O presente trabalho relata uma experiência de estágio no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Bencrescer (CAPSi), em Londrina-PR, dispositivo de cuidado em saúde mental frente ao sofrimento psíquico e/ou abuso de substâncias vivenciado por crianças e adolescentes da região. Como objetivo, propôs-se narrar o caminho trilhado, através da arte e cultura, em direção à construção de vínculos em um grupo terapêutico de adolescentes no CAPSi, reafirmando a potência de práticas de cuidado coletivo no campo da saúde mental. Inicialmente, observou-se uma falta de interesse dos adolescentes pelas atividades propostas nos encontros, paralelo às demandas de vulnerabilidade e sofrimento psíquico. Sendo assim, possíveis intervenções coletivas foram articuladas pelos estagiários, junto aos supervisores, de modo a proporcionar o desenvolvimento de autonomia e socialização entre os adolescentes, além da promoção de um lugar de liberdade e confiança para expressarem suas vivências. Neste sentido, fundamentou-se inicialmente as propostas de trabalho nas elaborações de Vygotsky sobre Psicologia e Arte, baseadas na presentificação de afetos e processos subjetivos no decorrer de construções artísticas. Desta forma, os estagiários trabalharam junto ao grupo com oficinas de pinturas e colagem, na via de promover a criatividade e autonomia. Nesta via, diferentes ideias circularam pelo grupo, dentre elas destacou-se o interesse dos adolescentes pelo Role Playing Game (RPG), no qual os jogadores interpretam personagens de sua própria criação, assim como idealizam cenários e uma narrativa histórica, interagindo coletivamente para o desenvolvimento da jogatina. Logo, sugeriu-se a criação de um RPG junto aos adolescentes, proporcionando uma movimentação espontânea dos participantes pela responsabilização da construção do mapa, elaboração dos personagens etc. Ao todo, foram realizados cerca de 6 encontros, sendo o RPG fator de interação entre adolescentes e estagiários. Ressalta-se, o papel de um dos adolescentes — que ocupou a posição de mestre da partida, orientando cada jogador sobre a dinâmica do jogo a partir de um livro de Dungeons & Dragons — mostrou-se fundamental ao desenvolvimento acessível e contínuo do jogo. Consonantes, os processos artísticos de criação, ali implicados, acabaram por tangenciar a presentificação de elementos subjetivos significativos. Isto é, a arte possibilitou a produção material de elementos imaginários pensados pelo grupo, tais como personagens, fichas e mapas. Assim, considera-se que o RPG como operador terapêutico proporcionou a mediação da baixa implicação dos adolescentes nas atividades grupais, sendo evidente a presença ativa de todos durante os encontros. Concomitante ao engajamento dos participantes, institui-se redes de diálogo que possibilitaram o desenvolvimento de um espaço de experimentações de outras narrativas de mundo, reafirmando perspectivas de autonomia, liberdade e valorização da vida a partir de novas ideias e simbolizações emergentes. Em conclusão, compreende-se o desenvolvimento e a realização das atividades citadas enquanto potentes ferramentas de promoção de cuidado coletivo em saúde mental. Afirmando assim, a importância da construção de vínculos afetivos, viabilizando resultados relativos à reafirmação dos processos de socialização, autonomia e cidadania de crianças e adolescentes atendidas pelo CAPSi, não por uma concepção apenas curativa, mas sim pela via interseccional da atenção psicossocial em interface à expressão afetiva pela arte.