Apresentação: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) foi desenvolvida pela Área Técnica de Saúde da Mulher e implementada pelo Ministério da Saúde devido à demanda de diretrizes técnico-políticas que favoreçam suporte e garantam o atendimento à população feminina brasileira. A PNAISM busca garantir o acesso à saúde e o respeito às diretrizes do Sistema Único de Saúde e tem como principal objetivo a promoção da saúde integral. A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendimento à mulher a partir de uma percepção ampliada de seu contexto, do momento em que apresenta determinada demanda, assim como de sua singularidade e do empoderamento e responsabilidade de escolhas. Desta forma, busca-se consolidar os avanços no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, atenção obstétrica, violência doméstica e sexual e condições crônicas não transmissíveis. Para isso torna-se necessário adequar a rede de saúde a esta realidade e, no âmbito do SUS, avanços na atenção são necessários, principalmente em áreas de especialidade como a fisioterapia na saúde da mulher. A Extensão Universitária com a indissociabilidade do processo educacional, cultural e científico estimula o desenvolvimento do Ensino e a Pesquisa. É nesse contexto que foi desenvolvido o projeto de Extensão Saúde para TODAS, baseado nas políticas públicas de saúde da mulheres e de extensão universitária, tendo a promoção da atenção integral à saúde da mulher em todos os ciclos vital, garantindo a resolubilidade das demandas e o respeito pelas usuárias. Logo, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência de elaboração coletiva na interação entre ensino e serviço de saúde, no contexto de um projeto de extensão voltado à Atenção Integral à Saúde da Mulher, intitulado Saúde para TODAS-UFCSPA, que ocorre juntamente ao Ambulatório de Reabilitação do Centro de Saúde IAPI, localizado na cidade de Porto Alegre–RS.
Desenvolvimento: Este é um relato de experiência sobre o Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher (TODAS), que aborda diversas ações voltadas para a promoção da Saúde da Mulher, incluindo atendimentos individuais e em grupo com foco em educação em saúde e atendimento de complicações físico-funcionais. As mulheres foram encaminhadas ao projeto pelos profissionais na Atenção Primária em Saúde e os atendimentos foram conduzidos por servidores do município e acadêmicos e docentes da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. As consultas individuais tiveram duração de ~50 minutos e, para garantir uma avaliação eficaz e permitir reprodutibilidade, no primeiro encontro foram realizadas anamnese, avaliações físico-funcionais e aplicação de questionários padronizados, como o Questionário de Consulta Internacional sobre Incontinência (ICIQ-SF) e a escala PERFECT. Para o tratamento, foi utilizado recursos e técnicas fisioterapêuticas conforme a individualidade das mulheres, visando uma melhora dos sintomas urinários, evacuatórios, sexuais ou de restrição de mobilidade articular/redução de dor nas mulheres após o tratamento de câncer de mama, além de conduzir o plano de tratamento de acordo com as queixas relatadas, utilizando os pilares da prática baseada em evidência, com uma abordagem dentro do modelo biopsicossocial, utilizando como base a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF). Além disso, a partir das limitações de atividade e participação identificadas na avaliação pelo uso da CIF, o plano terapêutico incluiu um foco na reinserção das usuárias em suas ocupações e atividades de vida diária (AVDs) para ganho de funcionalidade e manutenção do seu bem-estar social. Para tal, reavaliações periódicas foram realizadas. Os atendimentos em grupo foram realizados semanalmente, após pré-avaliação das mulheres, em um espaço de participação ativa respeitando a bidirecionalidade entre o conhecimento acadêmico e popular com o objetivo de fortalecer o vínculo entre comunidade e profissionais da saúde, abordando temáticas relevantes à saúde íntima e da mulher como função urinária, evacuatória e sexual, manejo de pressão intra-abdominal, alimentação saudável e atividade física, bem como a prática de exercícios específicos relacionados com as demandas do grupo. Além disso, para conceder maior direcionamento à atenção primária e suprir as demandas da comunidade foram implementadas ações de educação em saúde da mulher em salas de espera, ampliando o conhecimento da população sobre as especificidades da saúde feminina.
Resultados: Cerca de 20 mulheres com distúrbios relacionados ao assoalho pélvico e/ou em fase pós-operatória de câncer de mama foram atendidas semanalmente no Ambulatório de Reabilitação entre abril e julho de 2023, totalizando 240 atendimentos. Das 20 mulheres, 30% apresentavam incontinência urinária mista, 20% de esforço e 10% de urgência, sendo que as demais consistiam em bexiga hiperativa e hipoativa, incontinência anal e prolapso anterior de grau 1, 2 e 3. A faixa etária das pacientes atendidas variou entre 35 e 84 anos, sendo que a maioria se encontrava na faixa dos 60 anos. Em relação às avaliações físico-funcionais do sistema urinário, 84,6% das pacientes apresentavam noctúria, necessitando levantar-se mais de duas vezes durante a noite para urinar; 7,7% apresentavam esforço miccional; 23,1% tinham enurese noturna; 69,2% urgência miccional; 84,6 perdas urinárias e 30,8% gotejamento pós-miccional. Enquanto da parte do sistema digestivo, 30,8% apresentavam constipação, 23,1% apresentavam incontinência de flatos e necessitavam de manobras especiais para evacuar. Sobre o ICIQ-SF, 66,6% das pacientes perdiam urina pelo menos uma vez por semana e 83,3% tiveram uma pequena quantidade de perda urinária, sendo que a perda de urina impactava 5 (66,6%) em uma escala de 0-10. Já a escala PERFECT auxiliou na análise e validação das avaliações físico-funcionais com 38,5% das pacientes apresentando grau de força 2, 33,3% conseguindo sustentar até 10 segundos; 23,1% conseguindo realizar 3 repetições de contrações mantidas e em determinado tempo e 5 de repetições rápidas; por fim, somente 38,5% das pacientes conseguiam relaxar de maneira rápida e completa do assoalho pélvico. No que diz respeito à percepção das pacientes acerca da identificação dos sintomas desde o início destes, 38,5% relataram melhora e 30,8% que permaneceram iguais ou pioraram.
Considerações finais: A Extensão é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. Neste projeto, há uma interlocução entre a educação, o serviço e a comunidade. No ensino, a graduação na sua matriz curricular com disciplinas como Fisioterapia Pélvica e Fisioterapia para a Saúde da Mulher promove o ensino e pesquisas dando suporte ao desenvolvimento do projeto. Enquanto o serviço, levando em conta demandas do local, possibilitou a execução do projeto e atuou em consonância com a gestão universitária, que apoia o projeto com apoio financeiro, e a gestão da Coordenadoria Norte, que implementa e auxilia no fluxo do atendimento, garantindo que os aprendizados no desenvolvimento do projeto e atende às demandas levantadas pela comunidade. Assim, a implementação do projeto Saúde para TODAS gerou maior fortalecimento entre a rede com a atenção primária e a atenção especializada, especialmente de fisioterapia, focada na Atenção Integral à Saúde da Mulher. Dessa forma, qualificou-se o sistema de saúde e foram favorecidos o empoderamento e a melhor qualidade de vida para as mulheres do município.