheres negras e seus filhos. Reconhecendo o processo de determinação social da saúde, as mulheres enfrentam discriminações relativas aos problemas de saúde mental dos filhos (estigma) e racismo cotidianamente. No entanto, priorizam o cuidado deles, resistindo pelos mesmos, cuidando sozinhas (da sustentabilidade da casa e dos filhos), com recursos financeiros insuficientes (BPC/LOAS), com pouco apoio familiar e sem a participação dos pais das crianças. Por uma sociedade sem manicômios, é premente o combate do racismo a partir de uma atitude antimanicomial antirracista de trabalhadores da RAS e RAPS, visto que os sofrimentos tem contextos de vulnerabilidades socialmente produzidas. Para tanto, utilizar “raça” como categoria analítica interseccionalizada a gênero e classe social no trabalho em Saúde Mental, como ferramenta de elaboração dos projetos terapêuticos singulares, aumenta o poder contratual das mulheres e de seus filhos, bem como pode ser um recurso para a garantia de direitos de cidadania. Além disso, enfrentar a desconstrução da branquitude no país, a fim de desmantelar as iniquidades e as opressões hierarquizadas, as quais forjadas pela ideia de superioridade racial é o cerne do problema. Este estudo foi um desdobramento inicial para outras pesquisas, derivado do projeto “O processo de cuidar em saúde mental da criança/adolescente negro em CAPS infantil”, cujos produtos da primeira etapa foram publicados em Caderno de Texto intitulado "Atenção Psicossocial a crianças e adolescentes negros no SUS" e "Relatório Técnico do Diálogo Deliberativo - O Processo de cuidar em Saúde Mental da Criança e do Adolescente negro usuário de CAPSij.