POVOS TRADICIONAIS, SAÚDE MENTAL E A BUSCA PELO BEM VIVER NO ENSINO SUPERIOR

  • Author
  • Salatiel da Conceição Luz Carneiro
  • Co-authors
  • Adelson Lopes Monteiro Junior , Samira cindi Mesquita Nunes , José Armando Oliveira Maciel , João Pedro da Rocha Caldas , Katiane do Espírito Santo Barbosa , Rafaella Espíndola de Andrade , Emilly Christina Damasceno de Almeida , Karol Veiga Cabral
  • Abstract
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    O presente trabalho parte de uma pesquisa guarda-chuva intitulada O mal estar no laço social e a busca pelo bem viver desenvolvida na Universidade Federal do Pará desde agosto de 2023, sendo que neste escrito vamos dar ênfase a narrativa dos povos tradicionais. Sabe-se que a vida acadêmica é repleta de desafios e pressões, e os estudantes universitários por vezes precisam de ajuda pois, enfrentam uma série de demandas de forma simultânea. A pressão para um desempenho acadêmico de excelência, a necessidade de conciliar a vida pessoal, os estudos, o trabalho, a mudança repentina de cidade ou estado, a dificuldade em manter as médias altas e a adaptação a uma nova realidade, além disso, a separação abrupta dos familiares e amigos, estão entre os principais desafios relatados por estudantes universitários que adentram no ensino superior por meio dos processos seletivos especiais e pelo sistema de cotas. Essas pressões abalam o psicológico e aumentam as chances de sofrimento psíquico, elevando os níveis de estresse e ansiedade, gerando no discente a sensação de incapacidade, favorecendo o esgotamento físico e a até a depressão. A saúde mental e o bem estar no ensino superior são temáticas de extrema importância, devem ser uma preocupação coletiva e merecem a atenção da comunidade acadêmica de modo geral, técnicos, professores e alunos. É fundamental que as instituições de ensino superior atentem para essa nova realidade e ofereçam aos seus discentes uma ampla rede de apoio adequada às necessidades, por meio da disponibilização de serviços de auxílio, bolsas de pesquisa, grupos de aconselhamento psicológico, promoção de ações de conscientização sobre saúde mental, criação de ambientes acolhedores, seguros e inclusivos para toda a comunidade acadêmica. A pesquisa utilizando as rodas de conversa têm se mostrado eficiente, ao agrupar diferentes grupos de pessoas que buscam juntos evitar o adoecimento mental e preservar o bem estar e a busca pelo bem viver no ensino superior. Assim, este trabalho objetiva discorrer sobre sofrimento e a pressão psicológica de estudantes oriundos dos povos tradicionais que adentram no ensino superior, mas também suas estratégias de enfrentamento e possíveis redes de apoio. Entender a busca pelo bem viver no ensino superior requer flexibilidade e adaptação às mudanças, tanto do acadêmico, quanto da própria instituição de ensino superior. Se por um lado o acadêmico precisa estar aberto a oportunidades e vivenciar tudo o que a universidade possa lhe oferecer, por outro a universidade precisa oferecer serviços diversos que atendam as demandas de sua população, considerando as suas especificidades. Entretanto, mesmo com toda gama de estratégia não há como negar que o adoecimento psíquico é uma realidade, haja vista que a pressão para ser o melhor, ter notas excelentes, produzir, pesquisar, publicar artigos, preencher o currículo Lattes é assustador e faz com que o discente saia de sua zona de conforto. Atrelado a essa sede desenfreada por produções acadêmicas, é nesse momento que muitos desses estudantes perdem seu maior suporte emocional, a família e os amigos, sobretudo aqueles oriundos dos povos tradicionais como: indígenas, quilombolas e ribeirinhos que precisam sobreviver nas grandes metrópoles, longe do aconchego e carinho da família. Tendo de enfrentar a graduação sem uma rede de apoio, longe de sua cultura, saberes e costumes, tendo, muitas vezes que conviver com a pressão de ser o primeiro da família a entrar no ensino superior, com a necessidade