Apresentação: O pré-natal abrange os cuidados necessários com as gestantes desde o acolhimento e acompanhamento até o parto. Essa atenção à saúde da gestante possui como objetivo propiciar a detecção e intervenção precoce às situações de risco, além de ser um momento de orientação e assistência às gestantes de acordo com suas necessidades através de ações educativas e preventivas. No entanto, apesar do aumento da assistência pré-natal dos últimos anos, ainda há lacunas na qualidade do serviço ofertado nas unidades de saúde, sendo uma dessas lacunas, o baixo índice de orientações quanto à amamentação. O Ministério da Saúde recomenda a amamentação até os 2 anos de idade ou mais, e aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida. Sendo assim, estudos já demonstraram a importância da amamentação para a mãe e para o bebê, trazendo como consequências da não amamentação o aumento da morbidade infantil, risco de obesidade, diabetes tipo I e leucemia, e, para as mães, está relacionado com aumento da incidência de câncer de mama e de ovário, retenção e ganho de peso gestacional, diabetes tipo II e síndrome metabólica. Além disso, as orientações recebidas no pré-natal são capazes de aumentar a taxa de amamentação e a sua duração. Portanto, isso demonstra que a amamentação é um fator importante para prevenir o risco de desenvolver problemas de saúde, sendo necessário implementar intervenções nas unidades de saúde a fim de aumentar a exclusividade e intensidade da amamentação. O objetivo deste trabalho é verificar a associação entre o tempo pretendido de amamentação e a orientação recebida durante o pré-natal entre puérperas assistidas por uma maternidade pública em Vitória-ES. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma pesquisa observacional, de corte transversal e abordagem quantitativa e descritiva. A amostra foi calculada a partir de cálculo amostral para diferentes prevalências é foi composta por 521 puérperas, assistidas pelas enfermarias do Sistema Único de Saúde – SUS da Maternidade Pró-Matre, localizada na cidade de Vitória-ES e referência regional para gestações de risco habitual. As puérperas foram entrevistadas presencialmente, por entrevistadoras previamente treinadas, no período entre agosto a dezembro de 2021. No momento da abordagem foi explicado às mulheres sobre os objetivos e procedimentos do estudo através da apresentação dos Termos de Consentimento/Assentimento Livre e Esclarecido – TCLE/TALE e após assinatura deste/s, foi dado seguimento com as entrevistas. As mulheres foram selecionadas de forma aleatória simples, adotando os seguintes critérios de inclusão: puérperas com no mínimo 24 horas de pós-parto, independente da via e da faixa etária, que estavam sob assistência nas enfermarias do SUS da maternidade em estudo e que aceitaram participar da pesquisa mediante assinatura do TCLE/TALE. Foi feita a exclusão de puérperas com déficits cognitivos ou outras deficiências que a impediram de entender e/ou responder adequadamente aos questionamentos do estudo. Durante a entrevista as puérperas foram questionadas sobre o tempo pretendido de amamentação da seguinte forma: “A senhora pretende amamentar o bebê?” nos casos de resposta afirmativa, seguiu-se ao questionamento: “Por quanto tempo, em meses, a senhora pretende amamentar o bebê?”, as respostas foram categorizadas em: até 6 meses; de 7 a 18 meses; mais de 19 meses. Com relação às orientações recebidas durante o pré-natal, o questionamento foi: “durante a gestação, nas consultas de pré-natal, a senhora foi orientada por algum profissional de saúde sobre a importância da amamentação para o bebê?”, as respostas foram categorizadas em: sim ou não. Os dados coletados foram tabulados em planilha do Software Microsoft Excel analisados de forma descritiva e inferencial através do programa IBM SPSS Statistics (Statistical Package for the Social Sciences) versão 27. Foram aplicados os testes Qui-quadrado ou Exato de Fisher (quando uma ou mais frequências esperadas foram inferiores a cinco), e reportados através de frequências absolutas e relativas. Foi adotado um nível de significância de p < 0.05. Este projeto foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, sob parecer de número 4.734.133. E em todas as etapas da pesquisa foram respeitadas as normas estabelecidas nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da resolução 466/12. Resultados: Considerando o total de puérperas entrevistas (n=512) em um período de 5 meses em uma maternidade de Vitória-RS, 214 relataram a pretensão de amamentar até os 6 meses de idade, sendo que destas, apenas 38,3% receberam orientações quanto à amamentação durante o pré-natal. O tempo de 7 a 18 meses foi pretendido por 160 puérperas, e destas, 42,5% receberam orientação durante as consultas. Por fim, uma quantidade menor de puérperas relataram a pretensão de amamentar por um período superior a 19 meses, sendo 128 mulheres, e destas, 52,3% receberam orientações quanto à amamentação. A partir da análise estatística, observou-se uma diferença estatisticamente significante entre os tempos pretendidos de amamentação (p=0,040), onde o grupo que recebeu mais orientação durante a gestação se mostraram mais propensas a amamentar por mais tempo. Além disso, é importante salientar que cerca de 42% das mulheres entrevistadas optaram por amamentar apenas até os 6 meses de idade, no entanto, o Ministério da Saúde orienta que a amamentação seja exclusiva até os 6 meses mas se mantenha até no mínimo os 2 anos de idade da criança, esse resultado pode ter relação com a precariedade nas orientações fornecidas para as gestantes nas consultas de pré-natal. Diversos estudos demonstram o aumento no tempo e exclusividade da amamentação quando as gestantes recebem aconselhamento durante o pré e pós-natal, sejam por visitas domiciliares, consultas individuais, em grupos ou por ligações. Além disso, quando orientados sobre os benefícios da amamentação para a mãe e para o bebê os resultados são mais eficazes. Por isso, alguns países, entre eles o Brasil, já começaram a desenvolver protocolos para estimular a amamentação, a partir das ESFs que são as portas de entrada dos serviços de saúde e o local onde as gestantes são acolhidas durante todo o período gravídico. Considerações finais: Portanto, demonstramos que mais da metade das puérperas entrevistadas não receberam orientações quanto a amamentação, o que enfatiza que apesar da ampliação do acesso à assistência pré-natal, a qualidade dos serviços ofertados ainda necessita de melhorias, principalmente em relação às orientações fornecidas para as gestantes, visto que a maioria tinha com pretensão amamentar apenas até os 6 meses de idade.