INTRODUÇÃO:
A influência dos Determinantes Sociais de Saúde (DSS) para o processo saúde-doença é uma condição que compromete a qualidade de vida dos indivíduos, isso ocorre, sobretudo pois esses propiciam meios que a população se encontra suscetível ao desenvolvimento de patologias.
A Doença de Chagas (DC) é considerada uma Doença Tropical Negligenciada (DTN), a qual configura-se como um relevante problema de saúde pública, uma vez que apresenta elevados índices de morbimortalidade em diferentes estados do território brasileiro. Dessa forma, ela reflete inúmeras vulnerabilidades do contexto social, bem como dificuldade de acesso aos serviços de saúde, precárias condições de moradia, baixos níveis de escolaridade, escassez de saneamento básico, aspectos socioambientais, econômicos, dentre outros DSS.
Além disso, é crucial pontuar que os aspectos socioambientais como condições de moradia corroboram para a incidência de casos de DC na população. Isso se deve pelas características ambientais e de saneamento básico nas residências, bem como localização próximo a matas, e construções feitas com pau a pique, em que podem favorecer a ocorrência de reservatórios dos tripanossomíneos, vetores da patologia.
O potencial de impacto dos fatores condicionantes da DC torna o cenário da patologia ainda mais preocupante, uma vez que essas desigualdades modulam os serviços de atenção à saúde, propiciando para a perpetuação de toda negligência acerca da Doença de Chagas, além de restringir uma evolução de melhora no prognóstico da enfermidade.
É imprescindível pontuar a respeito da fragilidade na qual uma extensa parcela da população encontra-se exposta, o que se caracteriza como um fator que dificulta a efetivação de medidas preventivas, diagnósticas e de tratamento para a doença de Chagas. Dessa maneira, essa condição de vulnerabilidade torna-se um maior percussor para aumento das taxas de complicações clínicas e de morbimortalidade.
Portanto, analisar os fatores causais e de consequência da Doença de Chagas é crucial para desenvolver ações de resolutividade dessa problemática. Logo, o estudo tem por objetivo analisar os aspectos socioambientais e clínicos da incidência de DC na contemporaneidade. Assim, os achados da atual pesquisa possibilitarão evidências de suma importância para a promoção à qualidade de vida da população, logo, servirão como base para intervenções e políticas públicas de vigilância contínua e sistemática para prevenção e controle do vetor.
METODOLOGIA
O estudo realizado foi do tipo quantitativo exploratório, o qual foi investigado entre novembro do ano 2018 a junho do ano 2019 no município de Malhada, território do Centro Sul da Bahia, com 15.398 habitantes. Para realização deste, foi considerando um erro amostral de 5%, e um nível de confiança de 99%, o tamanho da amostra foi de 183 indivíduos.
Para a coleta de informações foi utilizado um questionário semiestruturado, em que investigou homens e mulheres acima de 18 anos, residentes do município de Malhada, que foram diagnosticados com Doença de Chagas, os quais realizavam acompanhamento médico no Hospital Municipal ou cadastrados na Estratégia Saúde da Família com a Doença de Chagas, que tinham casos agudos e crônicos.
Para obtenção dos dados estudantes do curso de enfermagem e professores da área da saúde, foram até as residências dos entrevistados. Além disso, para localização dos portadores da patologia, eles contaram com o auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde da localidade.
O formulário semiestruturado para pesquisa contou com perguntas relacionadas ao perfil socioambiental, sociodemográfico, hábitos de vida e dados clínicos dos indivíduos diagnosticados com a Doença de Chagas. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Guanambi, sob o protocolo CAAE 73169517.3.0000.8068. Assim, todos os participantes estavam cientes do objetivo do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Espontâneo.
RESULTADOS:
O quantitativo de indivíduos que participaram do estudo foi de 183, em que a maior parcela era mulher (53,8%) e tinham entre 40 a 59 anos. Além disso moravam na zona rural (63,6%); residiam com a família (94,0%); tinham renda inferior a 1 salário-mínimo (51,6%); e 90,8% obtiveram até 08 anos de escolaridade.
A respeito dos hábitos de estilo de vida 96,7% não realizavam nenhum tipo de atividade física; não participavam de nenhum grupo de educação (98,9%); eram tabagistas (16,3%); não apresentaram diminuição da ingestão alimentar (77,6%); tinham índice de massa corporal ? 23 kg/m2 (74,9%); e estavam normais de acordo com a triagem nutricional (54,1%).
Relacionado a história socioambiental, uma extensa parcela da população analisada morava perto de matas (76,0%); não possuíam acesso a saneamento básico (78,7%); tinham acesso a água encanada (64,2%); armazenavam água em caixa (65,5%).
Sobre a história clínica da DC, apresentavam sinais e sintomas da DC (65,9%), possuíam a forma indeterminada da patologia (77,6%); apresentavam a forma cardíaca da doença (64,2%); tinham alterações cardíacas (62,3%); apresentavam alterações digestivas (58,4%); já foram hospitalizados (63,4%); não foram hospitalizados (36,6%); usavam medicamentos (62,5%); não usavam medicamentos (83,3%); já haviam feito cirurgias (58,4%); apresentaram quadro de astenia (55,9%).
CONSIDERÇÕES FINAIS
Portanto, conclui-se que os resultados adquiridos no presente estudo revelam um cenário de apreensão no âmbito da saúde pública no Brasil. Assim, esses resultados realçam a necessidade de ações preventivas acerca da Doença de Chagas. Nessa perspectiva, os dados obtidos evidenciaram tal condição, uma vez que uma expressiva parcela dos portadores da DC possuía nível baixo de escolaridade, o que contribui para a dificuldade da obtenção de informações a respeito dos fatores de risco para a propagação do vetor.
Outrossim, é importante destacar que a Doença de Chagas escancara uma mazela da sociedade brasileira, em que é imprescindível a percepção de olhar amplo acerca da DC, sobretudo no âmbito epidemiológico, entomatológico e social da patologia. Assim, o erradicar a negligência dos aspectos condicionantes da DC culminará no melhor prognóstico da doença, bem como na qualidade de vida, pois possibilitará a diminuição dos riscos.
Por fim, esse trabalho reforça a crucialidade de tratar da Doença de Chagas não apenas como uma condição clínica e biológica de saúde, mas encará-la como um reflexo social, visto que as variáveis observadas na pesquisa constatam essa interdependência com a condição de saúde do paciente. Desse modo, anseia-se que, esse diagnóstico situacional da doença de Chagas (DC), contribua para efetivação de políticas públicas que atenuem tal cenário.