APRESENTAÇÃO: A educação é considerada uma forma facilitadora de libertação para o conhecimento ou ainda um instrumento de transformação social uma vez que deve expressar motivação dinâmica, a fim de criar e recriar o pensamento. O cuidado de enfermagem no processo de ensino aprendizagem, deve ser vivenciado por professores e alunos, uma vez que nesta vivência, ambos crescem e dão sentido às práticas de cuidado. A construção do conhecimento teórico e prático do cuidado de enfermagem está muito ligada à relação estabelecida entre professor e aluno, uma vez que esse conhecimento se construirá através da troca de saberes, habilidades, relações, experiências e vivências. Esses relacionamentos entre discente e docente somadas às teorias de enfermagem sobrepujam metodologias tradicionais e reducionistas, que nos dias atuais não são mais aceitas. Na atualidade, há o empenho em formar enfermeiros generalistas, humanizados, crítico-reflexivos, que tenham capacidade de atuar na educação, na gestão, na pesquisa, no atendimento interprofissional, no cuidado individual e também coletivo. Neste sentido, o estágio supervisionado é o momento o qual o acadêmico terá oportunidades diárias de estabelecer relação entre a teoria e a prática. Essas experiências viabilizam o desenvolvimento do olhar crítico reflexivo do acadêmico de enfermagem durante as demandas em campo de estágio, além de adquirir autonomia frente às realidades das unidades. Neste cenário, o processo de educar para o cuidado é tarefa complexa, é mais do que o desenvolvimento de destrezas, o papel do educador neste caso é criar possibilidades, envolvendo relação, respeito, ética, reconhecimento do outro e de si mesmo. O desafio de ensinar o cuidado aos futuros profissionais de enfermagem é mais que passar o conhecimento, é proporcionar ao aluno a própria vivência de cuidar, ser cuidado e cuidar-se, configurando-se no ciclo de preservação da vida que se dá em todo o processo de viver do ser humano. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência acerca das vivências no processo de ensino focado na graduação de autonomia de 6 acadêmicos, sendo orientados por uma preceptora no decorrer do estágio supervisionado em saúde coletiva durante o último período do curso de enfermagem de uma universidade pública localizada no interior do Estado do Pará. RESULTADOS: A experiência ocorreu em uma unidade básica de saúde localizada em um município no interior do Pará durante o primeiro semestre do ano de 2024. Quando o décimo semestre do curso de enfermagem inicia, é supostamente esperado que os acadêmicos dominem todo o conteúdo que outrora foi visto em sala de aula e em estágios prévios. Porém, a realidade é que os alunos em meio ao processo de fim de graduação, mesmo com certa bagagem de conhecimento, ainda se encontram inseguros para lidar com a dinâmica de atendimento e suprir toda a necessidade de pacientes que se apresentam perante eles. E foi assim, que os acadêmicos se apresentaram, ainda que tenham quase transcorridos cinco anos de estudos e experiências, obviamente muitas situações pelos acadêmicos não foram vistas e técnicas não foram totalmente dominadas, o que demonstra a importância do estágio supervisionado com o benefício da prática diária a fim de que o acadêmico aos poucos adquira a autonomia e segurança necessária para o exercício da profissão de enfermagem. Neste sentido, o presente relato tem o intuito de frisar o acompanhamento dos acadêmicos com gradual liberdade para o atendimento totalmente dirigido por eles. Inicialmente, havia insegurança em algumas falas, algumas técnicas ainda sem a maturidade necessária. A preceptora por algumas vezes conduziu consultas de enfermagem a fim de que os acadêmicos acompanhassem o roteiro e observassem a conduta a ser realizada. O estágio supervisionado começou com pouca demanda na Unidade Básica de Saúde, alguns atendimentos de pré-natal, algumas coletas de preventivo do câncer do colo do útero e algumas verificações de glicemia. Como a demanda estava baixa, o grupo inteiro acompanhava as primeiras consultas e realizava-se rodízio entre os acadêmicos que conduziam as consultas. Ainda surgiam muitos questionamentos acerca das condutas: “tenho que pedir ultrassom?”; “a gente pode prescrever sulfato ferroso/ácido fólico?”; “Qual o tamanho de espéculo eu uso, professora?”; “podemos prescrever uma pomada vaginal para essa paciente?”; e assim por diante, as dúvidas no atendimento iam surgindo. As duas primeiras semanas, a preceptora obviamente sanava as dúvidas que apareciam, porém utilizou o período majoritariamente para observar como estava o entendimento prévio dos acadêmicos acerca do manejo dos atendimentos em enfermagem nas diversas esferas do nível primário de atenção em saúde: pré-natal, coleta de preventivo, práticas e normativas do Programa de Aleitamento Materno Exclusivo (PROAME), consultas de enfermagem às doenças crônicas e infecciosas, e etc. Após duas semanas de maior observação, iniciou-se a fase de adequação de condutas. De forma respeitosa, a preceptora buscava reunir o grupo e dar orientações diárias sobre como gostaria de ver a conduta em relação aos atendimentos. Como por exemplo, orientou aos períodos corretos do uso de ácido fólico e sulfato ferroso para gestantes; orientou sobre a conduta de solicitação de ultrassom obstétrica, bem como ultrassom de translucência nucal para investigação de má formação e síndromes a serem realizadas no período gestacional de 11 a 14 semanas; orientou sobre a importância de nunca esquecer de orientar a gestante em reta final de gestação sobre a importância da amamentação exclusiva e sinais de parto. Assim como orientações de roteiro e técnica correta acerca da coleta do preventivo do câncer de colo de útero; do atendimento de inscrição e consultas subsequentes do PROAME; roteiro para consulta de enfermagem à pacientes com suspeita de dengue; roteiro de consultas domiciliares e muitas outras atribuições pertinentes da atuação de enfermagem no contexto da atenção básica. Com o passar do tempo, os acadêmicos passaram a atender em duplas, e a preceptora de estágio passou a interferir menos nos atendimentos dos alunos, dialogando apenas com o necessário quando surgia alguma dúvida. Assim, os acadêmicos foram gradualmente adquirindo segurança no atendimento, muitas vezes demonstrando proatividade quando alguma demanda chegava na unidade e a preceptora estava acompanhando outra dupla. Assim, os acadêmicos atingiram a meta de seguir um roteiro lógico e bem estruturado nas consultas de enfermagem, com técnicas seguras, com pensamento crítico-reflexivo que muitas vezes durante o estágio resultou em debates pertinentes, incluindo interação interprofissional, contribuindo com outros profissionais na unidade referente ao conhecimento e segurança técnica adquirida durante a vivência do estágio supervisionado de saúde coletiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O processo de educar para a prática da enfermagem é complexo, deve-se orientar para o cuidado, para o respeito, para a escuta qualificada, para a humanização, neste sentido é imprescindível a visão holística frente aos acadêmicos, observando e trabalhando suas dificuldades a fim de fortalece-los, bem como realizar um ensino respeitoso que evidencia os pontos fortes de cada indivíduo a fim de potencializá-lo não só como futuro profissional, mas também como um ser humano que cuida de outro.