de não desapontar as expectativas depositadas sobre si. Essa pressão por vezes os leva ao adoecimento psíquico, e neste momento as redes de apoio disponíveis são fundamentais para evitar o colapso nervoso, fortalecendo a saúde mental tão abalada. Na tentativa de evitar um surto, ou mesmo de jogar tudo para o alto e desistir da vida acadêmica e o tão sonhado curso superior, muitos optam por vivenciar experiências até então novas, buscando nas redes sociais, grupos de apoio mútuo, onde podem trocar experiências criando uma rede de apoio virtual, além disso, nesse momento as clínicas escolas de psicologia e os atendimentos nos plantões psicológicos são essenciais. Outros porém, optam por relembrar a família, a infância, se deliciar com pratos tópicos de seu povo e/ou lugar, praticar atividade física, cantar, dançar, visitar lugares, tudo isso como estratégias necessárias para evitar o adoecimento psíquico causado pela pressão no ensino superior. Nesse momento a proatividade dos estudantes também é fundamental para preservar sua saúde mental. Isso envolve buscar equilíbrio entre os estudos e outras atividades, praticar exercícios físicos, ter uma alimentação saudável, estabelecer uma rotina de sono adequada e buscar apoio de amigos. Assim, todo autocuidado é um ato de coragem. O fortalecimento de vínculos é necessário e ajuda a contornar as adversidades que possam surgir ao longo do percurso acadêmico. Por se tratar de um momento de transição, crescimento pessoal, descobertas e autodesenvolvimento, tudo precisa ser buscando para manter o equilíbrio entre a pressão da vida acadêmico e o bem estar. Durante os últimos anos, é possível observar um aumento significativo nos casos de ansiedade, depressão e outros transtornos mentais entre os estudantes universitários. Existem diversos fatores que contribuem para esse cenário preocupante. A pressão acadêmica, a competitividade, a sobrecarga de tarefas, a falta de suporte emocional e a transição para a vida adulta são apenas alguns exemplos. Além disso, a pandemia de COVID-19 trouxe desafios adicionais, como o isolamento social, a adaptação ao ensino remoto e a incerteza em relação ao futuro. A busca pelo bem viver no ensino superior, visa a compreensão de que não há saúde mental, se há esgotamento físico ou sofrimento psíquico, tampouco há produção se o corpo padece. É sabido que a busca por méritos acadêmicos é individual e traz consigo uma série de descobertas, pois moldam o futuro profissional, e é exatamente este o tipo de profissional que a sociedade capitalista busca. Porém o desenvolvimento da pesquisa está nos demonstrando que a busca pode ser coletiva, que um equilíbrio saudável entre a rotina acadêmica e a saúde física e mental, produção de ciência pode e deve ser uma produção mais coletivizada. Para preservar sua saúde psíquica, nessa perspectiva, é fundamental reconhecer a importância do lazer, do descanso e do autocuidado para recarregar as energias e manter-se firme em sua jornada rumo ao diploma, mas sem esquecer do bem viver, como justamente nos ensinam os povos tradicionais. É fundamental que as instituições de ensino superior implementem políticas e programas de apoio à saúde mental dos estudantes. Isso inclui a disponibilização de serviços de psicologia e acompanhamento psicoterapêutico, a promoção de atividades de bem-estar e autocuidado, a criação de espaços de diálogo e acolhimento, e a conscientização sobre a importância da saúde mental. Além disso, é necessário que haja mudança de cultura em relação ao ensino superior, onde o bem-estar dos estudantes seja valorizado tanto quanto o desempenho acadêmico. É preciso reconhecer que a saúde mental é parte fundamental do processo de aprendizagem e que o cuidado com ela é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes.

     

  • Keywords
  • Bem viver, Ensino superior, Saúde mental, Sofrimento, Povos tradicionais
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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