O presente texto diz respeito a estratégias de atenção à crise, adotadas na gestão de um Centro de Atenção Psicossocial tipo II em Marituba, município da região metropolitana de Belém do Pará, no período em que atuei como coordenador da instituição, entre junho de 2022 e outubro de 2023. Tal produção, tem por objetivo relatar a experiência das estratégias adotadas na gestão do CAPS para atender situações de crise dos(as) usuários(as) que chegavam até o serviço. Desde que comecei a atuar no CAPS referido, como psicólogo da equipe multiprofissional, percebi a fragilidade e inoperância do equipamento no que tange ao cuidado de usuários(as) em crise, encaminhando-os(as) de imediato ao serviço de emergência psiquiátrica que funciona em somente um dos hospitais públicos de Belém e que de forma recorrente encontra-se com ocupação máxima, por isso, não recebe novas demandas, fazendo com que os(as) usuários(as) e suas famílias transitem pela rede e pelas cidades vizinhas sem conseguir atendimento. Dessa maneira, ao assumir a gestão, comecei a buscar estratégias para os atendimentos das situações de crise junto à equipe local e a rede de atenção psicossocial - RAPS do território, uma vez que, dada a realidade percebia-se um retrocesso quanto aos ideais da Reforma Psiquiátrica com relação ao CAPS, principalmente acerca dos objetivos deste em evitar as internações psiquiátricas. Uma das estratégias adotas foi recorrer ao Grupo de Trabalho de Políticas Públicas - GTPP, na época recém instituído no município, formado por gestores(as) e trabalhadores(as) de diversas secretarias municipais e que fora impulsionado pelo Ministério Público Estadual. Junto ao GTPP teceu-se a articulação de diversos serviços que até o momento aparentavam funcionar de forma independente, contudo ao funcionar em rede trouxe resultados mais eficazes, ampliando o acesso e a qualidade dos serviços. Ocorreram diversos estudos de casos coletivos, reuniões e articulações entre as secretarias de saúde, educação, assistência social, cultura e outras. Em alguns momentos, estes foram mediados pelo judiciário, todavia aos poucos esta rede foi tomando outras proporções e passando a funcionar de forma orgânica. Um fator observado nesses encontros fora que os(as) usuários(as) que mais demandavam atenção a crise, por vezes eram os que eram atendidos por mais de uma das políticas públicas, inclusive possuíam vínculos com diferentes profissionais destas. Assim, esta rede comprometeu-se em utilizar todos os recursos do território com vistas a atender as crises, dessa forma, quando o(a) usuário(a) em crise chegava a algum serviço, os demais eram acionados para proporcionar um cuidado coletivo e de responsabilidade compartilhada. O que se pode perceber após essa experiência foi uma diminuição de internações no serviço citado inicialmente, melhorias do cuidado no território, o que dispendia menos prejuízos aos usuários, como longas locomoções e processos burocráticos para acessar os serviços, inclusive, no período correlato pode-se zerar as demandas judiciais referentes a isto. Ademais, algumas limitações com relação a disponibilidade de agenda e locais para os encontros impediram que o GTPP continuasse, contudo, a rede que propiciou segue se articulando para atender as demandas do território, sejam elas de crises ou não.